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Escola Luzardo Viana em Caucaia deve ser reaberta em 2024
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Escola Luzardo Viana em Caucaia deve ser reaberta em 2024

Prédio está em processo de desapropriação e deve passar por reforma para reabrir para o ano letivo do próximo ano
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FORTALEZA,CE, BRASIL, 07.04.2023: Tradicional do município de Caucaia, o Centro Educacional Cenecista Luzardo Viana teve suas atividades suspensas em 2017, após o corpo docente e discente da instituição travar uma extensa batalha judicial para mantê-la de portas abertas, sem sucesso. No último mês de março, o prefeito Vitor Valim anunciou a reabertura do local a partir da desapropriação do prédio, que deve reinaugurar como uma instituição de ensino de tempo integral vinculada à rede municipal. (Foto: Aurélio Alves) (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES FORTALEZA,CE, BRASIL, 07.04.2023: Tradicional do município de Caucaia, o Centro Educacional Cenecista Luzardo Viana teve suas atividades suspensas em 2017, após o corpo docente e discente da instituição travar uma extensa batalha judicial para mantê-la de portas abertas, sem sucesso. No último mês de março, o prefeito Vitor Valim anunciou a reabertura do local a partir da desapropriação do prédio, que deve reinaugurar como uma instituição de ensino de tempo integral vinculada à rede municipal. (Foto: Aurélio Alves)

No Centro de Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza, um prédio marcado por histórias que transpassam gerações resiste ao tempo longe dos abraços calorosos e o potencial de aprendizado dos estudantes que já fizeram parte do Centro Educacional Cenecista Luzardo Viana, cujas atividades foram suspensas no ano de 2017. No entanto, o anúncio de reabertura da instituição, feito pela prefeitura, reavivou as esperanças do tão aguardado retorno ao lar. Segundo a gestão, o equipamento voltará a funcionar até o início do ano letivo de 2024 como uma instituição de ensino de tempo integral.

Fundada em 1960, com um legado de quase seis décadas, a escola filantrópica atuou na formação cidadã de inúmeros caucaienses. Reconhecida pela preocupação com o ensino de qualidade, Luzardo Viana também era palco da promoção de arte, saúde e lazer, com suas atividades extracurriculares que iam desde oficinas nos laboratórios aos esportes em quadra.

Apesar das qualidades, a instituição — que fazia parte da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (Cnec) — vinha, ao longo de seus últimos meses de funcionamento, apresentando problemas financeiros e estruturais. De acordo com a ex-diretora da escola, Ângela Viana, as adversidades começaram, principalmente, em decorrência de fatores como mudanças no pagamento das mensalidades dos alunos, que foram estabelecidas, à época, pela presidência da Cnec, durante uma reunião realizada em Brasília, e também pelo corte de verbas de entidades parceiras.

“Quando o colégio foi fundado, ele se destinava a atender pessoas carentes. Quase todos os alunos tinham bolsas de estudo. A partir do momento que essas parcerias se encerraram, a gestão precisou passar a ser feita como sendo de uma escola comunitária e filantrópica, mas não como sendo de uma escola pública. Ela precisava ter receita para arcar com todas as suas despesas administrativas. Foi um período confuso com a comunidade”, explica Ângela.

A princípio, o documento entregue à direção pela Cnec informava a suspensão das atividades por dois anos para melhorias em sua infraestrutura, ou seja, a escola reabriria já reformada em 2019. Mas as complicações burocráticas não cessavam e o salário dos funcionários também começava a atrasar.

Por isso, para tentar contornar a crise da escola cenecista, a solução encontrada foi apelar para o Poder Público. Foram feitas audiências na Câmara Municipal, onde estiveram reunidos alunos, pais, professores e políticos caucaienses, com o objetivo de tentar salvar a escola. No entanto, infelizmente, Luzardo não obteve sucesso em suas investidas e a única saída foi fechar as portas em outubro de 2017.

Anos mais tarde, em 10 de março de 2023, o prefeito de Caucaia, Vitor Valim, anunciou, a partir da assinatura do Decreto de Nº 1.324, que declara o imóvel de utilidade pública, o processo de desapropriação do prédio em que funcionava a escola Luzardo Viana. O intuito da nova gestão é transformar o estabelecimento em uma escola de ensino integral vinculada à rede municipal.

Ao O POVO, Valim reforça a importância da tradicional escola cenecista para Caucaia e a preocupação com a educação dos munícipes. “Fortalecer a educação e expandir o ensino de tempo integral é umas das prioridades da nossa gestão. Tanto é que nós implantamos as duas primeiras escolas de ensino fundamental de tempo integral no município. Logo, não poderíamos deixar um imóvel com essa estrutura e capacidade sem nenhuma utilidade”, afirma o prefeito.

Ainda segundo ele, o espaço precisará passar por uma reforma em sua infraestrutura para só então dar início às atividades. “Após finalizado o processo de utilidade pública, será possível avaliar o investimento da reforma e o prazo para conclusão. Porém, sabendo da relevância do Luzardo Viana para a educação e para Caucaia, então temos trabalhado para que o espaço esteja pronto para até o início do ano letivo de 2024 e assim continuar desempenhando esse papel tão importante na formação dos caucaienses”, destaca.

