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Relação com a comunidade escolar foi chave para manter índices no Ideb
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Relação com a comunidade escolar foi chave para manter índices no Ideb

Fortaleza superou metas projetadas para os anos iniciais e finais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021
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 ALUNOS da Escola Bergson 
Gurjão Farias: melhor aprendizado (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS  ALUNOS da Escola Bergson Gurjão Farias: melhor aprendizado

Trazer a comunidade de volta à rotina escolar e identificar lacunas para recompor os níveis de aprendizagem. Esses foram pontos de partida para o retorno ao ensino presencial. Os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2021 mostram que Fortaleza superou as metas projetadas pelo Ministério da Educação nos anos iniciais e finais.

Não obstante, para a Prefeitura, os índices serem considerados melhores do que o esperado ante ao desafio imposto pela pandemia, as dificuldades se somam a outras já conhecidas, como o ensino de matemática. 

Ainda há um caminho a ser percorrido para poder dizer que os impactos do ensino remoto e demais consequências da Covid-19 na aprendizagem ficaram para trás mesmo em nível global. O maior desafio é que esse objetivo seja alcançado no menor tempo possível, na perspectiva da secretária Municipal da Educação, Dalila Saldanha. 

"Um diagnóstico que nos dá rumos para melhorar e principalmente um cenário muito positivo. Não estamos no caos como a gente temia depois de tanto tempo dos estudantes fora do convívio e das metodologias necessárias para a aprendizagem ocorrer", afirma.

A Capital ficou em 5º lugar entre as capitais com a melhor média nos anos iniciais (do 1º ao 5º ano), mesmo posição de 2019. Nos anos finais (do 6º ao 9º ano), o município alcançou o 3º lugar, subindo uma posição em relação à última edição, quando ocupava o 4º lugar.

A avaliação de leitura e matemática teve médias gerais de 5,8 nos anos iniciais e 5,2 nos anos finais. as metas eram, respectivamente, 5,5 e 4,7. Em 2019, médias gerais foram de 6,2 nos anos iniciais — um decréscimo —  e 5,2 nos anos finais. 

Em relação às capitais do Nordeste, Fortaleza fica em 2º lugar, atrás apenas de Teresina. Saldanha frisa que "o diferencial é o método de gestão da atividade, a política".  "Nós não deixamos a escola fechar, garantimos o kit alimentação, o kit escolar, professores nas salas virtuais, no WhatsApp, demos os chips", completa.

A secretária destaca que a Educação já vinha de "uma política muito fortalecida de aprendizagem na idade certa" e continuou "uma mobilização com da comunidade.. "Isso foi pra casa. Como as estratégias dos professores, que passavam atividades via WhatsApp para os pais ou irmãos que podiam ler com as crianças, e elas gravavam a leitura em áudios e vídeos. E a professora conseguia identificar como a criança estava", exemplifica. 

Resultado vem na esteira do destaque do Ceará para na Educação. O Ceará tem 87 escolas públicas entre as 100 melhores do Brasil nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Mas lista não inclui nenhuma escola fortalezense. Isso porque, conforme a titular da SME, o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) foi implantado em Fortaleza posteriormente, em relação a outros municípios.

"Fortaleza em 6 anos atingiu muito mais do que os outros municípios que começaram a política do Paic em 2007. Fortaleza começou em 2013. Se Fortaleza tivesse começado junto, já estaríamos em patamares muito mais elevados. Não é questão de tamanho da rede, muito menos de vulnerabilidade", afirma Dalila Saldanha.

"Em 2012, Fortaleza estava no penúltimo lugar no ranking de alfabetização cearense. Já em 2015, Fortaleza já estava no palco das escolas nota 10", acrescenta.

Na experiência de Karynna Muniz, diretora da Escola Municipal Bergson Gurjão Farias, localizada no bairro Dom Lustosa, um dos maiores desafios do retorno foi a frequência do aluno. "Antes, as famílias já tinha compreendido a necessidade da frequência regular. Com o ensino remoto e, depois, o escalonamento, elas achavam que ainda dava pra continuar. Mas estamos quase chegando ao que era em 2019", lembra.

Outro ponto foi que afetou a dinâmica da comunidade escolar foi a rotina das crianças, que foi interrompida, diz ela, que é ex- coordenadora da Escola Municipal Santa Luzia, unidade que é 1° lugar de Fortaleza no Ideb. "Nada substitui a presença do professor em sala de aula", prioriza.

Como recuperar os níveis de aprendizagem de cada aluno

Eles aprenderam neste ano muito mais do que no período em que estiveram em casa. E os próprios alunos têm essa percepção. Apesar dos esforços para fazer as tarefas em casa e tirar dúvidas por WhatsApp, nada é igual a chamar o professor e compartilhar a dúvida, conversar com os colegas na mesma mesa. O ensino tem uma carga a mais e a gestão, estratégias específicas para recuperar o que foi perdido. 

Além de tudo, sentir-se parte, conhecer os amigos fez uma diferença enorme para Layde Vitoria, 11. Para Paloma Shirley, 11, o retorno demandou adaptação. "No começo, foi difícil para acostumar porque eu não saía muito de casa na quarentena e quando começou as aulas foi meio esquisito", diz.

Elas e o Elisaldo de Amorim, 10, estudam na mesma turma da Escola Municipal Bergson Gurjão Farias. Ele contava com a ajuda da mãe para tentar responder o que era passado. Em casa, o retorno ao professor era por meio de fotos das atividades enviadas por mensagem. A professora Eveline Pereira, que atua na mesma unidade, lembra que a movimentação para ensinar à distância foi intensa, um "trabalho difícil". 

"A gente não conseguiu atingir a todas as crianças. Muitas foram atingidas, mas o objetivo era 100%. Ficou essa lacuna. A realidade foi bastante cruel, como de algumas crianças que não têm nenhum celular para acompanhar as atividades", cita a professora. 

Dentre as estratégias para que a recomposição na aprendizagem ocorra no menor tempo possível esta a oferta de Tempo Integral, com mais de 100 mil estudantes de níveis críticos e muito críticos estudando também no contraturno escolar. 

Outra iniciativa de destaque é o projeto Alfa 1, 2, 3, lançado no primeiro semestre deste ano, que visa a consolidação do processo de alfabetização dos alunos dos anos iniciais. "Não podemos ir muito além porque o que ficou para trás não ficou consolidado, para que os alunos não fiquem com prejuízo", compartilha Eveline. 

Saiba mais: o que é o Ideb

O Ideb é considerado o principal indicador de qualidade da Educação brasileira para o monitoramento das escolas e das redes de ensino. A variação é de 0 a 10, sendo o 5 já considerado nível de qualidade para garantir a educação dos estudantes.

A aplicação da edição mais recente, em 2021, foi estruturada para manter a comparabilidade com as edições anteriores. Entretanto, o contexto educacional atípico imposto pela pandemia de Covid-19, que, para além do período de suspensão das atividades de ensino, levou boa parte das escolas a adotarem novas mediações de ensino e a reverem seus currículos e critérios, teve reflexos na avaliação.

 



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