O Ceará registrou 1.102 casos de hanseníase em 2024. O número é menor do que os identificados em 2023, mas segue a média de casos anuais da última década no Estado. A doença, que ainda é considerada um problema de saúde pública no Brasil, pode ser curada e tem tratamento simples e gratuito. No entanto, a procura tardia pelo diagnóstico pode resultar em se-
quelas incapacitantes.
A hanseníase é rodeada de estigmas devido ao histórico de exclusão que pessoas infectadas eram impostas. Com os tratamentos disponíveis atualmente, a administração de um antibiótico específico para a doença por seis meses a um ano pode ser suficiente para atingir a cura.
O remédio é oferecido em postos de saúde e a transmissão também pode ser interrompida ainda no início do tratamento, sem necessidade de isolamento do paciente.
Apesar do contágio ocorrer por meio do contato com secreções e gotículas de saliva de uma pessoa infectada pela bactéria causadora da hanseníase (Mycobacterium Leprae) e ainda sem tratamento, é preciso um tempo prolongado de convivência para contrair a doença.
"A contaminação é lenta. Não é, por exemplo, como o vírus Influenza, que é a gripe, que você tem contato com a pessoa e logo já desenvolve. Não, você precisa ter um contato mais prolongado para realmente você vir a desenvolver", explica Carlos Garcia, coordenador da Célula de Vigilância e Prevenção de Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis (Cevep) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
O sucesso do tratamento, uma vida sem sequelas e a diminuição da transmissão depende de um diagnóstico rápido.
"Os pacientes que apresentam sequelas em geral, posso até dizer que quase 100%, são aqueles que demoraram a procurar um diagnóstico", ressalta a dermatologista Araci Pontes.
Araci é diretora do Centro de Referência em Dermatologia Dona Libânia (Cderm), um dos equipamentos de referência no tratamento das sequelas de hanseníase
no Ceará.
Ela explica que em média 10% dos pacientes já chegam ao diagnóstico com alguma sequela, como a perda de sensibilidade e de força nas mãos ou nos pés.
Pessoas mais vulneráveis socioeconomicamente são as mais afetadas. Isso é resultado da falta de informação, acesso à saúde e condições precárias de vida. Em 2024, 22,78% dos pacientes com a doença no Ceará (251) só tinham estudado até o ensino fundamental I.
Os principais sintomas são manchas - brancas ou avermelhadas - dormentes, com falta de sensibilidade à temperatura e ao tato. "Também há associada uma diminuição na quantidade de pelos naquelas manchas", informa Araci.