O bioma Caatinga tem pelo menos 481 espécies de plantas e animais que estão ameaçadas de extinção. A informação consta na pesquisa Contas de Ecossistemas, divulgada nesta quarta-feira, 24, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo analisou o grau de risco à sobrevivência da fauna e flora nas sete zonas biodeográficas brasileiras.
A Caatinga, que ocupa uma área de aproximadamente 826 km² na região Nordeste, é o terceiro ecossistema com maior proporção de espécies ameaçadas. Os 481 plantas e animais em risco de desaparecimento correspondem a 15% das 3.220 espécies do bioma analisadas pelos pesquisadores do IBGE. O percentual fica atrás apenas do Cerrado (15%) e da Mata Atlântica (24%).
Os demais biomas apresentaram os seguintes indicadores: Pampa (10%), Sistema Costeiro-Marinho (7%), Amazônia (6%) e Pantanal (4%). No geral, foram analisadas pouco mais de 37 mil espécies, das quais 5,5 mil estão ameaçadas, correspondente a 14,8% do total. Para chegar a esses indicadores, o IBGE consultou as listas de fauna, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e da flora, elaborada pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Os números são referentes a 2022.
A analista ambiental do IBGE, Angélica Coelho, considera elevados os indicadores de espécies ameaçadas na Caatinga. "Em termos de proporção, é um número bem alto e que desperta atenção", diz. Fazendo um paralelo com a Mata Atlântica, a pesquisadora aponta um possível quadro de subregistro no ecossistema nordestino. Para ela, o volume de pesquisas realizadas no bioma é abaixo do ideal.
"A Caatinga tem uma situação mais específica porque é um pouco menos estudada do que a Mata Atlântica, por exemplo. Então, se você tem menos informações científicas sobre ela [a caatinga], pode ser que o número de espécies ameaçadas [no estudo] seja menor do que a realidade", destaca Coelho, acrescentando que a pesquisa do IBGE, em certa medida, preenche o vazio de informações sobre a situação atual do ecossistema.
No Ceará, a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Estado (Sema), aponta que há 55 espécies ameaçadas de extinção. Elas fazem parte da chamada lista vermelha, dividida em cinco categorias: tartarugas marinhas, mamíferos marinhos, aves, anfíbios e répteis e mamíferos terrestres. O risco de extinção é apontado a partir de variáveis como tamanho da população, taxa de declínio e preservação da área de sobrevivência das espécies.
A preservação da vida animal e vegetal na Caatinga é o propósito maior de uma entidade ambiental sem fins lucrativos que leva o bioma no próprio nome. Fundada em 1998, no Ceará, a Associação Caatinga desenvolve ações permanentes para a conservação das florestas, terras e águas do ecossistema. Segundo o coordenador técnico da agremiação, Samuel Portela, as frentes de trabalho do projeto vão desde ações de fiscalização a programas de educação ambiental.
Um dos focos da associação é a criação e gestão de unidades ambientais. A entidade é responsável pela administração da Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) localizada entre os municípios de Crateús, no Ceará, e Buriti dos Montes, no Piauí. Distribuída em 6,3 mil hectares, a reserva é reconhecida pela Unesco como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga por abrigar uma representativa área preservada e pela sua interação com as comunidades rurais do seu entorno.
"Além das ações para preservar o habitat das espécies, nós também trabalhamos a educação ambiental com as pessoas que vivem no entorno da reserva. Fomentamos a implantação de tecnologias sociais que reduzem o impacto das pessoas sobre o ambiente, trazendo uma convivência mais harmoniosa do homem sertanejo com o bioma", destaca Portela.
A reserva abriga três nascentes, além de muitas espécies ameaçadas de extinção. Entre elas, o Tatu-bola-do-nordeste (Tolypeutes-tricinctus), mamífero terrestre usado como símbolo pela associação para campanhas educativas em prol da vida selvagem na caatinga. O trabalho de preservação também contempla outras espécies, tais como o jacu-verdadeiro, o vira-folha-cearense e o arapaçu-do-nordeste.