A cena pode ser interpretada como prestígio e união das várias instituições locais, ou também como uma cobrança implícita pela redução imediata dos atuais índices de homicídios no Ceará. O auditório do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp) ficou lotado, na manhã de ontem, para a posse do novo secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Sá.
Os discursos, tanto do governador Elmano de Freitas(PT) como do novo titular da pasta, foram acalorados, citando esta como "uma nova fase da segurança pública" e confirmando a necessidade de ações integradas entre vários órgãos e instituições e o maior policiamento nas ruas para enfrentar os índices de criminalidade.
Em 2024, 1.334 pessoas foram assassinadas no Ceará até o dia 19 de maio (última atualização divulgada pela SSPDS de Crimes Violentos Letais Intencionais - CVLIs). Média de dez homicídios por dia. O governador admitiu que a população cearense "neste momento está com medo" diante da violência. Na sua fala, usou a figura do cidadão e cidadã que vão trabalhar "e não sabem se voltam".
O ocupante anterior da SSPDS, delegado Samuel Elânio, no último dia 22, chegou a mencionar que o número de homicídios no Estado estaria com "número razoável", se comparado a um período maior. Cinco dias depois sua saída foi anunciada. No dia 29 foi confirmado o nome de Roberto Sá na pasta.
"Senti o convite como uma convocação", afirmou o empossado. "Atuaremos dentro da legalidade, mas com todo rigor possível, implacavelmente. Criminosos do Ceará, nós não daremos trégua", afirmou Roberto Sá. O termo "caçar" foi usado tanto pelo governador como pelo novo secretário.
Uma das novas medidas antecipadas pelo governador durante a posse será a criação, nos próximos dias, de um comitê estratégico integrado para discutir ações de segurança pública e combate ao crime. Reunirá diversos órgãos e instituições para dividir informações, operações, sugestões e responsabilidades no trato da criminalidade. A ideia é que isso aconteça em reuniões regulares.
O Comitê Estratégico será composto por órgãos operacionais e de inteligência da SSPDS e de outras secretarias estaduais, forças policiais federais e instituições como Tribunal de Justiça (TJCE), Ministério Público Estadual (MPCE) e Assembleia Legislativa (Alece). O grupo deverá ser coordenado diretamente pelo próprio governador. Os detalhes ainda serão divulgados.
Outra ação, cobrada diretamente por Elmano ao novo secretário, desde as primeiras reuniões internas e reafirmada nas declarações de ontem durante a posse, será o policiamento ostensivo mais presente as ruas. "Nosso povo tem que enxergar nossas forças na rua para protegê-lo", especificou o governador. "Bandido no Ceará será tratado como bandido", disse, sob aplausos. A plateia tinha de prefeitos a parlamentares, representantes comunitários e, na maioria, membros das forças de segurança do Estado.
O governo estadual também deverá anunciar, brevemente, um pacote de medidas para a área da segurança. Que incluirá, segundo Elmano, novos concursos para policiais militares e bombeiros, convocação de policiais militares já aprovados em concursos recentes, novos valores a serem investidos em operações de rua e ações de inteligência. Não foram antecipados número de vagas e cifras dos investimentos.
Na coletiva com a imprensa, uma das respostas mais curtas do governador foi sobre a possibilidade de o Ceará reimplantar a política de metas para redução de homicídios. "Esse é um dos temas que estamos discutindo e serão tratados quando anunciadas as novas medidas", afirmou Elmano.
Roberto Sá é delegado federal aposentado e tenente coronel reformado da Polícia Militar. Tem quase 40 anos de atuação na área. Já foi secretário da pasta no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. (com Dayanne Borges)
HINO
Por um problema no som, o Hino do Estado do Ceará foi cantado a capela, quase integralmente, pelos presentes no auditório. O governador fez elogios em seu discurso
"Não adianta estar no local se não for na hora que mais acontece"
Ainda ontem à tarde, Roberto Sá teria uma reunião com os órgãos vinculados da SSPDS. Seria abastecimento de dados e informações sobre o contexto da violência no Ceará, "onde o crime está acontecendo". Um dos critérios para definir onde as viaturas e fardas policiais deverão ser posicionadas mais ostensivamente, cobrança feita pelo governador, será o mapeamento disponibilizado a ele sobre as zonas mais violentas.
Na reunião estava prevista a participação de gestores das polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, Perícia Forense (Pefoce),Academia Estadual de Segurança Pública (Aesp) e da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
"Eu pedi para me apresentar o modus operandi, georreferenciado no tempo e no espaço onde está acontecendo, quando aconteceu. Não adianta estar no local se não for no horário que mais acontece. Não adianta estar no horário que está acontecendo, se você não estiver bem localizado. Qual o recurso humano que estamos colocando para atuar ali?", explicou.
E especificou: "É o policiamento ordinário, extraordinário complementar, com hora extra, é o Raio (Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas), é o (Batalhão de Policiamento de) Choque, é o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais)? Quem é que está disponível para a gente massificar essa presença, fazer uma operação de saturação?".
Roberto Sá disse que teve conhecimento dessas áreas logo que chegou ao Ceará, mas não quis pontuar esse detalhamento. "Vocês sabem onde estão acontecendo, há uma transparência do governo nesses números muito grande, todo mundo sabe", justificou.
Mudança nas polícias e órgãos vinculados não foi confirmada
Na coletiva logo após tomar posse, o novo titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Sá, não antecipou quando e se fará a troca de gestores dos órgãos vinculados ao organograma da pasta. A pergunta foi feita a ele e ao governador Elmano de Freitas.
"Isso vamos conversar com o secretário. Estamos discutindo um conjunto de medidas. Se houver, ficará a cargo do secretário, que terá carta branca para montar sua equipe", afirmou Elmano.
Neles estão inclusos Polícia Militar (PMCE), Polícia Civil (PCCE), Corpo de Bombeiros, Perícia Forense (Pefoce), Academia Estadual da Segurança Pública (Aesp) e Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
Todos os atuais ocupantes dos cargos dos seis órgãos compareceram à posse na manhã de ontem. Durante o evento, delegados e comandantes da PMCE não quiseram falar sobre medidas e diretrizes já discutidas em reuniões com o novo secretário. Havia orientação para que evitassem repassar informações à imprensa.
No seu discurso, de 11 minutos, Roberto Sá foi interrompido três vezes por aplausos. A primeira foi quando disse que não daria trégua aos criminosos do Ceará. As outras duas vezes foram quando dirigiu mensagens diretas aos agentes de segurança.
"Tenho por parte do governador a missão de combater o crime 24 horas, mas cuidando também da dignidade do servidor, nosso profissional de segurança pública. Precisamos cuidar de quem cuida dos outros. Pode ter certeza que estará nas nossas pautas prioritárias", afirmou.
Ele disse que quer garantir "tranquilidade" também aos policiais "que saem de casa para fazer o seu ofício". A categoria também tem dado relevante na estatística de violência. Neste ano, 10 policiais foram assassinados no Ceará, entre agentes da ativa e reformados.