Pelo menos 812 mil cearenses com 15 anos ou mais não são alfabetizados, de acordo com dados de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua sobre educação, divulgada ontem. Isso corresponde a uma taxa de 12% dos cidadãos nessa faixa etária.
A taxa de analfabetismo Razão entre o número de pessoas de determinada faixa etária que não sabem ler e escrever um recado ou bilhete simples no idioma que conhecem e o total de pessoas dessa mesma faixa etária. do Ceará diminuiu 0,7 pontos percentuais quando comparada a de 2019, que era de 12,7%. Esse foi o último ano em que a pesquisa foi divulgada, pois em 2020 e 2021 os dados sobre educação foram suspensos devido ao distanciamento social necessário durante as fases agudas da pandemia de coronavírus.
Helder Rocha, chefe da disseminação das pesquisas da Superintendência Estadual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Ceará, explica que desde 2016, quando a primeira pesquisa do tipo foi feita, a taxa apresenta queda.
“Essa queda se tornou uma constante, isso é muito positivo. Em especial pros grupos etários mais jovens. Quando se faz recorte etário, vemos que as faixas iniciais têm uma taxa de analfabetismo bem menor que as faixas etárias mais elevadas”, diz Helder.
Dentre as faixas etárias coletadas pela pesquisa, aqueles com 60 anos ou mais apresentaram a maior taxa de analfabetismo, com 31,6%. Tanto no Ceará quanto no Brasil, quanto mais jovens, menor a proporção de não alfabetizados, visto que o acesso à educação básica é maior.
Para Maria José Barbosa, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), as pessoas adultas e idosas não têm incentivos para estudar e acabam como uma “classe esquecida”. A especialista em educação de jovens e adultos aponta o pouco investimento no ensino para esse grupo.
“Nos últimos anos, não existe nenhuma política que tenha sido desenvolvida e destinada à alfabetização de adultos. As pessoas associam o estudo a uma utilidade, e não a um direito”, afirma.
Os dados sobre alfabetização também são influenciados pela cor e raça devido às desigualdades históricas vividas por pretos e pardos no Brasil. No Ceará, enquanto a taxa de analfabetismo entre brancos é de 9,3%, entre pessoas pretas e pardas, o índice sobe para 13%.
Segundo Helder, o padrão se repete em outros estados brasileiros e em diversos segmentos da pesquisa. “Nível de instrução, anos de estudo ou inserção no mercado de trabalho. Sempre percebemos que as pessoas pretas ou pardas não acompanham comparativamente as pessoas brancas”, expõe.
Jovens negros e pardos que precisam trabalhar desde a adolescência para complementar a renda familiar, segundo Maria, encontram ainda menos recursos para continuar na jornada educacional. “Caiu a oferta de escolas noturnas. Durante o dia nossos jovens precisam trabalhar, e durante a noite as escolas estão fechadas para eles. São pouquíssimas alternativas”, conta.
O Ceará é o quinto estado brasileiro com maior taxa de analfabetismo, ficando atrás de Piauí (14,8%), Alagoas (14,4%), Paraíba (13,3%) e Maranhão (12,1%). Das cerca de 9,6 milhões de pessoas analfabetas no Brasil em 2022, mais da metade (55,3%) viviam na região Nordeste.
Em 2014, quando o Plano Nacional de Educação (PNE) foi elaborado, 20 metas educacionais foram estabelecidas para serem cumpridas no período de dez anos. A vigência do PNE chega ao fim em 2024, mas algumas metas, como a de analfabetismo, ainda estão longe de serem cumpridas.
Dentro do plano, foi estipulado que até 2015 a taxa de alfabetização deveria ser de 93,5%. A região Nordeste, incluindo o Ceará, não chegou a essa meta. Até 2024, o PNE determina que o analfabetismo seja erradicado no Brasil. No entanto, o País ainda tem 5,6% de analfabetos.
Maria acredita que a meta não será alcançada. “É louvável e é esperado que tenha ações voltadas para nossas crianças. Mas seria interessante que houvesse políticas de alfabetização para todos, que as escolas voltassem a abrir a noite para o idoso, o jovem, a pessoa com deficiência”, afirma.