Ana Carine tinha seis anos quando foi encontrada morta e com sinais de abuso sexual dentro de um carro ao lado de casa, na madrugada de ontem, 14, na Tabuba, em Caucaia. Criada pela tia-avó desde os três anos, dividia a casa com dois primos (um menino de 14 anos e uma menina de 18) e a bisavó de 85 anos. Desapareceu na tarde de quarta-feira, 13, foi procurada por horas pelos vizinhos e encontrada pela tia-avó em um porta-mala com sinais de abuso sexual. Seis pessoas, entre parentes e vizinhos, foram ouvidos e material genético foi coletado.
De acordo com apurações do O POVO, conforme os depoimentos, Carine foi encontrada envolta em um lençol branco. A tia-avó, Antônia Ferreira da Silva, 55, que a cria há três anos, foi quem a encontrou. Segundo o que foi revelado para a Polícia, com a lanterna do celular, Antônia iluminou o vidro traseiro do veículo, que fica na casa vizinha, e nesse momento viu os pés da criança. As seis pessoas que prestaram depoimento acabaram sendo liberadas ainda ontem e a Polícia agora aguarda os resultados dos exames periciais.
O POVO esteve na rua de areia com casas humildes onde a criança morava e conversou com parentes e vizinhos. A todo tempo, meninos e meninas entravam e saíam das casas, brincavam na calçada e acompanhavam todo o movimento de Polícia Civil, Polícia Militar, Perícia Forense e imprensa. A mãe da menina, que tem problemas psiquiátricos, também estava lá. "A Carine foi para o colégio e quando voltou, ali por volta de 11h, tirou a roupa por causa do calor. Tomou banho e almoçou. Aí foi o tempo que ela (a tia-avó) precisou sair, porque minha filha (a jovem de 18 anos) está fazendo um tratamento no posto" conta Eduardo Ferreira da Silva, filho de Antônia .
Ele conta ainda que, após sair de casa e deixar a menina no quarto, assistindo algo no tablet, com alguns metros de distância Carine correu para perguntar se a Antônia havia levado o celular. Eduardo não soube dizer se, dessa ida para encontrar a tia-avó, Carine havia voltado para casa ou não. "Ninguém viu mais ela não, nem o menino que tava aqui. Minha avó não sabe dizer nada, o policial até tentou conversar com ela, mas é sem condição. Quando minha mãe chegou do posto, perguntou por ela. O menino disse que ela tava no quarto, mas não", detalhou.
O tempo entre a ida ao posto de saúde e a volta para casa, conforme Eduardo, teria sido de duas horas. Ao não encontrar Carine, Antônia teria mobilizado os vizinhos, que começaram uma busca pelos arredores. Há muitos matagais e até uma lagoa no local. "Nesse meio, a 'Toinha' foi na delegacia para fazer a queixa do desaparecimento. Quando chegou de volta, tinha um monte de gente aqui, procurando, aí deu uma chuva e todo mundo entrou. Aí ela ficou preocupada e inventou de ir nesse carro, que tá há um monte de tempo parado. Começou a caçar e disse que achava que a Carine tava lá, alarmou para o dono do carro", contou.
Ele conta ainda que inicialmente acharam que Carine havia morrido asfixiada, que teria entrada no carro e não conseguiu sair. O veículo estava sem uso há meses e ficava com as portas sem travamento. "Pode ter sido um maníaco que pegou ela, fez as coisas e depois colocou lá", disse. No meio da entrevista, Eduardo recebe uma ligação de familiares que precisavam da identidade da mãe de Carine para liberar o seu corpo.
Carine nasceu e foi inicialmente cuidada por avós, depois da morte deles, aos três anos, foi morar com a tia-avó. Os vizinhos contam que a menina era alegre, falante, e que, assim como muitas crianças da rua, tinha o hábito de percorrer caminhos, como o da escola, sozinha. "Quando avisaram que ela tinha sumido, umas 18 horas, nos reunimos na igrejinha que tem aqui, oramos, e a comunidade inteira subiu o morro para procurar", conta uma vizinha que não quis se identificar.
Ela diz ainda que viu o momento em que a tia-avó de Carine a encontrou dentro do carro. "Eu já estava em casa, estava chovendo bastante, e ouvi uma pancada no carro, mas não sabia o que era. Com um pedaço eu vi uma mulher gritando, desesperada, aí eu saí correndo e avisando a todo mundo", contou.
Através de nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que a Perícia Forense do Ceará (Pefoce) "trabalha para identificar vestígios sexuais, bem como confirmar a causa da morte. As diligências contam com o auxílio de equipes da Delegacia Metropolitana de Caucaia. Mais detalhes serão repassados em momento oportuno para não comprometer os trabalhos policiais em andamento".