Histórias sobre um lugar de afeto

Não foi por falta de tentativa de impedir o fechamento que a escola suspendeu suas atividades naquele fim de outubro, há quase sete anos. A ex-diretora Ângela conta que até hoje guarda com carinho a lembrança do que um dia viveu na saudosa instituição.

“Ser diretora do colégio Luzardo Viana durante todo esse período, de mais de uma década, quando eu penso… ainda está muito presente na minha vida. Quando assumi a direção — após o falecimento do ex-diretor, o professor Valmir, que esteve à frente da escola por mais de 40 anos —, pude contar com uma equipe maravilhosa que trabalhava lá, a quem sou muito grata pelo apoio que me deram. Até hoje, tenho um amor muito grande por Caucaia e sinto que falar sobre essa escola é falar sobre a história do município”, declara.

Ex-aluno, servidor público e filho de um dos antigos colaboradores da escola, Kelton Forte, de 36 anos, relembra o tempo de escola como sendo um dos melhores que já viveu durante a tenra infância. “Muitos dos meus amigos hoje eram colegas do meu tempo de estudo lá. Inclusive, os funcionários eram amigos dos alunos, que os tinham respeito como se fossem parentes. O Luzardo Viana realmente foi uma experiência ímpar que aconteceu na minha vida”, conta.

Outra ex-aluna que fez parte da família Luzardo Viana foi a professora Janete Clarice, de 45 anos. Ela estudou na escola durante os anos de 1988 até 1995. “Ser aluna Cenecista foi um privilégio. Luzardo Viana foi e sempre será muito importante para todos nós caucaienses. Meu segundo lar. Tenho muito amor, carinho e respeito por essa Instituição”, diz Janete.

Limpar a poeira, preparar para novos abraços e ficar de olho

Junto ao anúncio do prefeito Valim, vêm as expectativas dos caucaienses tocados pela notícia da nova escola que funcionará no lugar que abrigou tantas histórias felizes. Há quem desacredite que a obra vá deslanchar, mas a promessa é de se manter em alerta às novidades da Prefeitura de Caucaia sobre aquele prédio que um dia foi o Luzardo Viana.

A ex-professora de Língua Portuguesa da escola, Denise de Ávila, conta que várias gerações da família dela também estudaram na cenecista, inclusive, de seus pais à sua própria filha, todos foram alunos. Ao todo, são mais de 20 anos fazendo parte do Luzardo, primeiro como aluna e depois como professora. Ela relembra com tristeza o fim da instituição.

“Foi traumatizante. Uma vida toda na escola, a maioria das pessoas que estava lá tinha mais de 20 anos na casa e eles fecharam sem dar nenhum amparo legal, nenhum apoio psicológico, não deram nada para nós. Tanto é que tivemos que entrar na Justiça para recebermos os nossos direitos. Agora, que vai reabrir todo mundo vai lá para bater foto, mas quando foi para fechar ninguém foi nos ajudar”, comenta a professora, que diz ainda ter “expectativas muito baixas” para a possível reabertura.

Hoje com 21 anos e técnico em Mecatrônica, Vitor de Paiva estudou na Luzardo Viana entre os anos de 2015 e 2017. Ele destaca a evidente preocupação dos profissionais que compunham o quadro de colaboradores da escola com a qualidade de ensino e com o bem-estar do corpo estudantil como um todo, e define o espaço como um “ambiente acolhedor” e de “boas experiências”.

“A gente passava muito tempo na escola, porque além das atividades regulares, existiam as extracurriculares que eram ofertadas, as quais éramos extremamente incentivados — nunca obrigados — a participar, como oficinas, jogos, esportes. Era uma instituição que desde os zeladores à diretora nos conheciam, nos abraçavam, nos acolhiam e foi de longe a melhor experiência escolar que eu já pude ter”, relata Vitor.

Para ele, receber a notícia de que a escola suspenderia suas atividades em 2017 foi estarrecedor para todos aqueles que faziam parte dela, especialmente, tendo em vista que foram muitas tentativas de mantê-la funcionando com o apoio do município e do Estado, sem êxito. Agora, portanto, Vitor desacredita na promessa de reavivar o prédio vinda da nova gestão municipal, porém, torce para que ela saia do papel.

“Espero realmente que esse dia chegue e que a gente possa ver o antigo Luzardo Viana novamente como uma instituição de ensino. E ainda mais, que essa nova instituição se aproxime e até mesmo supere o que o Luzardo um dia foi, um lugar acolhedor, de extremo respeito e de pessoas muito preocupadas com a educação do povo de Caucaia. De um lado político, eu realmente não acredito que essa atual gestão vá cumprir com essa promessa, mas continuo com a expectativa de que esse prédio que fez tanta história possa continuar fazendo”, afirma.

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