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Em meio a disputa entre facções, Quintino Cunha registra 12 homicídios em 5 meses
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Em meio a disputa entre facções, Quintino Cunha registra 12 homicídios em 5 meses

Conflito teve início após integrantes da facção PCC decidirem ingressar no CV. Homens apontados como lideranças das organizações criminosas na região foram presos
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ASSASSINATO no bairro Quintino Cunha (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais ASSASSINATO no bairro Quintino Cunha

Um homem, ainda não identificado formalmente, foi morto a tiros na noite do dia 7 de outubro, na comunidade do Sossego, localizada no bairro Quintino Cunha, em Fortaleza. Foi o mais recente caso de assassinato registrado no bairro, que se tornou um dos mais violentos da Capital em 2024.

Levantamento do O POVO aponta que, de maio a outubro, pelo menos 12 homicídios foram registrados no Quintino Cunha. Por trás dessa violência, está a disputa entre as facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).

Os homens apontados como chefes das duas facções no bairro foram presos pela Polícia Civil. Inquéritos policiais aos quais O POVO teve acesso mostram que o conflito teve início quando criminosos que, até então, integravam o PCC anunciaram, por meio de vídeos nas redes sociais, que deixariam a facção para ingressar no CV.

As investigações identificaram que, até então, o crime na comunidade do Sossego era dividido em duas áreas de influências. Na parte “de cima”, atuava Francisco Lindolfo de Souza, de 32 anos, conhecido como “Gogó”. Já na parte “de baixo”, agia o grupo de Laudênio Rodrigues Santos Gomes, o “Russo”, de 35 anos.

Enquanto integrantes do PCC, Lindolfo e Laudênio eram aliados, mas, após Laudênio decidir migrar para o CV, os dois e seus comandados passaram a ser rivais. Um policial militar ouvido no inquérito que investigou a morte de Francisco Joacy Lima de Oliveira, de 32 anos, crime ocorrido em 6 de maio, afirmou que “boatos” davam conta de que o conflito teve início após assaltos ocorridos na área de Lindolfo, crimes cometidos por pessoas ligadas a Laudênio.

A morte de Francisco Joacy, que também era conhecido como Queixão, foi a primeira a ser apontada pela Polícia Civil como resultado da cisão. Conforme apuração do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a vítima integrava o PCC e, ao lado de comparsas da facção, a mando de Lindolfo, foi até o local do crime para uma espécie de reunião.

O objetivo era fazer com que os comandados de Laudênio desistissem de "rasgar a camisa" e permanecessem no PCC. Entretanto, o encontro, conforme a 6ª DHPP, era uma armadilha: Laudênio já havia decidido matar Quexão. Uma testemunha disse ter visto um grupo de cerca de dez pessoas armadas, que surgiram da rua Edna Neves, momento em que começaram os disparos. Além de Queixão, outras três pessoas foram baleadas, mas sobreviveram.

Após a morte de Queixão, o PCC decidiu vingar-se. Em 4 de junho, um homem que teria participado do homicídio, Francisco Jefferson de Lima, o “Poeta”, foi morto a tiros. A mais violenta dessas ocorrências viria a ocorrer no dia 14 de julho, quando duas pessoas foram mortas e outras duas ficaram feridas.

O crime foi atribuído pela Polícia Civil ao PCC. As vítimas seriam familiares e aliados de Laudênio. O CV, por sua vez, está por trás de cinco homicídios entre maio e setembro, conforme relatório elaborado pela 6ª DHPP em 11 de setembro.

Em 26 de julho, Laudênio foi preso. A esposa dele, Francisca Nádia Ribeiro Ferreira, de 29 anos, também foi presa, em 13 de setembro, suspeita de ter assumido o lugar do marido após ele ser preso e, com isso, ordenado assassinatos na região.

Lindolfo, por sua vez, foi preso em 20 de setembro. Ambos os suspeitos negaram integrar as facções. Em depoimento, Lindolfo afirmou não saber por que é apontado como chefe do PCC na região. Ele chegou a negar saber se Laudênio e Francisca Nádia são integrantes do CV.

Já Francisca Nádia disse que partia de Lindolfo as acusações inverídicas de que ela e o companheiro eram lideranças do CV. A mulher disse que Lindolfo ameaçava o casal, motivo pelo qual os dois deixaram a comunidade. Apesar disso, pessoas capturadas suspeitas de serem faccionadas confirmaram em depoimento o papel de liderança de Lindolfo, Laudênio e Francisca Nádia.

