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Estação da Parangaba tem prédio preservado, mas está sem uso desde 2021
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Estação da Parangaba tem prédio preservado, mas está sem uso desde 2021

A Estação tem seu valor histórico reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2013
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LINHA do metrô passa por cima da Estação da Parangaba (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal LINHA do metrô passa por cima da Estação da Parangaba

Próximo do novo, o velho. A Estação Ferroviária da Parangaba, a segunda estação de trem mais antiga do Ceará, segue desativada desde 2021. O local funcionava como um Centro de Referência em Direitos Humanos, que foi transferido para outro bairro. Apesar disso, ela continua sendo preservada. A estrutura fica meio escondida: está localizada na rua Dom Pedro II, perto do Shopping e do Metrô da Parangaba.

A história da estação começou no dia 30 de novembro de 1873. Foi a segunda do Ceará, construída logo após a Estação João Felipe, no Centro de Fortaleza. A estrutura atual, no entanto, já é uma nova construção, feita após a derrubada do prédio original, em 1941.

A ferrovia foi um dos fatores responsáveis por impulsionar a economia da região. “A Parangaba ficou muito movimentada na questão ferroviária. Tanto de passageiros, quanto de carga”, cita o pesquisador Hamilton Pereira. Ele faz parte da Associação dos Engenheiros da Rede Ferroviária Federal, Sociedade Anônima (RFFSA), formada por ex-funcionários das antigas linhas de trem.

André José Filho, 56, mora no bairro há cerca de 25 anos e é dono do Bar Recanto da Parangaba, localizado em frente à estação. “A história da estação é antiga. Está desativada há muito tempo.”

Ele vive no local desde muito antes do shopping e do metrô que, inclusive, quase causou a demolição do equipamento. “Ela iria ser derrubada pelo metrô, aí o pessoal mais velho, mais antigo [aqui do bairro] não deixou derrubar, porque era uma [estrutura] histórica.”

De acordo com o estudo “Memória social em Fortaleza: reflexões sobre Parangaba”, de Mario Sérgio Barbosa, o governo pretendia derrubar a estação para a construção da Linha Sul do Metrô de Fortaleza.

A Companhia Cearense de Transporte Metropolitanos (Metrofor), diante da pressão dos moradores, apresentou as seguintes opções: transladar o prédio para a Praça Central da Parangaba; fazer uma réplica da estação e transferir a estrutura para outro bairro; ou construir um memorial no mesmo local, respeitando a estrutura da estação.

Nenhuma das opções, no entanto, foi aceita pelo movimento preservacionista. A primeira, não ofereceria, de acordo com os moradores, garantias quanto à conservação do prédio. A segunda foi prontamente rejeitada, pois permitia a demolição da estrutura. Já a terceira foi vista pelos moradores como “monumento que homenagearia a destruição do patrimônio do bairro”, cita a pesquisa.

A solução acordada entre Cid Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, e Luizianne Lins (PT), ex-prefeita de Fortaleza, foi rebaixar a estação e elevar a linha do metrô para preservar a estrutura do equipamento histórico e evitar a demolição. “[A estação] era muito alta e foi rebaixada 3,5 metros para que o metrô pudesse passar por cima”, lembra Seu André.

“Desde quando começaram a abaixar [a estrutura] disseram que iam fazer um museu com a história da Parangaba, mas até agora ainda não saiu”, continua o dono do bar. “A Parangaba é muito antiga. Primeiro era uma cidade, [para] onde vinham os trens do Interior.”

A estação está desativada desde 2021, mas continua recebendo manutenções do Metrofor, responsável pela questão. A estação não apresenta pichações ou danos na parte exterior. É bem cuidada na área externa. O POVO não foi autorizado a entrar dentro do equipamento.

Em nota, o Metrofor afirma que, em março e abril deste ano, o equipamento passou por serviços de restauração e manutenção, com pintura, recuperação da guarita e do sistema de drenagem, além de limpeza geral da estrutura.

“O Metrofor também realiza a guarda patrimonial da Estação, durante 24 horas por dia, prevenindo ações de vandalismo contra a estação. Importante destacar que a Estação Ferroviária da Parangaba tem seu valor histórico reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2013, sendo incluída na lista de Patrimônio Material Ferroviário”, diz trecho do documento.

Também em nota, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) afirma ter realizado vistorias técnicas na estrutura em abril de 2022 e não ter constatado danos relevantes, seja nas estruturas, seja nos materiais de revestimento. O órgão diz ter detectado alguns desgastes ou danos pontuais “que demandam apenas pequenas ações de manutenção" e que "uma nova vistoria será realizada em 2024”.

A Estação é um bem cultural valorado, nos termos da Lei nº 14.483/2007, e está inscrita na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário desde maio de 2013. O equipamento está cedido ao Metrofor, que é responsável pela conservação.

Qual a diferença entre bem valorado e bem tombado?

Os dois instrumentos garantem a integração do bem cultural móvel ou imóvel ao Patrimônio Cultural brasileiro. A diferença é que na valoração cabe ao Iphan, junto com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) — nos casos de bens que ainda possuem uso ferroviário (operacionais) —, receber e administrar os bens valorados. Eles podem ser cedidos a terceiros para "uso destinado à preservação e difusão da memória ferroviária", como é o caso da Estação da Parangaba.

No caso dos patrimônios tombados, eles estão sob a responsabilidade dos proprietários das estruturas, que são os responsáveis pela conservação e preservação. O Iphan atua apenas em situações em que os proprietários não têm condições financeiras para arcar com as despesas.

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