Invasor e venenoso, um peixe-leão foi encontrado por mergulhadores pela primeira vez no mar de Fortaleza. O aparecimento da espécie, do gênero Pterois spp., ocorreu na sexta-feira passada, 4, na Reserva Ecológica do Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio. Conforme especialistas do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), o predador marinho já foi visto em quase todos os municípios litorâneos cearenses, mas sempre longe da costa.
A espécie conhecida popularmente como peixe-leão, peixe-dragão, peixe-peru, peixe-escorpião e peixe-pedra faz parte da variedade venenosa de peixes dos gêneros Pterois, Parapterois, Brachypterois, Ebosia ou Dendrochirus, da família Scorpaenidae.
Quanto à origem da espécie, o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) e pesquisador no programa Cientista-chefe da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap/Sema), Marcelo Soares, afirma: “O peixe-leão é uma espécie invasora e exótica, porque não é do Oceano Atlântico, mas sim do Oceano Pacífico. Ela teria invadido o Caribe e, recentemente, também teria invadido o Atlântico-sul, que é onde está a costa brasileira. Então, ela é uma espécie invasora - por não ser nativa - e capaz de causar danos ecológicos e socioeconômicos”.
A preocupação em torno da nova aparição do peixe-leão, portanto, são acerca do monitoramento da reprodução da espécie, que deve ser feito de forma controlada a fim de evitar prejuízos às demais espécies do local em que ele é encontrado. Segundo o professor doutor Tommaso Giarrizzo, do Labomar, os peixes nativos não reconhecem o peixe-leão como presa ou predador e, portanto, as suas populações crescem em forma assustadora.
“A principal ação para combater a invasão do peixe-leão é a sua captura e retirada, mas isso só é de fácil execução em ambientes de águas claras como do Caribe. Diferente do Nordeste do Brasil, onde a água nem sempre apresenta boas condições para realizar operações de mergulho, seja pelas chuvas concentradas no primeiro semestre do ano, seja pelos fortes ventos que prejudicam a navegação no segundo semestre”, destaca Tommaso.
Por ser um excelente invasor, o peixe-leão é capaz de se adaptar em diferentes condições ambientais em águas de temperaturas altas quanto baixas, com diferentes condições de salinidade, podendo tanto em locais rasos, entre um e dois metros, até profundidades superiores a 200 metros.
O grande sucesso da invasão é favorecido pelas características reprodutivas do peixe-leão. As fêmeas são aptas a se reproduzir com aproximadamente 17 cm de comprimento total (1 ano de idade) e liberam aproximadamente 25.000 ovos por desova. A reprodução, por sua vez, ocorre o ano todo, com evento de desova a cada dois ou três dias.
De acordo com o professor doutor Tommaso Giarrizzo, o primeiro registro de ocorrência do peixe-leão no Brasil foi a captura de dois indivíduos em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, em 2014, e novamente em 2016. Por não terem sido registradas novas ocorrências nesta localidade se supõe que a causa desta ocorrência foram liberações secundárias de aquários.
No entanto, desde 2020, espécimes de peixe-leão foram registrados em recifes profundos, isto é, de 30 a 100 metros de profundidade, na Costa Amazônica e no Arquipélago de Fernando de Noronha. “Nestas localidades foram capturados dezenas de peixes leão e, portanto, já se considera esta invasão preocupante uma vez que comprova que a população é estabelecida no Atlântico Sudoeste Tropical”, pontua o professor.
Já no Ceará, há registros de aparições da espécie em Icapuí, Fortim, Aracati, Jericoacoara, Acaraú, Iretama, Barroquinha, Bitupitá, Camocim, Cruz, São Gonçalo do Amarante e agora em Fortaleza.
Ao ser humano, o veneno do peixe-leão no corpo pode provocar sintomas de dor intensa, seguida de edema local. A vítima também pode sentir náuseas, tontura, fraqueza muscular, respiração ofegante e dor de cabeça. Em casos graves, pode haver convulsão.
O primeiro acidente no Brasil envolvendo o ataque do peixe-leão a uma pessoa foi registrado na praia de Bitupitá, no município cearense de Barroquinha, em 21 de abril deste ano. Na ocasião, o pescador Francisco Mauro da Costa, de 24 anos, foi atingido pelos espinhos do animal enquanto trabalhava em um curral de pesca.
Após o contato com o animal, o jovem precisou ser levado ao hospital do município de Camocim. Sobre os sintomas confirmados, Francisco Mauro sofreu edema e eritema no local, dor intensa, febre e convulsões.
Apesar dos sintomas, o professor e pesquisador Marcelo Soares destaca que não há risco aos banhistas. Isto porque a espécie fica em ambiente rochoso, de recifes e não de praias. No entanto, o maior risco que o peixe-leão apresenta é voltado aos pescadores e mergulhadores.
“A espécie não é encontrada em áreas de areia. O que se deve tomar cuidado, principalmente os pescadores, é na manipulação do animal, pois ele tem uma série de espinhos venenosos. Quando os pescadores encontram ele, eles têm que o manipular sem pegar nesses espinhos. O ideal, no labor diário, é usar equipamentos de proteção, tanto nos pés, quanto nas mãos”, concluiu Marcelo.