A proporção de pessoas pobres no Brasil, no ano de 2021, considerando a linha de pobreza monetária proposta pelo Banco Mundial, era de 18,6% entre os brancos e praticamente o dobro entre os pretos, sendo 34,5%, e entre os pardos, representando 38,4%. Os dados foi revelado a partir do estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira, 11.
Apesar das populações pretas e pardas representarem 9,1% e 47% da população brasileira, os indicadores mostram que a participação delas nos melhores níveis de condições de vida no país é baixo. A doutora em economia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Lilian Lopes, analisa que os indicadores ocorrem a partir de dois fatores.
“O primeiro deles é em relação à herança estrutural. Essas pessoas são descendentes de pessoas que foram escravizadas e ao longo dos séculos 19 e 20 não houve políticas públicas voltadas para corrigir essa diferença no tratamento e na renda entre pretos e brancos”, comenta.
Ainda segundo a economista, o segundo fator trata-se da discriminização. “Existem evidências que mostram que dentre todas as discriminações, seja de gênero, etnia, raça, religiosa, a discriminação racial é a que mais explica a questão da concentração de renda”, disse Lilian.
A pesquisa do IBGE considerou a taxa de pobreza na linha de U$$ 5,50 diários (ou R$ 486 mensais per capita). Na linha da extrema pobreza, (US$ 1,90 diários ou R$ 168 mensais per capita), as taxas foram de 5% para brancos, enquanto pretos e pardos estavam com 9% dos pretos e 11,4% abaixo desta linha, respectivamente.
Para Lilian Lopes, algumas medidas urgentes a curto e longo prazo podem evitar que o cenário siga se repetindo no País. Entre as medidas estão as políticas de transferência de renda focadas nos dois grupos. A economista cita que apesar de existir medidas já em atividades, como o Auxílio Brasil, há ainda uma falta de planejamento na implantação.
“A gente vê pessoas que não precisam que recebam o auxílio e que o próximo governo possa fazer correções e melhorar o foco dessas políticas. E a longo prazo, é o que já está sendo feito como a política de cotas nas universidades públicas e em concursos públicos ”, pontua.
A pesquisa também mostra outro fator relevante. Está ligado à diferenciação do rendimento mensal médio dos trabalhadores no País em 2021. De acordo com o levantamento, os brancos ganham R$ 3.099 em média. Esse valor é 75,7% maior do que o registrado entre os pretos, que é de R$ 1.764. Também supera em 70,8% a renda média de R$ 1.814 dos trabalhadores pardos.
Mesmo entre pessoas com nível superior completo, há uma distância significativa. Nesse grupo, o rendimento médio por hora dos brancos foi cerca de 50% maior que o dos pretos e cerca de 40% superior ao dos pardos. Além disso, embora representem 53,8% dos trabalhadores do País, pretos e pardos ocuparam em 2021 apenas 29,5% dos cargos gerenciais.
A taxa de desocupação entre os pretos e pardos, em 2021, também foi maior do que a dos brancos. Enquanto entre a população branca era de 11,3%, a preta ficou em 16,5% e a parda, em 16,2%. Além disso, enquanto os brancos representavam 43,8% da força de trabalho, somatório entre ocupados e desocupados, os pretos eram 10,2% e os pardos, 45%.
O cenário da dificuldade da introdução do grupo no mercado de trabalho pode ser visto nas altas taxas de informalidade dos dois grupos em relação aos brancos. Em 2021, a taxa de informalidade entre a população era de 32,7% para os brancos, 43,4% para os pretos e 47% para os pardos.
O IBGE explica que “a informalidade no mercado de trabalho está associada, muitas vezes, ao trabalho precário e à ausência de proteção social”. Ela envolve trabalhadores que podem enfrentar dificuldades para acesso a direitos básicos, como a aposentadoria e a garantia de remuneração igual ou superior ao salário mínimo. (Agência Brasil)