A Controladoria Geral de Disciplina (CGD) do Ceará afastou das funções o policial que atirou e matou o vendedor ambulante Taian Fé Nogueira, 27, durante uma abordagem policial na Praia de Iracema, na madrugada da última terça-feira, 12. Um processo disciplinar em desfavor do agente, que não teve o nome divulgado, foi instaurado no âmbito administrativo. A família e testemunhas contestam a versão policial e denunciam que o vendedor foi executado enquanto estava com as duas mãos algemadas para trás.
A ocorrência também é apurada pela Coordenadoria de Polícia Militar Judiciária (CPJM) por meio de um Inquérito Policial Militar (IPM). Em nota, a Polícia Militar afirmou que Taian foi ferido por um disparo ao tentar tomar a arma do agente de segurança. "A composição solicitou uma ambulância, mas por caráter de urgência e necessidade, se adiantou no socorro e levou o suspeito ferido junto da companheira na viatura policial até uma unidade hospitalar, onde o indivíduo chegou com vida, mas não resistiu", citava a nota.
A descrição afirma que a equipe policial apreendeu drogas com o grupo do qual Taian fazia parte e foi verificado que contra ele constava um mandado de prisão em aberto por roubo, emitido pela Vara de Execução Penal da Região Metropolitana de Belém do Tribunal de Justiça do Pará.
Testemunhas e a companheira de Taian, Raíssa Aquino, de 27 anos, que estavam no momento da abordagem, afirmam que o vendedor ficou nervoso quando anunciaram sobre o mandado de prisão. Ele teria dito que não sabia do que se tratava e pediu que chamassem um advogado, depois teria tentado fugir da abordagem e entrado no mar, algemado, quando foi baleado pelas costas.
Amigos e clientes da vítima, que também foram revistados pela Polícia pouco antes da morte de Taian, contam que o clima era de confraternização. Segundo um deles, que preferiu não se identificar, algumas pessoas do grupo já tinham voltado a sentar à mesa após o procedimento de revista da Polícia. Ele afirma que os policiais não acharam nenhuma droga ilícita nos pertences das testemunhas, apenas tabaco.
A situação escalou quando Taian correu em direção ao mar. A testemunha diz que a policial presente na composição teria gritado para o colega não atirar. “O cara correu algemado, ele não é peixe para conseguir nadar com as mãos para trás. Poderia só ter imobilizado”, diz a testemunha.
Conforme a descrição de Raíssa, após os tiros, o policial teria arrastado Taian, baleado, de dentro da água para a faixa de areia. "Ele pegou como se traz um bicho e jogou na areia. Depois que as pessoas do entorno começaram a falar, eles (policiais) abriram uma algema. A primeira algema foi aberta na areia, depois o policial me empurrou para retirar o resto da algema do meu marido. Tem vídeo e tem provas", aponta.
Raíssa afirma que os dois estavam trabalhando nos quiosques e preparavam churrasquinho para os clientes quando houve a abordagem. Taian deixa um filho de 4 anos. Ela lembra que o marido foi retirado do mar em convulsão e acredita que ele foi levado sem vida ao Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro de Fortaleza. "Fui com os policiais na viatura junto com meu marido morto. Fui com os mesmos policiais que mataram meu marido. No caminho eles não conseguiam falar nada, pois sabiam que tinham tirado a vida de um rapaz pai de família", descreve.
O velório aconteceu na Praia de Iracema ontem, 13, e o sepultamento será realizado hoje, 14, no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A família de Taian, que é do Pará, chega hoje ao Ceará.
Um dia após morte, ambulantes voltam aos poucos ao calçadão da Praia de Iracema
Os ambulantes que trabalham na Praia de Iracema voltaram ontem a abrir barracas e atender clientes um dia depois da morte do vendedor Taian Fé Nogueira da Costa, 27. Na terça-feira, 12, não houve a presença dos comerciantes no local. O calçadão ficou vazio, cena que surpreendeu quem passava.
O movimento por volta das 9h30 de ontem era fraco, com poucas pessoas na faixa de areia fazendo exercício. A maioria das barracas e carrinhos ainda estava sem funcionar. Com o passar da manhã, os trabalhadores foram chegando ao local. No início da noite, a movimentação foi aumentando.
Um dos vendedores, que não quis se identificar, afirmou que todos estavam de luto pela morte de Taian. Ele descreveu a vítima como “trabalhador, sempre sorridente”, e que tanto ele quanto a esposa eram conhecidos por todos.
O retorno ao trabalho também foi marcado pelo medo de represália por parte da Polícia, conforme o ambulante. Mesmo assustado, ele resolveu retornar ao trabalho. “Um dia sem comércio já é um prejuízo”, afirmou.