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Comoção de familiares marca enterro de ambulante morto em abordagem policial
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Comoção de familiares marca enterro de ambulante morto em abordagem policial

Sepultamento de Tainan Fé Nogueira da Costa, morto ma madrugada dessa terça-feira, 12, ocorreu no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia
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Sepultamento no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia  (Foto: arquivo pessoal )
Foto: arquivo pessoal Sepultamento no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia

Correndo pelo salão do cemitério, o menino veste a camisa com a fotografia do pai. Na estampa da blusa, a data de nascimento e a data do falecimento. O corpo do vendedor ambulante Tainan Fé Nogueira da Costa, de 27 anos, morto durante uma abordagem policial na madrugada de terça-feira, 12, na Praia de Iracema, foi sepultado nesta quinta-feira, 14, no cemitério Memorial Sol Poente, em Caucaia, na Região Metropolitana. A criança, de 4 anos, presenciou a morte do pai, que estava trabalhando no quiosque ao, supostantemente, tentar fugir de uma abordagem policial. Viu o pai sendo carregado pelos policiais, caído no chão, segundo a viúva. O POVO opta por não publicar o nome do menino, por se tratar de uma criança em situação vulnerável e da mãe do menino, para evitar a identificação do pequeno.

A mãe do menino conta que Tainan levava o filho para a escola todo dia, às 7 horas. Após o crime, teria acompanhado o pai, na viatura até chegar a uma unidade de saúde, onde a família foi informada que o ambulante de 27 anos não resistiu aos ferimentos.

Avó vem do Pará se despedir

O ônibus de parentes e amigos do ambulante morto em abordagem policial parou em frente ao cemitério, às 10 horas, quando começava o sepultamento. "Injustiça é o que não está faltando. Um cara algemado atingido pelas costas é muita covardia. Pelo que eu vi e pelo que eu soube, nem um bandido merecia ser morto assim, algemado e atingido pelas costas, imagine um trabalhado", afirma a avó do rapaz, uma senhora de 69 anos, que viajou do Pará ao Ceará para se despedir do neto. 

Não houve alegria do reencontro familiar, houve choro e tristeza. Velório, caixão, sepultamento. Ela trazia um semblante cansado, mas frisava as qualidades do neto, a quem chama de filho.  Como a filha engravidou na adolescência, ela foi responsável pela criação do rapaz. "Dei a ele a melhor educação. Era um menino prestativo, educado e trabalhador, ajudava todo mundo. Meu filho corria naquela praia para atender cliente, deixava de comer para ajudar os outros, não tinha dia ruim para ele", relata. 

Ela relata que o rapaz tinha antecedente criminal, mas que tinha ido embora do Pará para recomeçar a vida de forma honesta. "Ele teve um erro no passado, mas todo mundo tem uma segunda chance. Ele só queria trabalhar", afirma.

Mesmo no Pará, a avó relata que recebia ligações do neto todos os dias. "Ele ligava todo dia e dizia: 'Velha, eu te amo'", relata. 

Cada pessoa que estava naquele salão trazia consigo uma história sobre o rapaz. Eram lembranças de dedicação diante do quiosque na praia, de entrega de brinquedos que o casal fazia no Dia das Crianças, do companheirismo entre os dois. Depois da morte, a esposa frisou que perdia ali "o amor de sua vida". 

O menino, aos 4 anos, precisou aprender da mãe sobre a morte. "Infelizmente eu tive que dizer a verdade. Caiu a ficha que o pai dele não vai mais voltar, pois ele lembra do pai dele quando chegou no hospital. Ele presenciou tudo, deitou do lado do pai dele. Ele diz que o pai foi para o céu. Ele diz: 'já estou com saudade do meu pai, manda ele vir logo'", chora a mãe. 

Antes do sepultamento, houve uma oração. Em seguida, ao O POVO, familiares e amigos pediram Justiça em relação ao caso, um pedido para que o caso não fique impune. 

O caso: ambulante morto em abordagem policial

Na terça-feira, 14, um vendedor ambulante foi morto na Praia de Iracema. O rapaz, Tainan Fé Nogueira da Costa, de 27 anos, foi baleado durante uma abordagem policial.

Conforme os parentes, que teriam testemunhado a ação, os policiais verificaram que o vendedor possuía um mandado de prisão referente a um processo, de um crime ocorrido há aproximadamente sete anos, no Pará. O ambulante foi algemado e teria corrido em direção ao mar, onde foi atingido com disparo de arma de fogo. 

A versão divulgada pela Polícia Militar do Ceará afirma que houve uma abordagem contra o grupo e o suspeito, que possuía mandado de prisão em aberto, tentou tomar a arma do policial militar e entrou em luta corporal. A versão divulgada pela Corporação diz que foram encontrados entorpecentes, informação que é contestada pela família. 

As divergências também seguem em relação ao socorro. A nota da PMCE diz que o rapaz foi socorrido e encaminhado ao hospital, onde morreu. A família diz que ele morreu no local e foi levado em óbito para a unidade de saúde. 

Para a família e amigos, as imagens das câmeras de segurança da área devem ajudar a elucidar o caso para as autoridades. Todos reuniram vídeos da ocorrência, gravados pelos próprios ambulantes. No dia do caso, os proprietários dos quíosques não foram trabalhar. Eles relatam que estão com medo e, mesmo com documentação da prefeitura que dá o aval para comercializar naquela área, afirmam que não se sentem seguros ali. 

A Controladoria Geral de Disciplina divulgou que o policial militar apontado como responsável pelos tiros foi afastado preventivamente e que um processo para apurar a conduta dele foi aberto. 

 

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