A Chapada do Araripe, localizado na Região do Cariri a cerca de 517,9 km de Fortaleza, deu mais um passo para ser reconhecida como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em 2025, de acordo com o Governo do Ceará. Na sexta-feira passada, 15, a Chapada entrou para a Lista Indicativa Brasileira do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a última etapa antes de receber o reconhecimento. Com uma área de quase 12 mil quilômetros quadrados (km²), a região abriga espécies típicas da fauna e flora locais, fontes naturais, grutas e sítios paleontológicos e arqueológicos.
“Esse processo é mais intenso. Estar na lista indicativa significa que o Iphan vai apresentar o bem para a Unesco. Existe uma cota da quantidade de bens que cada país pode apresentar por ano”, explica Jéssica Ohara, coordenadora de patrimônio cultural e memória da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult).
A partir disso, o projeto será apresentado ao Comitê de Patrimônio Mundial da Unesco e, então, será decidido se o local será, ou não, reconhecido. A Chapada busca o reconhecimento como Património Mundial Misto — que tem valor tanto natural quanto cultural.
De acordo com José Patrício Pereira Melo, ex-reitor da Universidade Regional do Cariri (Urca), o processo deve levar cerca de um ano para ser finalizado. A expectativa, de acordo com ele, é que a resposta seja dada em março de 2025.
Patrício esteve à frente de uma equipe com 12 pesquisadores, entre agosto de 2020 até março de 2023, para a elaboração de dossiês técnicos sobre a região, que foram apresentados ao Iphan.
Nas redes sociais, o governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), citava que o resultado seria divulgado ainda em 2024. “Existia essa data de 2024, porque esperávamos que a indicação na Lista [Indicativa] ainda em 2023, mas não entrou. O Governo Federal atrasou um pouco na atualização”, explica o ex-reitor.
Carlos Kleber Nascimento de Oliveira, atual reitor Urca, destaca que a decisão pode alavancar o turismo e a produção científica da região. “A Bacia Sedimentar do Araripe é um dos tesouros mundiais com indicativos da formação e transformação da terra. Possui fósseis do período cretáceo, com mais de 110 milhões de anos, e também faz parte da nossa cultura, com várias manifestações [populares].”
Para ele, o maior ganho será na valorização do território: a preservação ambiental, a valorização da cultura e o aumento do turismo sustentável, que poderá gerar mais desenvolvimento, emprego e renda para a região.
O reitor ainda destaca que o reconhecimento também facilitará o processo de repatriação de fósseis que foram contrabandeados para a Europa no passado. “O reconhecimento do território vai reforçar mais ainda a repatriação dos fósseis para a região do Cariri. Outra luta nossa é que os fósseis, que são da União, não voltem apenas para o Brasil, mas para a Região do Cariri, que é de onde eles saíram.”
Em dezembro do ano passado, o Cariri recebeu de volta 988 fósseis contrabandeados para a França após quase dez anos de tratativas. Também em 2023, a região repatriou o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, que estava há 30 anos na Alemanha.
De acordo com José Patrício Pereira Melo, ex-reitor da Urca, a campanha de reconhecimento da Chapada do Araripe como Patrimônio Mundial começou ainda em 2019 com o "Seminário Internacional Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade".
Em 2020, foram entregues documentos para solicitar a inscrição da Chapada como Patrimônio da Humanidade ao Iphan. “Eles gostaram de cara. ‘Tá muito legal, a gente viu que outras candidaturas não tiveram o mesmo cuidado, não eram iniciativas locais’. A candidatura da Chapada do Araripe era diferente das demais, porque era um movimento local para o nacional.”
O ex-reitor coordenou uma equipe técnica com 12 pesquisadores, entre agosto de 2020 até março de 2023, para a elaboração de um dossiê sobre a região. O projeto também contou com a participação da professora Conceição Lopes, da Universidade de Coimbra, em Portugal.
Em 2023, a Chapada do Araripe foi reconhecida como a primeira Paisagem Cultural do Ceará. Isso fortaleceu a candidatura da região à Lista Indicativa da Unesco.
De acordo com Wellington Ferreira da Silva Filho, professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Chapada do Araripe é relevante a nível mundial.
“A importância científica dessa Chapada reside na quantidade e na variedade de fósseis encontrados, em vários níveis, sendo que cada nível representa uma época diferente”, explica.
“Tem um intervalo que está situado em torno de 110 milhões de anos atrás. Os dinossauros existiram há cerca de 65 milhões de anos”, continua.
O professor ressalta que, em termos de diversidade, quantidade e qualidade, a região possui uma relevância a nível internacional. “Nós temos desde dinossauros, pterossauros, crocodilos, rãs, cobras e lagartos com patas, insetos em grande quantidade, peixes etc.”