A Marcha da Maconha de Fortaleza completou 15 anos de ativismo pela legalização do uso da cannabis. O sol da Capital adiantou o início da caminhada, que estava prevista para 16h20min e saiu por volta de 15h50min. A agenda do ato foi aberta pelo seminário "Ativismo, movimento social e cannabis como construção da cidadania", realizado no Auditório do Dragão do Mar, no sábado.
O trajeto, alterado para facilitar a marcha de pessoas com dificuldade de locomoção e com deficiência, começou na Estátua de Iracema e ocupou a calçada e a ciclofaixa. Ciclistas usaram suas bicicletas para formar uma "parede" na lateral da multidão e possibilitar a passagem de veículos.
Ao chegar em frente ao Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE), na altura da avenida Almirante Barroso, o grupo dobrou à esquerda. Ao chegar na Praça Verde do Dragão do Mar, onde a programação seguiria até 22 horas, os presentes foram revistados para acessar a área de atividades do ato.
No ambiente, um palco com vasos de maconha era parte do cenário onde havia pessoas sentadas, deitadas ou em movimento. Comerciantes de tabacaria, de roupas e de acessórios se organizaram também no local. Na área externa, trabalhadores ambulantes vendiam bebidas alcoólicas e outros produtos.
Lígia Duarte, 29, integrante da organização da Marcha, explicou que cultura canábica estava exposta no evento. Ela "consegue delimitar uma série de trejeitos, falas, modos de se comportar — até mesmo no ato de fumar em grupo".
Antes do dia da Marcha da Maconha, a organização do evento produziu outros encontros para discutir o uso medicinal da erva. Foi o caso da realização do "Cine Canábico", na biblioteca comunitária Livro Livre Curió, com mães de pacientes da cannabis.
O evento integrou o Maio Verde, apoiado pela Marcha. "Uma mãe que estava lá disse: 'Se eu precisar traficar o remédio para meu filho, pode me chamar de traficante'. E todas as mães se identificaram com isso", relatou Lígia Duarte.
De acordo com Lígia Duarte, a Marcha da Maconha começou em 2006, com a Passeata Verde. O primeiro evento oficial ocorreu em 2008, 15 anos atrás.
Em Fortaleza, disse ela, "se propõe ser um movimento legítimo", informando a realização aos órgãos competentes e evitando caminhos ilegais. O movimento foi eventualmente reestruturado para pensar fora do eixo central da Cidade e incluir as necessidades da periferia no debate.
Segundo a organização da Marcha eram esperadas de 10 a 12 mil pessoas no início do trajeto. A participação teria superado as expectativas. A Polícia Militar não fez projeção de público.
A Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) pautará o tema da cannabis medicinal no próximo dia 26 de junho. Lígia Duarte explica que o foco da Marcha da Maconha é a judicialização estadual e municipal, por isso a militância apresentará os resultados positivos da prática medicinal durante a sessão da Alece.
Para o anestesista e pesquisador da cannabis medicinal, David Câmara, o governo estadual precisa "entender que a regulamentação precisa englobar toda a sociedade, não só quem tem dinheiro para comprar na farmácia ou importar. Quem precisa está no SUS", afirma.