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Prefeitura quer unificar mercados dos Pinhões e da Aerolândia; moradores dizem que não foram consultados
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Prefeitura quer unificar mercados dos Pinhões e da Aerolândia; moradores dizem que não foram consultados

Projeto da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf) pretende "reunificar" as estruturas e tornar o local Polo Gastronômico e Cultural no entorno da Praça Visconde de Pelotas, no Centro de Fortaleza
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Obra prevê remoção do Mercado da Aerolândia para o entorno da Praça Visconde de Pelotas, no Centro, onde hoje abriga o Mercado dos Pinhões (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Obra prevê remoção do Mercado da Aerolândia para o entorno da Praça Visconde de Pelotas, no Centro, onde hoje abriga o Mercado dos Pinhões

Os moradores do entorno dos mercados dos Pinhões e da Aerolândia, em Fortaleza, afirmam não ter conhecimento sobre o projeto do Poder Público Municipal que pretende “reunir” os equipamentos em um só como era originalmente.

Na quarta-feira, 17, o titular da Secretaria da Infraestrutura (Seinf), Samuel Dias, afirmou ao colunista do O POVO, Carlos Mazza, que em breve um projeto pretende “reunificar” as estruturas dos dois mercados de ferro em uma única região. O espaço com as duas estruturas terá 9 mil m² de área, com previsão de início das obras no primeiro semestre de 2025 e 18 meses de duração.

A estrutura do Mercado da Aerolândia será retirada do local e levada para o entorno da Praça Visconde de Pelotas, no Centro, que abriga o Mercado dos Pinhões. A junção tem o objetivo de construir um Polo Gastronômico e Cultural. Diante da divulgação do futuro projeto, moradores afirmaram que ainda não houve um diálogo com gestão municipal sobre o desenvolvimento do projeto, assim como da apresentação dele.

Morador e comerciante há 57 anos do entorno do Mercado dos Pinhões, Nazareno Saraiva, 57, disse que foi uma surpresa quando soube do projeto. “Não fomos consultados, o que foi dito aqui, antes da pandemia, é que iriam requalificar o mercado e o entorno, mas não juntar. Tenho comércio e acaba gerando uma preocupação, porque não sabemos o contexto. Se vier para somar está de bom agrado, mas a gente precisa saber como vai ser. Seria interessante se alguém viesse falar conosco”, admite.

Também morador há mais de quatro décadas do entorno da Praça Visconde de Pelotas, Jefferson Arruda, 46, disse que não foi consultado pela Prefeitura ou por alguma liderança comunitária do bairro.

“Só lançaram o projeto e não consultaram. Se não afetar o movimento, a gente recebe como positivo. Antes tinha feira e comércio de comidas e hoje está assim, abandonado. Acho que com o polo, possa ter mais movimento”, comenta.

Na Aerolândia, sentimento é de luto pelo Mercado

Diferentemente do cenário dos Pinhões, os moradores do bairro Aerolândia não aprovaram a junção dos mercados e veem como preocupante a remoção da estrutura. Eles também afirmaram que ainda não houve uma consulta da gestão municipal sobre a mudança. “Vão tirar um patrimônio daqui e a referência que temos do bairro”, lamenta a aposentada Francinete Roseno, 88.

A aposentada nasceu no bairro e sempre teve o Mercado da Aerolândia como um patrimônio, onde reune amigos e familiares. “Era um local que a gente dançava, conversava e era uma referência. O mercado é o nosso divertimento e aqui ninguém está querendo que ele saia. Ninguém da Prefeitura veio falar nada”, relata Francinete.

Para o autônomo Isac Pereira, 47, o pedido é que deixe o mercado no local e que a estrutura seja requalificada para que as atividades que aconteciam no local sejam retomadas. “Que aqui voltasse a vender fruta e carne e que voltasse a ser um mercado de verdade. Quando falam da Aerolândia, o ponto de referência é o mercado. Só falaram o que vão fazer e pronto, não procuram saber a opinião da população que mora aqui”, contesta.

Seinf pretende apresentar projeto consolidado às comunidades

Titular da Seinf, Samuel Dias explica que o que há hoje sobre a "reunificação" é um "layout". Ou seja, não há ainda um projeto executivo formulado. Ele adianta, porém, que a ideia é que o Mercado dos Pinhões seja reformado e se torne, com as duas estruturas, um polo cultural e de turismo.

"Vamos marcar reuniões, vamos até lá para mostrar e discutir. A gente não pode chegar na comunidade só com uma ideia, precisa criar algo concreto, visualizado. Que a gente possa mostrar a ideia e, a partir daí, fazer os ajustes necessários", detalha.

De acordo com ele, ainda não houve conversa com moradores do entorno dos Pinhões, porém, na região do Mercado da Aerolândia essa conversa com a população já tem acontecido. "Obviamente que é impossível conversar com toda a população, mas já procuramos lideranças locais, apresentamos o projeto e já entendemos quais são as necessidades da população naquela área", afirma. 

Nos planos estão quadra coberta, melhoria do piso da quadra, praça como mobiliário urbano, playground, equipamento de ginástica, cinco quiosques de alimentação e palco para eventos culturais.

"O histórico que a gente tem de utilização do Mercado (da Aerolândia) é pontual, basicamente para eventos na época do Carnaval. Teremos um espaço mais útil para a população".

Conforme Samuel, está marcada para a próxima terça-feira, 23, reunião com os moradores da Aerolândia. Na área do Mercado dos Pinhões, não há definição de data. 

 

Estrutura dos mercados foi importada da França

Emboram esteja separada há quase 90 anos, a estrutura dos Mercados dos Pinhões e da Aerolândia foi inaugurada como uma só. O Mercado de Ferro de Fortaleza, como era chamado, foi um prédio encomendado à oficina francesa Guillot Pelletier, a mesma responsável pela Torre Eiffel. Quem recupera a história é a pesquisadora Isabel Paz, e autora do livro "A Distância entre Nós Dois - História do Mercado de Ferro de Fortaleza".

Em 1937, a Prefeitura anunciou o desmonte da estrutura e sua realocação após um processo de "deterioração das condições do espaço".

"O que está sendo proposto é irresponsável, tanto no nível técnico, arquitetônico, quanto social e afetivo. Os dois mercados são patrimônios tombados a nível municipal desde 2012, são estruturas centenárias que podem sofrer com essa realocação.", defende a pesquisadora. Isabel frisa que "as pessoas frequentam o espaço e criam uma relação com ele, isso se renova com as gerações".

"O que os dois mercados precisam é de programação contínua, de qualidade, gratuita, com boa divulgação e bom diálogo com as comunidades, além da manutenção especializada e frequente da estrutura de ferro, que sofre com nosso clima. Não precisa passar por mais uma reforma radical. Eles precisam ser valorizados pelo que são e onde estão, para as pessoas desses territórios", justifica.

A Prefeitura de Fortaleza diz que reunir novamente as estruturas deve "resgatar o valor histórico dos dois mercados de ferro".(Ana Rute Ramires)

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