Confira a linha do tempo dos homicídios ocorridos no Quintino Cunha em 2024

6 de maio — Francisco Joacy Lima de Oliveira, de 32 anos

A primeira morte dessa sequência vitimou um homem apontado como integrante do PCC. Três pessoas foram denunciadas pela morte de Queixão, que é como a vítima era conhecida. Laudênio foi apontado como mandante; enquanto Francisco Jeferson de Lima, o “Poeta”, e Francisco Aglailton Nogueira Sales, o “Agla”, foram apontados como os executores. O homicídio ocorreu por volta das 19h15min na rua Pio Saraiva.

4 de junho — Francisco Jefferson de Lima, de 28 anos

Poeta, como a vítima era conhecida, havia participado, conforme o DHPP, da execução de Queixão. Por isso, em vingança, o PCC teria ordenado a morte dele. As investigações, porém, continuam para identificar os envolvidos na execução.

13 de julho — Leandro da Silva Rodrigues, de 30 anos

O crime foi registrado por volta das 6h30min na Travessa Brasil. Elker Castro de Melo, o “Lorim”, de 30 anos, foi denunciado pelo MPCE como o autor do crime. Conforme a denúncia, Elker havia convidado Leandro para praticar roubos, mas, em um momento em que a vítima estava de costas, o acusado atirou em sua nuca. Conforme relatório do 6º DHPP, o homicídio foi uma “prova de batismo” para que Elker pudesse passar a integrar o CV — ele que, até então, era membro do PCC.

14 de julho — Antônia Glauciene de Souza Abreu, de 30 anos, e João Marcos Nunes do Nascimento, de 24 anos

As vítimas estavam na esquina das ruas Arapuca e Santa Maria Gorete, por volta das 14h55 min, quando foram surpreendidas pelos disparos, que também deixaram feridas outras duas pessoas. A investigação apontou que os autores do crime pertencem ao PCC, já que as vítimas eram ou familiares, ou aliados de membros do CV. O inquérito, porém, segue em andamento sem indiciados.

26 de julho — Francisco Genésio Sousa, de 39 anos

Djow, como era conhecido, estava bebendo em um bar localizado na rua 1 quando dois homens chegaram em uma moto e efetuaram diversos disparos contra ele, atingindo ainda uma outra pessoa.

Instantes antes, em um outro bar do bairro, os atiradores já haviam baleados duas pessoas. Laudênio, Francisca Nádia e Maxwell Oliveira de Souza, o "Marreta", de 20 anos, são réus pelo crime, que ainda contou com a participação de um adolescente, conforme a investigação.

“Tais ataques destinam-se a impor temor na região atacada, tendo como alvos não apenas pessoas que os réus acreditem sejam vinculadas diretamente à facção rival, mas também têm como potenciais alvos cidadãos que morrem ou circulem na região no momento do ataque”, afirmou o MPCE.

27 de julho — Maria Célia Vaz da Silva, de 44 anos

Conforme a investigação, a vítima estava na rua Ipiranga quando um adolescente chegou em uma bicicleta e a assassinou a tiros. Conforme a Polícia Civil, Maria Célia foi companheira do irmão de Francisca Nádia, homem que foi embora para São Paulo por não querer “rasgar a camisa” do PCC.

Uma testemunha afirmou que Maria Célia queria denunciar integrantes do CV, pois era ameaçada pelos faccionados. Laudênio e Francisca Nádia foram denunciados como mandantes do crime. O adolescente suspeito de envolvimento no caso confessou o ato infracional, mas negou ter recebido ordens de Laudênio e Francisca Nádia. Conforme ele, a vítima teria ameaçado-a, chegando, inclusive, a agredir a mãe dele

2 de agosto — Vítima do Sexo Masculino não Identificada

Inquérito não localizado pela reportagem

6 de agosto — Mulher de 35 anos não identificada

Inquérito não localizado pela reportagem

24 de agosto — Camila Santos da Silva, de 31 anos

Camila foi morta por volta das 3h41min da madrugada na rua Anderson Carvalho. Ela aguardava um carro de aplicativo quando foi surpreendida pelos disparos de criminosos que trafegavam em um automóvel.

Depoimentos de testemunhas foram contraditórios sobre os motivos que teriam levado à execução, mas corroboraram que integrantes do CV foram os responsáveis pela morte. Camila não tinha antecedentes criminais e deixou três filhos.

26 de setembro — Homem de 47 anos não identificado

Inquérito não localizado pela reportagem

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