Berço multicultural e patrimonial, Fortaleza se destaca por suas belezas naturais e por uma história que é contada em cada rua e avenida, em cada bairro e conjunto habitacional, em cada morador que guarda consigo memórias de momentos marcantes, sejam eles bons ou ruins.
Pensando em escrever a história de uma Fortaleza por muitos olhares, um projeto desenvolvido pela Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho leva educação patrimonial para cinco bairros da periferia da Capital.
Nesta edição, que inicia as atividades nesta segunda-feira, 28, os bairros Canindezinho, Conjunto Ceará, Mucuripe, Poço da Draga e Serrinha receberão visitas do projeto, que conta com três dias de oficinas explicativas sobre patrimônio, escrita e uso de tecnologias, e dois dias de visitas em campo para que os alunos possam identificar e fotografar as referências culturais do bairro e conversar com os moradores da área visitada.
O projeto tem o objetivo de sensibilizar a juventude fortalezense sobre a relevância de conhecer e favorecer a diversidade patrimonial que abraça a cidade. Com o tema "Patrimônios (in)visíveis", o projeto tem foco em bens, saberes e bens culturais que são a identidade da comunidade local.
A coordenadora pedagógica do projeto Patrimônio para Todos (PPT) - uma aventura através das memórias, Hannah Mariah, relata que as oficinas são baseadas no inventário participativo, que é utilizado nos registros dos bens culturais dos patrimônios que são mapeados nos bairros que recebem a visita do projeto.
"Depois que desenvolvem os inventários, a gente chega com os conceitos, com as discussões e através desses instrumentais a gente começa a pensar a partir do olhar da comunidade. Quais são os patrimônios? E aí a gente utiliza algumas categorias básicas, a gente tem saberes, ofícios e modos de fazer as expressões culturais, os lugares, as celebrações, as histórias e lendas e os guardiões da memória, mas a gente também entende que as categorias elas não dão conta. Então, quando surge algo que é difícil a gente pensar dentro dessas caixinhas a gente começa a pensar em outras categorias se necessário for", pontua Hannah.
Até o momento, 30 bairros de Fortaleza foram contemplados com o projeto, dentre eles Mondubim, Barra do Ceará, Sabiaguaba, Pici, Montese, Benfica e Jacarecanga. E para além da Capital, o projeto já visitou os municípios cearenses de Acaraú, Sobral, Fortim, Jaguaribe, Pentecoste, General Sampaio, Caucaia, Maranguape, Aratuba, Limoeiro do Norte, Iracema, Itarema, Horizonte, Almofala, Poranga, Monsenhor Tabosa, Tururu e Aracati.
A monitora Clara Araújo, diz que "a partir da escuta, das narrativas contadas por oralidade, surge um movimento natural de identificação e apropriação da própria comunidade e participantes do projeto; gerando registro e difusão dos patrimônios (in)visíveis, consequentemente a valorização desse patrimônio local".
A partir destas falas, é possível enxergar outras visões sobre bairros que são estigmatizados pela narrativa da violência. E para além de uma realidade mascarada por preconceitos, existe um leque de equipamentos culturais que são importantes para que as futuras gerações conheçam a Fortaleza dos dias de hoje.
Hannah diz ainda que muito se fala sobre dar voz, que essa narrativa ainda é algo muito presente, mas que ao invés de dar apenas voz, é necessário dar ouvidos. "A gente precisa dar ouvidos, eu acho que esse movimento é o mais interessante, é assim que a gente começa a ouvir e entender sobre as várias cidades que existem dentro da nossa cidade"
Lukresya Nascimento, que também é monitora, diz que o projeto tem um impacto de caráter positivo, já que traz a valorização e o reconhecimentos das memórias afetivas dos moradores com seu território, suas lembranças e afetos de vivência, que ultrapassam as barreiras de um cenário violento que tem maior destaque na mídia.
"Esse resgate do pertencimento com lugar onde se vive tem uma relevância imensurável no desenvolvimento de todo e qualquer indivíduo quanto cidadão. Desde o cuidado com o espaço em que se vive em sociedade, quanto com a narrativa da sua própria história", ressalta a jovem.
Ações nos bairros
CANINDEZINHO
Centro de Defesa da Vida
Endereço: Herbert de Souza (Av. Osório de Paiva, 5623)
De 28 de agosto a 1 de Setembro
MUCURIPE
EEMTI Matias Beck
Endereço: Rua Prf Aída
Balaio, 38
De 11 a 15 de Setembro
POÇO DA DRAGA
Coletivo Fundo da Caixa
Endereço: Viaduto Moreira Rocha, 140
De 25 a 29 de setembro
SERRINHA
Associação dos Moradores
da Serrinha
Endereço: Rua Santiago, 359
De 16 a 20 de Outubro
CONJUNTO CEARÁ
CCDH Conjunto Ceará (Antigo CSU)
Endereço: Avenida Alanis Maria Laurindo
De 23 a 27 de Outubro