O Ceará realizou, pela primeira vez, uma terapia com células CAR-T. A abordagem é destinada ao tratamento de casos graves do câncer de Leucemia Linfoide Aguda (LLA), para pacientes que não obtiveram respostas a outras abordagens.
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A aplicação do tratamento foi realizada no último sábado, 1º, em Fortaleza. A expectativa de médicos e pesquisadores é que, futuramente, o procedimento possa ser disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado.
A paciente que recebeu o procedimento é uma jovem de 17 anos, diagnosticada com leucemia linfoide aguda (LLA), tipo de câncer do sangue e da medula óssea que afeta os glóbulos brancos. Ela agora passa pelo período de observação.
O procedimento foi realizado no Hospital Monte Klinikum, no bairro Meireles. A ação foi feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com uma parceria com o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce).
Segundo Fernando Duarte, coordenador do Centro de Processamento Celular do Hemoce e chefe de Hematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), a jovem já havia passado por dois transplantes de medula óssea, mas sofreu uma recidiva com infiltração no sistema nervoso central.
“Sem mais opções terapêuticas, o tratamento com células CAR-T surgiu como uma alternativa, já que ela é indicada principalmente para pacientes que estão em estágio avançado da doença e já tentaram outras alternativas, mas sem uma boa resposta”, comenta.
A técnica consiste na coleta de células de linfócitos do próprio paciente e modificá-las geneticamente em laboratório. Esse processo usa um vírus projetado para ensinar as células a reconhecer e destruir as células doentes, criando as chamadas células CAR-T. Depois da modificação, elas são reinfundidas no paciente.
Dr. Duarte aponta que uma das principais vantagens do tratamento com células CAR-T é que ele é feito em uma única aplicação. “O objetivo é eliminar a doença de forma definitiva. A infusão dura cerca de duas horas, mas o paciente precisa ficar internado por aproximadamente 20 dias, podendo variar conforme o caso”, explica.
“Diferente da quimioterapia, que tem um efeito generalizado, essa abordagem é altamente específica. As células modificadas aprendem a atacar apenas as células tumorais, tornando o tratamento mais direcionado e potencialmente mais eficaz”, aponta Luciana Carlos
Diretora Geral do Hemoce.
A técnica já é utilizada há 12 anos nos Estados Unidos e há sete anos em países da Europa, além de também ser executada na China e no Japão.
O Brasil foi pioneiro na América Latina no tratamento com células CAR-T, inicialmente disponível apenas em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Salvador. Agora, o Ceará se tornou o quinto estado do país e o segundo do Norte-Nordeste a oferecer essa terapia.
No Ceará, há duas modalidades de tratamento: o acadêmico e o da indústria farmacêutica. Pesquisas acadêmicas ocorrem no Hospital Universitário Walter Cantídio, por meio do projeto ‘MandaCARu-T”, em parceria com o Hemoce.
Já o tratamento por meio da indústria é realizado no Hospital Monte Klinikum, o único no Estado habilitado para esse procedimento.
Segundo a Diretora Geral do Hemoce, Luciana Carlos, no Brasil, alguns produtos de terapia celular já foram aprovados pela Anvisa, mas devem ser utilizados exclusivamente em centros de processamento celular credenciados. O Hemoce obteve esse credenciamento, o que possibilita que hospitais do Ceará realizem essas terapias com o apoio da instituição.
Atualmente, o tratamento CAR-T Cell custa em torno de US$ 1 a 2 milhões por paciente, quando feita com insumos importados. “Por isso, estamos desenvolvendo nosso próprio produto para reduzir a dependência de importações. Enquanto isso, seguimos credenciando hospitais para oferecer acesso às terapias disponíveis”, explica a diretora.
Conforme os especialistas, apesar da regulamentação dessa metodologia no Ceará ainda estar no início, a tendência é que outros procedimentos ocorram ainda neste ano. “Em breve, esperamos que nosso próprio produto esteja disponível para a população”, diz Luciana Carlos.
A perspectiva é que o tratamento seja oferecido pelo SUS dentro do Hospital Universitário Walter Cantídio, em parceria com o Hemoce.
Em julho de 2024, o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC) foi selecionado na chamada pública da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para receber R$ 12 milhões e implementar a terapia celular CAR-T Cell no Ceará.
Os próximos passos incluem testes rigorosos e submissão à Anvisa para viabilizar a oferta do tratamento, inicialmente no Ceará e, depois, em outros estados do Nordeste e Norte.
Avanço
O tratamento custa em torno de US$ 1 a 2 milhões por paciente, quando feita com insumos importados, mas conforme o Hemoce, o Estado está desenvolvendo o próprio produto a fim de reduzir a dependência de importações. Em julho de 2024, o Complexo Hospitalar da UFC foi selecionado na chamada pública da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) para receber R$ 12 milhões e implementar a terapia celular CAR-T Cell no CE