Logo O POVO+
Retorno dos maracatus à avenida Domingos Olímpio é marcado por emoção
CIDADES

Retorno dos maracatus à avenida Domingos Olímpio é marcado por emoção

Entre loas e batuques, retorno dos maracatus à avenida Domingos Olímpio é marcado por emoção, demandas por mais apoio e encontro de gerações
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Maracatu Nação Axé de Oxóssi abriu os desfiles de 2023 dos maracatus (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Maracatu Nação Axé de Oxóssi abriu os desfiles de 2023 dos maracatus

Era difícil definir, no sábado e domingo de Carnaval, se era maior na avenida Domingos Olímpio a vibração que vinha dos graves batuques dos maracatus ou aquela dos corações dos brincantes, sejam os que desfilavam nas agremiações ou que assistiam das calçadas e arquibancadas. O retorno dos desfiles de maracatus, três anos após o último Ciclo Carnavalesco realizado antes da pandemia, foi marcado por uma emoção única que misturou o reconhecimento de estar "de volta para casa" com o frescor de uma experiência nova.

Para Roseana Xavier, uma das artistas que entoava a loa do Maracatu Nação Axé de Oxóssi, voltar à avenida cantando foi uma vitória. Isso porque a artista pegou covid-19 duas vezes durante a pandemia."Eu achei que eu não iria voltar para o Carnaval. Dar esse pontapé inicial depois da pandemia é uma vitória. Ainda que a gente não venha a atingir o primeiro lugar, já é uma vitória estar na avenida cantando", celebra.

Brincantes dos maracatus desfilaram na aveninda Domingos Olimpio, espaço tradicional da cultura popular em período de folia
Foto: FERNANDA BARROS
Brincantes dos maracatus desfilaram na aveninda Domingos Olimpio, espaço tradicional da cultura popular em período de folia

Também brincante do Axé de Oxóssi, Maria do Socorro Maia Martins faz coro à Roseana. "Saio nele desde que ele começou. É bom demais. A gente estava sentindo era falta. A gente gosta de dançar, é bom. Sem o maracatu não foi nada bom, nada bom", divide.

A professora de dança Regina Santiago desfilou no sábado no Maracatu Solar e, no domingo, saiu à avenida com o Vozes da África, agremiação da qual participa há mais de 30 anos. Ela prometeu na ocasião, ainda, que desfilaria também na segunda e na terça, dia dos afoxés, cordões e escolas de samba. "Foram dois anos que todo mundo parou e nós ficamos só na vontade. A sensação de volta é maravilhosa, sensação única", celebra.

O gosto pela festa na rua é seguido de um desabafo sobre falta de apoio. "Nós temos artistas e artesãos maravilhosos, mas a falta de material, de patrocínio e de verba afeta demais. O talento desse povo… vocês precisam ver nos barracões! Eles fazem milagre para estar aqui", considera.

O Ciclo Carnavalesco de 2023, promovido pela Prefeitura de Fortaleza, ficou marcado por demora acentuada no processo dos editais lançados pela Secretaria da Cultura do município, incluindo aquele voltado aos maracatus.

Saindo da avenida e chegando às calçadas, despontavam por toda a extensão da via espécies de "camarotes" improvisados, informais, nos quais famílias se juntavam em cadeiras de plástico e banquinhos. O encontro de gerações era certo, com idosos e diversas crianças fantasiadas — com destaque para a personagem Wandinha, da série homônima da Netflix.

A manicure Antônia Aurivanda acompanhou as apresentações dos maracatus com a sobrinha, a cunhada e o irmão
A manicure Antônia Aurivanda acompanhou as apresentações dos maracatus com a sobrinha, a cunhada e o irmão (Foto: FERNANDA BARROS)

A manicure Antônia Aurivanda era uma das pessoas que improvisou um lugar na calçada para assistir aos desfiles, bem no início da avenida. Ela foi para a folia com o irmão, a cunhada e a pequena sobrinha. "Sempre acompanho, amo. Eu gosto de assistir. Nos maracatus, eu gosto das roupas, de tudo!", compartilha, animada. 2023 marca o primeiro Carnaval da filha do irmão de Aurivanda na Domingos Olímpio, motivo de celebração para a família. "Minha sobrinha não tinha vindo. Ela tem oito anos. A gente trouxe ela para ela ver que é bom", orgulha-se.

Nota do repórter

Carnaval é ato político em essência, e é especial quando a festa evidencia esse caráter. Na Domingos Olímpio, há histórico de maracatus que trazem temas urgentes aos desfiles, isso sem falar da sempre necessária reverência às culturas dos povos pretos e indígenas do Brasil. Neste ano, faixas que demandam ações em prol dos povos originários compuseram as saídas de maracatus como o Solar e o Rei Zumbi na avenida.

O que você achou desse conteúdo?