O projeto de revitalização da Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, está em fase de elaboração e ainda não tem prazo para ser enviado à Prefeitura de Fortaleza. O plano para reforma foi anunciado em novembro do ano passado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL). Atualmente, o equipamento apresenta falhas na pavimentação, nas lixeiras e nos bancos.
A população do entorno ainda reclama de falta de segurança, mau cheiro e aglomeração de pessoas em situação de rua, que cobram estrutura para suas necessidades básicas. Segundo o presidente da CDL, Assis Cavalcante, o projeto prevê ajustes no piso em pedra portuguesa, com a instalação de unidades menores para melhor fixação, construção de novos quiosques, melhorias na iluminação e ligação com a rua Floriano Peixoto.
Os trabalhos serão realizados em parceria com a Prefeitura de Fortaleza, responsável pela aprovação e execução do projeto que será apresentado pela CDL. O plano de requalificação é assinado pelo arquiteto Fausto Nilo, responsável pela última grande reforma da Praça, feita há 32 anos.
Apesar de não ter prazo para ser iniciada, a expectativa da CDL é de que a obra esteja concluída até dezembro deste ano para não prejudicar as vendas de Natal e Ano Novo no comércio da região. Assis Cavalcante explica que a revitalização será realizada em fases para não inviabilizar o uso do espaço.
“Ela [a reforma] vai ser feita por etapas. Nós vamos fazer um quadrado, os quatro lados. A gente trabalha um lado. Ficou pronto? Trabalha o outro. Ficou pronto? Trabalha o outro e o outro, assim sucessivamente, para não impactar nos lojistas e nos transeuntes.”
Lixeiras rachadas, buracos no piso e bancos quebrados podem ser detectados em poucos minutos de uso do espaço, conhecido como “O coração de Fortaleza”. Quem utiliza o local há muitos anos diz que esse coração já foi mais pulsante e aponta as falhas na estrutura como um dos fatores que têm afastado o público.
“Tem que melhorar esses bancos também, botar uns bancos mais descentes. Isso aqui é antigo, da época de 1980. [...] Tinha que ter mais lixeiras. Botaram esses tanquinhos aí, mas o pessoal não bota nada dentro, joga no chão”, relata o militar Raimundo Pereira, 63, que frequenta a Praça há mais de 40 anos.
Outro ponto destacado por quem visita ou trabalha no local é a falta de segurança, principalmente durante o período da noite, quando, segundo populares, a falta de policiamento e iluminação pública aumentam a sensação de perigo.
Segundo o comerciante Alexandre Gurgel, 52, o cenário se estende também aos fins de semana, dias em que ele evita trabalhar na Praça devido por medo. “Dia de domingo eu não trabalho aqui. Vou ali para a Feira da José Avelino. É cheio de 'malandro' aqui em dia de domingo. Lá é melhor de vendas para mim, a segurança também é maior”, conta o vendedor de água. De acordo com a Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE), a área conta com policiamento em viaturas, motocicletas, ciclopatrulhamento e uma base fixa da PM.
Em dias e horários estratégicos, a região conta com reforço do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio) e do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque), conforme o órgão.
Na Praça do Ferreira, frequentadores reclamam porque pessoas em situação fazem necessidades básicas no local. O mau cheiro e os pedidos deles por comida e bebida são apontados como causa da queda do movimento. No entanto, os mesmos problemas são questionados por essa população vulnerável, não como incômodo, mas sim pela falta de acesso a direitos básicos.
“Para a melhoria da Praça seria bom uns banheiros químicos, umas torneiras, nem que seja com água quente para a gente beber… Porque quando dá 18 horas aqui, meu amigo, é um Deus nos acuda. A gente tem que esperar o dia amanhecer”, afirma Pádua David, 31, morador da Praça do Ferreira.
Além da fome e do preconceito, quem dorme na Praça também relata insegurança. Mulheres temem a ação de abusadores, segundo Deiziane Andrade, 32, que conta ter sido assediada enquanto dormia.
“Eu estava dormindo ali e quando me espantei, meu short já estava aberto e o homem passando a mão nas minhas partes. Tinha Polícia ali, mas não resolveu nada. A gente pede mais segurança para nós, mulheres. Nós estamos dormindo e estamos à mercê”, afirma.
Procurada pelo O POVO, a Secretaria de Gestão Regional (Seger) informa que tem intervenções previstas para a Praça, como manutenção elétrica nas bombas da fonte e da coluna da hora.
A Secretaria também diz que a reposição do piso de pedra portuguesa foi feita no ano passado e que qualquer demanda de serviços públicos pode ser solicitada por meio do telefone 156 ou pessoalmente, nas sedes das secretarias regionais.
Questionada sobre as queixas da população de rua, a Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) afirma que disponibiliza três unidades do equipamento Higiene Cidadã, sendo duas no Centro (av. Dom Manuel, 1250 e Praça da Bandeira) e uma na Parangaba (Pedro II, 100 – João Pessoa).
“Os equipamentos atendem diariamente 400 pessoas, possuem banheiro e chuveiro e fornecem kits de higiene pessoal. Os dois Centros de Referência Especializados para a População em Situação Rua (Centro Pop Rua Jaime Benévolo, 1059 e avenida João Pessoa, 4180) e o Centro de Convivência para Pessoas em Situação de Rua (avenida do Imperador, 775) também funcionam diariamente e oferecem estrutura para higiene pessoal e de roupas”, aponta a SDHDS, em nota.
Sobre a alimentação, a SDHDS ressalta que duas pousadas sociais, nas avenidas Dom Manuel e Imperador, fornecem sopas e acomodação para o pernoite. O serviço funciona todo dia, das 19h às 7 horas, e recebe encaminhamentos dos Centros Pop dos bairros Benfica e Centro.