Logo O POVO+
Por que algumas avenidas de Fortaleza têm trechos com limites de velocidade distintos
CIDADES

Por que algumas avenidas de Fortaleza têm trechos com limites de velocidade distintos

AMC afirma que as variações de velocidade não são aleatórias, mas baseadas em estudos com o objetivo de salvar vidas
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 03.08.2023: Avenida Osório de Paiva, até o terminal do Siqueira 50 km, depois volta à 60km. Avenidas com mais de um limite de velocidade. (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 03.08.2023: Avenida Osório de Paiva, até o terminal do Siqueira 50 km, depois volta à 60km. Avenidas com mais de um limite de velocidade.

Em Fortaleza, oito avenidas possuem trechos com variação no limite de velocidade. Enquanto a maioria das avenidas foram readequadas inteiramente para o limite de 50 km/h, algumas contam com trechos de 40 km/h, 60 km/h e até 80 km/h. Segundo a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), três dessas vias são de jurisdição estadual, enquanto o restante é de gestão municipal.

Sob gerência estadual, estão as avenidas Osório de Paiva; Engenheiro Santana Júnior, além de parte da Godofredo Maciel. Já sob responsabilidade municipal estão Antônio Sales; Humberto Monte (no trecho do túnel da av. Bezerra de Menezes); Borges de Melo (no trecho do túnel); Monsenhor Tabosa e Perimetral.

Uma das avenidas mais movimentadas da Capital é a Antônio Sales. Começa no cruzamento das avenidas Domingos Olímpio com Visconde do Rio Branco, no bairro Joaquim Távora, e termina no viaduto Celina Queiroz, no bairro Cocó. Durante boa parte do trajeto, a via mantém padrão de 50 km/h. Contudo, após o trecho sob o viaduto da avenida Almirante Henrique Sabóia, o limite de velocidade é reduzido para 40 km/h.

O piloto de Uber Moto Guilherme Martins, 22, trafega pela Antonio Sales quase todos os dias e avalia que a redução de velocidade a partir do trecho foi uma boa estratégia de segurança. “É visto que não acontece muito acidente por aqui. Isso é muito bom pra gente, que trabalha de motoqueiro, mas também para quem usa carro. Eu acho que se permitissem uma velocidade maior seria arriscado ter mais chances de acidentes. Então, não atrapalha, só melhorou.”

Segundo a AMC, no caso específico da Antônio Sales, a velocidade foi readequada para 40 km/h apenas no trecho debaixo do viaduto onde há ciclofaixa e faixa de pedestres. A medida, implantada em 2015, considerou o alto volume de pedestres e ciclistas na região.

A Autarquia frisa ainda que a variação e a redução do limite de velocidade nas vias de Fortaleza não é uma ação aleatória, mas sim uma estratégia para salvar vidas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em vias arteriais, ou seja, avenidas que ligam duas regiões de uma cidade, a indicação é que o padrão seja de 50 km/h. Essa readequação resultaria em um aumento de dez vezes na chance de o pedestre sobreviver a um atropelamento.

Para a escolha dessas vias e de suas velocidade máximas, são considerados determinados critérios: a classificação viária, ou seja, se a via é local, de trânsito rápido, arterial ou coletora; o índice de acidentes registrados; a capacidade da via; o uso do solo; o volume de usuários vulneráveis como pedestres e ciclistas, além do fluxo veicular. Em síntese, a velocidade máxima permitida leva em conta características técnicas, ambientais e condições do tráfego.

Contudo, em vias de acesso local com alto volume de pedestres e ciclistas, principalmente em áreas residenciais e no entorno de escolas e hospitais, o recomendado é 30 km/h. Desta forma, nem sempre é possível haver uma padronização de velocidade, quando as características das vias são diferentes.

Avenidas de Fortaleza: vias estaduais

Diferentemente das vias gerenciadas pela AMC, nas rodovias estaduais (CEs) o padrão adotado pelo Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE) é de 60 km/h. Dessa forma, em avenidas em que parte da via é de gestão municipal, enquanto a outra fração é de responsabilidade estadual, há também variação no limite de velocidade.

A Osório de Paiva (CE-065), que se inicia no bairro Parangaba e dá acesso a municípios do Interior, apresenta essa variação. Em Fortaleza, ela foi a segunda via a ter a velocidade readequada para 50 km/h, em 2018. Em conformidade com o Detran, que sinalizou também a parte estadual.

Em junho, deste ano o Detran alterou novamente a velocidade do trecho estadual para 60 km/h. Portanto, atualmente a via opera com diferentes velocidades nos trechos municipal e estadual. Conforme o órgão, a velocidade máxima foi aumentada para se adequar ao padrão de 60 km/h das CEs.

Em trecho entre a avenida Perimetral e o 4º Anel Viário, que é de gestão estadual, o limite de 50 km/h foi aumentado para 60 km/h. No trecho que ainda é da gestão municipal de Fortaleza, que se estende desde o início da via, no cruzamento com a avenida João Pessoa, até a altura do Terminal do Siqueira, o limite continua 50 km/h.

Morador do bairro do Siqueira, Luís Sousa, 64, costuma trafegar nos arredores da Osório de Paiva. Na sua visão, o nível de segurança viária na avenida é adequado. “Sinceramente, eu não vi uma mudança para melhor ou pior no trânsito depois dessa última mudança. Mas essa avenida já teve muito acidente há uns anos, quando não tinha limite de velocidade e era tudo liberado”, aponta o morador.

No último mês de julho, dois óbitos foram registrados na avenida Osório de Paiva, decorrentes de um mesmo acidente de carro. O veículo em que as vítimas estavam colidiu com um poste. Uma terceira vítima chegou a ser socorrida.

Já a Senador Carlos Jereissati (CE-401), conhecida como Avenida do Aeroporto, no bairro Aerolândia, é inteiramente de gestão estadual. Desde seu início, no cruzamento com a Alberto Craveiro (CE-501), a via apresenta limite de velocidade de 80 km/h. Contudo, depois do viaduto que perpassa a rotatória da via, a velocidade é reduzida para 60 km/h.

O pedreiro Márcio José, 43, além de morar próximo à avenida também trabalha na obra do VLT do Aeroporto de Fortaleza. Observando o intenso tráfego, o funcionário avalia que o limite estabelecido tem sido bem acatado pelos motoristas. “O pessoal respeita a sinalização e reduz a velocidade, até porque, se não reduzir, leva multa. Aqui é cheio de fiscalização eletrônica. Agora, eu acho que essa velocidade reduzida causa muito tumulto e engarrafamento, horário de pico aqui é complicado”, aponta o funcionário.

Anteriormente, de acordo com o Detran-CE, a velocidade máxima permitida em toda a extensão da Senador Carlos Jereissati era de 80Km/h, mas, com base em estudos, teria sido identificado que em alguns trechos específicos era necessário reduzir esse limite para dar mais segurança ao trânsito.

Conforme dados da AMC, Fortaleza teve uma queda de 58% nos casos com vítimas fatais decorrentes de acidentes de trânsito. Em 2014, foram registradas 377 mortes por acidente. Já no ano passado, o número caiu para 150 óbitos. 

O que você achou desse conteúdo?