Alunos do ensino médio da Escola Dona Júlia Alves Pessoa, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, discutiram nessa quarta-feira, 8, estratégias para a redução de homicídios em adolescentes na Capital. A conversa foi realizada durante o “Seminário de Enfrentamento à Letalidade Infantojuvenil do Grande Bom Jardim”.
O encontro foi promovido pelo Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS), Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) e demais entidades da sociedade civil. A ação também faz parte da 6ª Semana Cada Vida Importa, da Alece, iniciada na última segunda-feira, 6, na Capital.
O território do Grande Bom Jardim figura o topo dos dez bairros em que há maior índice de assassinato de jovens em Fortaleza. Entre os 117 bairros da Capital cearense, os cinco bairros que compõem o território do GBJ estão entre os 20 bairros com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em Fortaleza.
Os dados são da pesquisa do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza (CDVHS) e o Grupo de Pesquisas e Intervenções sobre Violência, Exclusão Social e Subjetivação (Vieses), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
A aluna do terceiro ano da instituição Thayná Sousa, 17, moradora do Bom Jardim, destaca que o debate é essencial para pensar ações que promovam a segurança dos jovens. Ela aponta que planos voltados para cultura e educação são uma das saídas.
“O Estado tem várias formas de intervir no cenário do grande aumento da mortalidade na periferia. Melhorias na escola aumentaram mais lugares de centros culturais. A gente tem muitos espaços abandonados que a juventude poderia ocupar, reutilizar e, assim, diminuir os índices de mortalidade”, disse.
De acordo com a assessora técnica do CDVHS, Ingrid Rabelo, o seminário busca dar visibilidade às lutas pela vida da juventude. Ela explica que, além de mostrar os dados sobre a violência e as potências que há entre as juventudes que buscam ações de sobrevivência, o encontro é para cobrar ações do Estado sobre o tema.
“Quais as estratégias que as políticas públicas têm trilhado e as que pretendem estar em curso para que consiga ter uma redução de homicídios no Estado, principalmente no Grande Bom Jardim. A expectativa com o encontro é que haja uma agenda de estratégias tanto com a participação da sociedade civil como do poder público”, disse.
A discussão também buscou debater sobre o Plano Municipal de Enfrentamento à Letalidade na Adolescência para a cidade de Fortaleza. A estratégia, aprovada em 2020 pelo Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de Fortaleza (Comdica), busca reduzir os índices de homicídios do público até 2025.
O debate sobre o plano pretende saber das ações que foram, estão e pretendem ser feitas até os próximos dois anos. “A gente pretende que o poder municipal diga como estão as metas que já foram alcançadas e quais os desafios estão enfrentando para que cumpra”, disse Ingrid Rabelo.
A mobilização e a incidência política que acontece durante a Semana Cada Vida Importa são estabelecidas pela Lei nº 16.482, de 19 de dezembro de 2017, em memória à Chacina do Curió.
O crime aconteceu na madrugada do 11 ao 12 de novembro de 2015, quando 11 jovens foram assassinados por agentes da polícia na Grande Messejana, em Fortaleza.
De acordo com a lei, o poder público, em parceria com movimentos sociais e coletivos artísticos, devem organizar debates, campanhas, intervenções artísticas e outras atividades em defesa da vida de adolescentes e jovens do Estado.
A ação é mobilizada pelo Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV) da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), a programação de 2023 tem atividades na Capital e no Interior. A programação pode ser conferida no portal da Alece.
Segundo o sociólogo e coordenador técnico do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, Thiago de Holanda, a prevenção começa no espaço local. Ele explica que, se não tiver um diálogo nos territórios, mobilizando os gestores municipais, fica difícil avançar na redução da vulnerabilidade dos jovens.
“A gente precisa trazer a juventude para estar discutindo e representando e percebendo as violências que elas sofrem. O que é bullying? O que é racismo? Quais são os riscos de uma masculinidade violenta? A dimensão dos preconceitos de gêneros e sexualidade Tudo isso atravessa a escola”, comenta.
A estudante Carla Soraya, 16, que cursa o segundo ano do ensino médio, moradora do Bom Jardim, destaca a importância dos jovens estarem inseridos no debate que revela o cenário de letalidade que jovens e crianças estão inseridos. Ela pontuou que, a partir do encontro, é possível pensar estratégias de sobrevivência.
“Pensar estratégias de arte e cultura que são formas que a gente pode reverter um quadro que a gente já existe”, comenta. Para ela, existe uma insegurança ao vivenciar o território em virtude da violência. “É bastante complicado residir no bairro diante de relatos de violência”, revela.
A programação do seminário aconteceu em dois momentos. Pela manhã, o painel “Resistências” recebeu coletivos de jovens que atuam no Grande Bom Jardim e na cidade enfrentando violações de direitos.
À tarde, a mesa “Pela vida das juventudes” contou com a participação de instâncias governamentais e da sociedade civil que atuam na proteção e promoção de direitos desse público.
Participam também representantes da Secretaria Municipal de Juventude, Fundação da Criança e da Família Cidadã, Secretaria Municipal de Cultura, Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca) e CPCV.
Além do CDVHS, o seminário é organizado pela Rede de Desenvolvimento Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS), Cedeca e Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA).
O encontro também teve parceria com entidades governamentais, como Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), Rede Cuca e Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, vinculado à Alece.