Região do Parque Estadual do Cocó, em Fortaleza, atingida por um grande incêndio no início deste ano, está recebendo um conjunto de aceiros para a contenção de novos sinistros. Iniciado na segunda metade do mês de outubro, os trabalhos de prevenção a novas tragédias ambientais devem ser concluídos até dezembro.
Os aceiros são uma técnica para evitar grandes incêndios em terrenos de extensa área verde. Neles, parte da vegetação é removida, formando espécies de “ilhas” e criando um vácuo entre as plantas presentes naquele local. A medida funciona como uma barreira para o fogo que, sem contato com as faixas isoladas, não avança no perímetro, impedindo o crescimento repentino do incêndio.
“Ele é preventivo. Toda ação de evitar um incêndio é a prevenção. Foi uma forma que a gente encontrou de prevenir. Desse fogo, se de fato vier a acontecer, a gente ter uma facilidade de conter esse incêndio”, explica a bióloga e gestora adjunta do Parque do Cocó, Viviane Carneiro.
No Cocó, estes aceiros estão sendo colocados em zonas verdes que fazem contato com regiões vizinhas, como os bairros Cidade 2000 e Luciano Cavalcante.
As localizações atendem a uma estratégia adotada pela gestão do Parque, já que parte dos incêndios ocorre por intervenção humana através da queima indevida de lixo ou de folhagem.
“As áreas que a gente pretende fazer esse trabalho de aceiro são as mais vulneráveis a estar acontecendo isso [queimas], que são áreas que estão cercadas. Os trabalhos de aceiros vão ser feitos nessas áreas de maior vulnerabilidade de risco de incêndio, tipo aqui [Cidade 2000] e lá na Murilo Borges”, acrescenta a bióloga.
O início de 2024 trouxe severos danos ao Parque do Cocó. Ao todo, 27 ocorrências de incêndio foram atendidas por equipes do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) dentro da área de preservação na Capital durante o mês de janeiro.
Dentre esses chamados, 13 foram realizados entre 18 e 21 de janeiro, período em que as chamas consumiram parte significativa do parque e espalharam cinzas e um forte odor por diferentes bairros de Fortaleza.
Para se ter uma ideia da dimensão do impacto causado por este sinistro, o número de chamados atendidos pelos bombeiros no Parque, apenas durante os quatro dias do incêndio de janeiro, superou o acumulado de todos os outros meses do ano até aqui, que somam nove ocorrências.
Confira imagens dos aceiros:
O alto número de 27 atendimentos é considerado atípico pela gestão do Parque, e muito impulsionado pelos dias de combate às chamas iniciadas no dia 18. Entretanto, o objetivo é terminar os aceiros antes da quadra chuvosa (que pode atrapalhar os serviços) para mitigar ao máximo as chances de novos incidentes com tamanha proporção.
“A pretensão é que a gente consiga fazer até agora comecinho de dezembro. Dependendo da quadra chuvosa, já dificulta esse trabalho. Então, a previsão é de que a gente conclua esse trabalho até o começo de dezembro”, pontua Viviane Carneiro.
Além do aceiro, medidas de monitoramento têm sido adotadas pela gestão do Parque junto às forças estaduais de segurança para intensificar a fiscalização de queimas indevidas e uso irregular do Parque do Cocó.
Porém, a bióloga também alerta para o papel dos moradores na preservação, evitando o uso de fogueiras, entrada com garrafas de vidro, plástico e outros tipos de lixo que venham a poluir a área ambiental.
“Dentro do plano que a gente faz, que estamos apresentando para o Ministério Público, a gente tem essas ações dentro da comunidade. Mobilizar as comunidades para a gente tratar sobre isso. A gente vai, passa, convida. Vão? Vão não”, conclui a gestora adjunta do Parque.
Em agosto, foi firmado acordo de cooperação técnica entre o Ministério Público do Ceará e a Sema para implementação de ações conjuntas para recuperação do Parque.