Para começar o fim de semana com o pé direito, famílias contemplam o pôr do sol e sentem a maresia da Barra do Ceará enquanto apreciam o espaço com vista para o Beira-Rio. O local, que passou por obras de revitalização em dezembro do ano passado, sentiu impacto na movimentação após os episódios de violência que assustaram moradores no início do mês. Agora, porém, o momento é de a população saborear a orla e apreciar a vista sem preocupações.
“A questão da movimentação melhorou bastante devido à obra que teve, o calçadão, as quadras”, lista Luana Quinto, 39, sobre a requalificação.
Já a comerciante Maria Silvane garante que as pessoas já retomaram o espaço que é seu, superando as tensões com os conflitos no Grande Pirambu, ao lado da Barra.
“(A movimentação) cai uns dois dias. Quando é depois de dois dias, continua o movimento”, destacou. “Eu fiquei parada, assim, uns três dias. Quando foi no feriado (da padroeira de Fortaleza), bombou”, completa.
Os animais de rua, em sua maioria cachorros, também marcam presença no espaço. Entre os quiosques, são eles que passeiam no meio dos transeuntes e um se aproxima da mesa da comerciante. “Sai daí, Max! É meu segurança”, brinca.
O movimento ocorre desde a manhã até a noite. No período matutino, as cafeterias situadas no entorno são uma opção de leveza. Aproveitando pela primeira vez o café a beira-mar, Isabele Castro, 29, seu marido e filha foram ao Café de Praia atraídos pela curiosidade gerada em outras visitas à orla.
A assistente administrativa conta que não pode faltar uma xícara de café no cotidiano dela. Juntar isso com a possibilidade de “colocar o pé na água” ao lado da família é “perfeito”, resume ela.
Isabele Castro, que morava na Caucaia antes de se mudar para Fortaleza, disse que ao conhecer a região com o marido, Adailton, de 27 anos, percebeu que os relatos que ouvia sobre violência não batiam com a realidade.
“Todo mundo fala que é perigoso, mas todo canto é perigoso. Conhecendo o ambiente, estamos vendo que não é isso. É calmo, é familiar. As pessoas têm que frequentar para ver se realmente é aquilo [que dizem]”, disse.
Nem tudo são flores. Maria Silvane, proprietária de alguns quiosques no Beira-Rio, indica uma questão importante sobre o local. “Tem muito cadeirante, (mas) não tem banheiro (adaptado)”, explica. A comerciante afirma que alguns clientes solicitam aos donos de pontos comerciais essa adição ao espaço.
O atleta e estudante de Educação Física, Sílvio Neves, 50, confirma os comentários ao ser questionado sobre a falta de acessibilidade. “A maior dificuldade mesmo é essa questão do banheiro”, diz.
Ao lado da companheira, a comerciante Darilene Neves, 49, ele visita o Beira-Rio toda semana. “A Beira-Mar tá esquecida pra nós”, sorri Darilene.
Outro frequentador do espaço, o músico Miguel Nascimento, 52, ao ser questionado sobre eventuais tensões sobre violência, apontou uma relação entre a cultura e a segurança na cidade. “Não se melhora segurança pública se não for com cultura”, ressalta.
“Não é polícia entrando de viatura nova, fardamento novo, fuzil na mão, que vai acabar com facção: é cultura. Uma bailarina, um violinista, um artista plástico, (não) vai tomar celular”, completa. (Com informações de Mateus Brisa e Penélope Menezes)