O artista plástico cearense Eduardo Pamplona deixou um legado em mais de 500 obras espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Em Fortaleza, um dos mais belos trabalhos do artista que completa centenário neste ano está localizado no santuário arquidiocesano de adoração, na paróquia de São Benedito, no bairro Centro. O mosaico feito de pastilhas de porcelana retrata parte do litoral cearense com suas jangadas.
Admirador das obras de Pamplona, que também foi dentista, professor, calculista e músico, o jornalista Frederico Fontenele afirma que, além do mural deixado na Paróquia de São Benedito, outros dois trabalhos do artista merecem grande destaque.
"Existe um grande mural dele exposto na Companhia Docas, no Cais do Porto, e outro marco é o mural da 'escrava libertada', em Redenção", destaca. A obra localizada em Redenção é carregada de significado, pois o município foi pioneiro na abolição de negros escravizados no Brasil.
Nascido em 1922, Pamplona faleceu em 1991, mas o legado dele, até hoje, é lembrado pela família. Além da Capital cearense e de Redenção, as obras de Eduardo podem ser encontradas em cidades como Brasília e Recife, além de municípios cearenses como Canindé e São Gonçalo do Amarante.
"A maior herança que levamos é a união da família. Em relação à arte, também sentimos muito orgulho, não tem como não sentir. Deixou a herança da arte para os filhos e netos", relata Eduanir Pamplona, filha de Eduardo.
Trinta anos após a morte do artista, parte das obras já não existe, é o que conta a outra filha de Eduardo, Leilá Pamplona. "Vejo que muitas vezes não valorizam. Lembro de um dos painéis na avenida Bezerra de Menezes. Passei bem na hora que estavam detonando, aquilo me doeu", afirma Leilá.
De acordo com a filha, o mosaico localizado na Bezerra de Menezes não foi a única baixa. Obras deixadas na Praça Portugal, na Igreja do Coração de Jesus e no colégio Santo Inácio já não existem mais.
Leilá Pamplona ainda carrega consigo outra tristeza relacionada às obras do pai. Ela conta que possuía um livro onde guardava fotos de todos os painéis elaborados por ele, mas que foi enganada por um homem que alegou interesse em expor as obras de Eduardo, há cerca de 20 anos.
"Eu não gosto nem de me lembrar disso. Este homem, de Recife, queria fazer propaganda das obras de papai, pediu as fotos e nunca mais devolveu", lamenta.
Questionada sobre o futuro e se alguém da família ainda teria condições de zelar pelas obras deixadas por Eduardo, Leilá mostra não ter grandes expectativas. "Ninguém foi para esse lado do pai. As filhas foram para a Odontologia, meu irmão ainda chegou a fazer uma obra, mas também seguiu outros caminhos", relata.
De acordo com Regina Fiúza, diretora da Academia Cearense de Letras e sobrinha de Eduardo Pamplona, a família sempre possuiu uma ligação intrínseca com a arte. Ela exalta o trabalho realizado pelo pai e pelos tios dela.
"Meu pai, Carlos Pamplona, era médico e excelente pintor. Já o Paulo Pamplona é outro grande pintor, que fez muito sucesso no Rio de Janeiro. O Luciano Pamplona era um desenhista maravilhoso, mas não enveredou para as artes plásticas."
Regina destaca que Eduardo, Carlos e Paulo ficaram conhecidos como os "irmãos Pamplona" e fizeram parte da Sociedade Cearense de Arte Plásticas (SCAP). "Juntos, eles criaram a Escola de Belas Artes em Fortaleza. Muita gente não sabe disso, vários artistas foram alunos de lá".
Conforme os trabalhos de Eduardo ganhavam notoriedade, as obras dos artistas se difundiam no Estado. Além de espaços públicos, o trabalho em pastilhas passou a ser requisitado por pessoas que buscavam homenagear outros familiares.
Fiúza não tem dúvidas que o viés artístico é um dos principais legados geracionais. "Está no sangue. Somos muito ligados à arte e cultura, graças a Deus. Fomos criadas nesse ambiente, é uma herança muito boa", finaliza.