Nos últimos dias, o Ceará tem registrado aumento significativo de casos confirmados de monkeypox. São 247 pacientes com a doença, conforme o painel de monitoramento do IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Na última sexta-feira, 16, eram 146 casos. Foram cerca de 100 novos casos em uma semana. A pasta informa que "o aumento de casos se refere ao acúmulo de dados desde o dia 15".
A epidemiologista Lígia Kerr, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina Coletiva (Abrasco), alerta para a importância do isolamento de casos suspeitos, bem como do diagnóstico precoce.
"É importante que as pessoas que tenham qualquer suspeita se isolem e procurem assistência médica. O isolamento é importante. Nesse momento, é preciso tomar mais cuidados", diz. Kerr avalia que o número grande de novos casos "pode representar que os pacientes estivessem circulando, não procuraram o atendimento a tempo ou não tinha sido confirmado ainda".
Ela frisa também que "muitos casos estão tendo aparência distinta do que costumava a aparentar". "Os médicos precisam estar atentos a isso. Normalmente, apareciam lesões pelo corpo todo. Hoje, você pode ter uma lesão na mão, no pé, na região sexual", detalha.
É possível observar aumento de casos em perfis diferentes do registro inicialmente (homens jovens), como mulheres e crianças. São 34 pacientes do sexo feminino, perfazendo 13,7% do total. Sete casos são em crianças de zero a nove anos. Dois pacientes têm mais de 60 anos.
A maior parcela de casos é entre 30 e 39 anos, com 93 casos (85 homens e oito mulheres). Esse grupo representa 37,6% dos casos totais. A segunda faixa etária com maior número de casos é dos 20 aos 29 anos, que soma 80 casos (70 homens e 10 mulheres).
A epidemiologista afirma a mudança no perfil de casos era algo bastante esperado. "A gente sabia que o perfil iria mudar porque, embora esteja sendo muito transmitida sexualmente, ela não é tradicionalmente reconhecida assim. É por contato pele a pele, contato físico, abraço. Não é considerada uma infecção sexualmente transmissível", acrescenta.
Ao todo, já são 1.063 notificações de casos suspeitos de monkeypox no Estado. Desse total, 514 já foram descartados após resultado laboratorial negativo e outros 280 ainda estão sob investigação. Conforme o painel, em quatro notificações os casos foram excluídos pois a "notificação não atende às definições de caso suspeito".
Outras 18 situações foram classificadas como "perda de seguimento". Esses são casos que atendem à definição de caso suspeito e aos seguintes critérios: não tenha registro de vínculo epidemiológico; não realizou coleta de exame laboratorial ou realizou coleta de exame laboratorial, mas a amostra foi inviável ou teve resultado inconclusivo; e não tem oportunidade de nova coleta de amostra laboratorial (30 dias após o início da apresentação de sinais e sintomas).
A maioria dos casos se concentra em Fortaleza, que tem 189 confirmações — 76,5% do total do Ceará. Além da Capital, outros 25 municípios também registram casos. Os maiores números de casos são em Maracanaú (8), Caucaia (5), Eusébio (5) e Itaitinga (4). Dois casos são de pacientes que residem em outros Estados: um do Piauí e um da Bahia.
ANS inclui exame para diagnóstico na cobertura dos planos de saúde
O teste para diagnóstico da monkeypox foi incluído pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) no rol de procedimentos que devem ter cobertura garantida por planos de saúde privados. A medida consta em uma nova resolução normativa aprovada na segunda-feira passada (19).
Conhecida internacionalmente como monkeypox, a varíola dos macacos é endêmica em regiões da África e se tornou uma preocupação sanitária devido a sua disseminação por diversos países desde maio. No Brasil, já são 7.019 casos e duas mortes, segundo dados divulgados nesta terça-feira,20, pelo Ministério da Saúde.
Conforme a resolução normativa, os planos deverão cobrir os testes dos beneficiários que apresentarem indicação médica. O exame é realizado a partir de amostras de fluidos coletados diretamente de lesões que se manifestam na pele, usando um swab [cotonete estéril] seco. As análises permitem detectar a presença do vírus que causa a doença.
Segundo nota divulgada pela ANS, a incorporação do teste faz parte do processo dinâmico de revisão do rol, que já foi modificado 12 vezes em 2022, garantindo a cobertura obrigatória de 11 procedimentos e 20 medicamentos.
No ano passado, foram aprovadas alterações no processo de atualização. Até então, a lista era renovada a cada 2 anos. Com a mudança, as propostas passaram a ser analisadas de forma contínua pela área técnica da ANS, que avalia critérios variados como os benefícios clínicos comprovados, o alinhamento às políticas nacionais de saúde e a relação entre custo e efetividade.
"A inclusão do exame complementar na lista de coberturas obrigatórias foi feita de forma extraordinária, diante do cenário da doença que, atualmente, põe o Brasil entre os seis países com o maior número de casos confirmados em todo o mundo", registra a nota divulgada pela ANS.
Há duas cepas conhecidas da doença. Uma delas, considerada mais perigosa por ter uma taxa de letalidade de até 10%, é endêmica na região da Bacia do Congo. A outra, que tem uma taxa de letalidade de 1% a 3%, é endêmica na África Ocidental e é a que tem sido detectada em outros países nesse surto atual. Ela produz geralmente quadros clínicos leves e é causada por um poxvírus do subgrupo orthopoxvírus, assim como ocorre por outras doenças como a cowpox e a varíola humana, erradicada no Brasil em 1980 após campanhas massivas de vacinação. (Da Agência Brasil)