Nos últimos 11 anos, pelo menos 160 pessoas com mais de 60 anos foram vítimas de crimes sexuais no Ceará. Foram dez casos registrados neste ano, até o mês de maio, sendo nove contra mulheres. Os dados foram extraídos pela Gerência de Estatística e Geoprocessamento (Geesp) da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
Upas de Fortaleza atendem de 8 a 10 casos de violência contra idosos por mês; LEIA
Entre 2012 e 2022, o Estado registrou 150 crimes sexuais com vítimas de 61 anos ou mais. Conforme os indicadores criminais detalhados da pasta, em 2022, 24 crimes sexuais contra idosos foram registrados. Em 2021, constam 12 crimes do tipo. Não há detalhamento dos anos anteriores.
Em janeiro deste ano, um homem de 48 anos foi preso em flagrante suspeito de estuprar uma idosa de 74 anos em Sobral, distante 234,8 km de Fortaleza. Conforme a secretaria, o crime ocorreu enquanto a vítima estava dormindo.
Em 2021, crime semelhante aconteceu no município de Ipu, localizado a 302,4 km da Capital. A vítima foi uma idosa de 99 anos. Segundo informações da SSPDS, o suspeito teria arrombado a porta para adentrar na casa enquanto a idosa estava dormindo.
Ele seria conhecido do filho da vítima. A idosa foi encaminhada ao Hospital Municipal de Ipu, onde exames constataram o estupro e diversas lesões no corpo. Ela chegou a ser transferida para Sobral, mas faleceu durante o trajeto. Em ambos os casos, os suspeitos foram autuados por estupro de vulnerável.
O POVO demandou fonte da secretaria para tratar do tema, sem sucesso. A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que as formações iniciais e continuadas realizadas pela Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp) focam na escuta e acolhimento humanizado às vítimas de violência sexual.
A Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE) conta com o Departamento de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV). Além disso, o DPGV é responsável pelas dez Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs). As unidades ficam nas cidades de Fortaleza, Maracanaú, Caucaia, Pacatuba, Crato, Iguatu, Juazeiro do Norte, Icó, Sobral e Quixadá.
Dessas, as unidades de Fortaleza e Juazeiro do Norte funcionam 24 horas, com projeto em andamento de ampliação para delegacias 24 h da DDM de Sobral. Os crimes ocorridos com idosos do gênero masculino ou em municípios do interior, podem ser registrados nas delegacias distritais, metropolitanas, regionais e municipais.
Onde denunciar
1)Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE) - Núcleo do idoso: 129 /
(85) 3194-5021
2)Promotoria dos Idosos: 3252-6391/ 3452-6352
3)Centro Integrado de Atenção e Prevenção a Violência contra a pessoa Idosa:
3181-2728
4)Alô Idoso: 0800.285.0880
5)Disque 100
Upas atendem de 8 a 10 casos de violência por mês em Fortaleza
As Unidades de Pronto Atendimento (Upas), em Fortaleza, recebem mensalmente, em média, de 8 a 10 casos de violência física, por abandono, por negligência ou patrimonial contra idosos.
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“A maioria das pessoas idosas que dão entrada nas Upas, vítimas de violência física, sofreram violência doméstica, ocorridas em suas residências tendo como principal agressor algum membro da família e ou cuidadores, segundo informação das assistentes sociais das nossas unidades”, explica a coordenadora do Serviço Social das Upas, Danielle Claudio, nesses casos, os principais agressores são membros da família ou cuidadores.
Nas Upas, ao identificarem sinais de agressão, como hematomas e machucados, profissionais de enfermagem entram em contato com os assistentes sociais. Nas unidades, equipes multidisciplinares trabalham com acolhida, escuta das vítimas e direcionam estas pessoas para equipamentos da política de assistência social e da justiça para que o acompanhamento seja continuado por essas entidades.
Apesar de serem menos perceptíveis, outras formas de abuso contra idosos, como a negligência, violência patrimonial, moral e psicológica, também podem ser identificadas a partir de alguns sinais, como falta de apetite, perda de peso, isolamento, higiene precária e medo ou respeito excessivo diante do cuidador.
Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que, todos os anos, 1 em cada 6 pessoas com mais de 60 anos sofre alguma forma de abuso. Dentre estes relatos, o abuso psicológico em ambientes institucionais é o mais presente.
Além disso, o mesmo estudo mostrou que 2 em cada 3 funcionários de instituições de longa permanência também já relataram casos de abuso contra idosos. Ele é mais comum em ambientes institucionais, mas também ocorre em ambientes comunitários.
“A violência, na realidade, é generalizada, acontece de várias formas e em várias faixas etárias, mas no caso específico da pessoa idosa muitas vezes se dá por conta da vulnerabilidade”, relata o titular da Coordenadoria Especial do Idoso em Fortaleza, Sérgio Gomes.
Ele explica que, devido a condições físicas como dificuldade de locomoção e movimentos, demência ou doenças, essas pessoas estão sujeitas a violência por meio de familiares ou cuidadores.
Quando a violência acontece no âmbito familiar, costuma ser velada. Além disso, Sérgio coloca que, quando as agressões acontecem por um longo período de tempo, “pelo fato desse idoso ter vulnerabilidade e ver que aquela pessoa é o único cuidador que ela tem, ou aquele grupo de pessoas são os únicos cuidadores, essa pessoa aceita essa violência calada e passa despercebido, muitas vezes.” Quando essas violências são percebidas por vizinhos ou pessoas próximas a este idoso, é também comum que não sejam denunciadas.
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Para o coordenador, a violência mais notificada atualmente é a patrimonial, “onde o idoso ou a idosa tem o seu cartão de benefícios subtraído, e muitas vezes ele deixa de se prover, de comprar seus medicamentos, sua alimentação, por conta de uma família numerosa, de uma família de cinco, seis, oito pessoas onde a única fonte de recursos é esse benefício da pessoa idosa.”