Ainda há pessoas que vivem sem banheiro ou sanitário em casa em todos os 184 municípios do Ceará, conforme os dados do Censo Demográfico de 2022, divulgados nesta sexta-feira, 23. Em 28 cidades, o número ultrapassa mil residentes sem local adequado para as necessidades fisiológicas. Ao todo, 93.979 cearenses vivem nessa condição de vida.
Granja, na região Norte, é a cidade que tem maior quantidade absoluta de domicílios e residentes sem banheiro. Ao todo, 6.934 pessoas moradoras de 2.198 domicílios não têm acesso ao sanitário em casa, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que elabora o Censo.
Já Salitre, no Cariri, é o município com maior proporção de domicílios sem banheiro ou sanitário no Estado. Das 5.367 residências da cidade, 983 não têm acesso ao cômodo ou ao aparelho, o que corresponde a 18,32% do total.
A população que não tem acesso a banheiro representa 1,1% do total do Ceará. Outros estados se destacam negativamente, como o Piauí, que tem 5% dos residentes sem banheiro ou sanitário em casa, representando a maior taxa do País.
Os dados do Censo Demográfico de 2022 divulgados nessa sexta-feira, 23, também mostraram estatísticas de esgotamento sanitário. No Ceará, 40,1% da população mora em domicílios conectados à rede de coleta de esgoto e 60% dos cearenses não têm acesso ao serviço. Outros 20% utilizam fossa séptica como forma de descartar os dejetos domiciliares.
Marco Aurélio Holanda de Castro, professor do departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental, explica que o sistema de esgotamento geralmente empregado em áreas urbanas pode não ser viável em áreas rurais devido à distância entre as casas.
“Para as áreas urbanas, até de pequenas cidades, o sistema que você tem de adotar é a coleta do esgoto e o transporte por tubos até uma estação de tratamento. Para as áreas rurais, utiliza-se muito a fossa séptica, que é um sistema no qual você coleta o esgoto da casa em uma vala e lá ele é filtrado. Não tem nada de errado se ele for feito com técnica adequada”, afirma.
A fossa rudimentar ou buraco, no entanto, ainda é utilizada por 34,7% da população cearense. Esse modelo de esgotamento pode gerar problemas de saúde pública, segundo Marco.
“Inúmeras doenças que atingem nosso povo, como a dengue, por exemplo, são consequência direta de problemas de saneamento. São doenças que poderiam ser extremamente minimizadas se tivéssemos tratamento de esgoto adequado”, afirma. Doença de Chagas, diarreias e disenteria são outras patologias ligadas a um tratamento inadequado dos dejetos.
49 milhões de brasileiros não têm acesso a esgoto
Ainda que o País venha melhorando seus números no que diz respeito ao esgotamento sanitário, 49,03 milhões de brasileiros ainda não conseguem descartar o esgoto de maneira adequada. É o que revela o mais novo recorte do Censo 2022, divulgado pelo IBGE.
Desse total, 39 milhões despejam seus dejetos em fossas rudimentares ou buracos, e mais de 4 milhões têm rios, lagos ou o mar como destino de seu esgoto. O restante vai para valas ou outros tipos de locais de descarte não especificados no levantamento.
Além disso, 1,18 milhão de brasileiros não têm banheiro nem sequer um sanitário. Em 3.505 municípios do País, de um total de 5.570, menos da metade da população mora em domicílios com coleta de esgoto. Problemas de saneamento básico estão ligados à transmissão de doenças, como esquistossomose e cólera.
A situação mais crítica está na Região Norte, onde menos de 1/4 da população consegue fazer a destinação correta de seu esgoto. O Amapá apresenta o pior índice: por lá, apenas 10,9% dos habitantes têm acesso à rede geral de esgoto, fossa séptica ou fossa filtro, que são os sistemas de esgotamento considerados adequados pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plan-Sab).
Apesar dos números ruins, o Brasil vem melhorando suas condições de esgotamento sanitário nas últimas décadas. No levantamento realizado no ano 2000, 59,2% dos brasileiros destinavam corretamente o esgoto; o número chegou a 64,5% em 2010 e, agora, representa 3/4 da população (75,7%). (AE)