Com a maior reserva hídrica dos últimos 11 anos, o Ceará tem água suficiente para abastecer toda a população do Estado por até dois anos. É o que afirmou ao O POVO o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH), Robério Monteiro. O secretário avalia que a situação dos reservatórios é "bem confortável" diante do aporte hídrico acumulado no último bimestre. Desde o começo da estação chuvosa, os açudes do Estado já receberam cerca de R$ 2,9 bilhões de metros cúbicos (m³) de água.
"O aporte até agora é significativo haja visto que ainda estamos no dia 10 de abril. Após o fim da quadra chuvosa, vamos avaliar como está a situação dos açudes, das reservas hídricas de cada região e aí teremos um panorama melhor de quanto tempo cada região está abastecida. Hoje, temos uma garantia de abastecimento hídrico de até dois anos no Estado", projetou o secretário.
De acordo com o Portal Hidrológico, a reserva dos açudes passou de 5,8 bilhões m³ no dia 1º de fevereiro, no início da quadra chuvosa, para 8,6 bilhões m³ nesta segunda-feira, 10. O volume atual corresponde a 46,5% da capacidade total de armazenamento dos 157 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Esse é o maior acumulado desde o dia 11 de novembro de 2012, quando o nível chegou a 46,7%.
O acréscimo na reserva hídrica reflete a cheia dos reservatórios. Até a noite desta segunda, 61 açudes cearenses estavam vertendo, segundo o Portal Hidrológico, marca recorde dos últimos 12 anos. Além disso, outras 11 barragens estão perto de transbordar, com reservas acima de 90%. O açude Araras, em Varjota, com 99,76% da capacidade, deve ser o próximo a verter.
O mapa hidrológico do Estado aponta que as bacias do Litoral, Coreaú, Acaraú e do Baixo Jaguaribe estão em situação "muito confortável", com volumes entre 80% e 100%, conforme classificação da Cogerh. Já as bacias Metropolitana, do Alto Jaguaribe, da Serra da Ibiapaba e a do Salgado apresentam quadro "confortável, com armazenamento entre 50% e 80%.
As bacias do Curu e do Banabuiú estão na zona de "alerta", com níveis variando de 30% a 50%. Por fim, a bacia do Médio Jaguaribe tem status "crítico" por operar com menos de 30% da capacidade.
Coreaú: 95,3%
Curu: 30,5%
Litoral: 97,7%
Serra da Ibiapaba: 64,7%
Acaraú: 91,7%
Metropolitana: 75,6%
Sertões de Crateús: 30%
Banabuiú: 35%
Baixo Jaguaribe: 100%
Médio Jaguaribe: 28,3%
Alto Jaguaribe: 57,9%
Salgado: 66,5%
A bacia do Banabuiú, terceira maior do Estado, foi a que teve avanço mais expressivo no aporte desde o início da estação chuvosa. Entre fevereiro e abril, o acréscimo no volume de água chegou a 677 milhões m³, elevando a reserva de 9,70% para 35,02%. Apesar disso, a bacia tem pelo menos seis dos seus 19 reservatórios operando em nível crítico. A situação mais preocupante é a do Açude do Cedro, em Quixadá, cujo volume atual é 1,19%.
Para o titular da SRH, a diferença de cenários entre as bacias está ligada à irregularidade das chuvas no tempo e no espaço. "É uma característica do Estado. Existem regiões que choveu muito, mas os níveis dos reservatórios estavam muito baixos, então o aporte foi bom, mas a reserva hídrica ainda fica em estado de alerta", resume, citando como exemplo o açude Banabuiú, terceiro maior do Estado, que saiu de 9,06% para 33,05% da capacidade entre fevereiro e abril, recebendo aporte de 369 milhões m³.
Conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), O Ceará registrou cerca de 415 milímetros (mm) de chuva no primeiro bimestre da estação chuvosa (fevereiro-março). O acumulado é 26% maior do que os 329,5 mm registrados no mesmo período do ano passado. O quadrimestre, também chamado de quadra invernosa, se encerra no fim de maio.
A normal climatológica do período é de 600 mm. Até a noite desta segunda-feira, o Estado já havia atingido 506,6 mm, índice equivalente a quase 85% do volume esperado.