Permissionários da Praia de Iracema, em Fortaleza, alegam que passaram a sofrer prejuízo financeiro após a Prefeitura suspender o aluguel de patinetes elétricos na região, há mais de duas semanas. Município informa que medida busca regularizar o serviço na Capital, evitando que veículos possam provocar acidentes.
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Conforme Maurício Silva, 43, no dia 31 de março último, eles foram surpreendidos com o comunicado de que não poderiam mais atuar com esse tipo de equipamento.
Já nessa semana, os permissionários foram informados da revogação das "permissões para exploração comercial de aluguel de patinetes e motonetas elétricas na área do Aterro da Praia de Iracema".
No primeiro documento enviado aos trabalhadores, que O POVO teve acesso, a Prefeitura informa que a suspensão seria por tempo "indeterminado" e pontua que a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) está preparando um decreto de mobilidade urbana para o uso de patinetes e motonetes elétricos na Capital.
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"O nosso grupo se sente prejudicado porque nossas permissões estão vigentes, mas o nosso equipamento, que é 80% do nosso trabalho, da nossa fonte de renda, não vai poder ser usado. O nosso pedido é que o prefeito olhe com carinho pra situação que estamos vivendo," reivindica Maurício Silva.
De acordo com Maurício Silva, 24 permissionários atuam na orla da Praia de Iracema, em trechos que compreendem a Regional 2 e a Regional 12. Muitos deles estão no local há cerca de vinte anos.
"Que nos chamassem pra conversar, pra explicar. Nós somos permissionários há vinte anos no calçadão e não estamos sabendo nada, só (sabemos) que tem que parar de trabalhar. E parar de trabalhar pra nós não dá, porque temos família pra sustentar, e tem conta pra pagar", pontua Mauricio Silva.
No último sábado, parte dos permissionários foi ao evento de entrega da reforma do Pavilhão Atlântico, no Poço da Draga. Eles posicionaram alguns patinetes no local, uma espécie de protesto silencioso contra a suspensão do aluguel desses equipamentos.
Uma das trabalhadoras presentes, que não quis se identificar, pontuou que o trabalho que eles realizam na área ajudou a atrair pessoas para a orla. Além disso, ela demostrou apreensão com a chegada da empresa Jet Brasil Patinetes, que deve instalar 2 mil veículos desse porte na Capital, sendo 450 desses na orla.
A empresa chegou a funcionar na Praia de Iracema no inicio deste mês de abril, mas teve atividade suspensa e espera autorização da Prefeitura para retomar atuação. "O movimento (na região) quem levantou foi a gente, ai agora querem tirar a gente e deixar a empresa?", questiona a permissionária.
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"Eles podem vim (empresa), mas que a gente continue trabalhando também. E que respeite (nossos pontos)", destaca outra trabalhadora que participou do protesto, e que também não quis se identificar.
De acordo com o permissionário Maurício Silva, o medo de quem foi afetado com a suspensão é o mesmo: (Estamos) apreensivos de sermos descartados, como quem nunca tivesse feito nada pela orla, e nós estamos ali há vinte anos. Tinha áreas que não era frequentada, nós chegamos lá e mudamos a situação".
Por enquanto, trabalhadores seguem atuando com aluguel de outros tipos de veículos, como bicicletas, mas rendimento não é mais o mesmo.
"(Está dando para) sobreviver sim, mas para se manter não, pois as contas chegam, tem parcelas de equipamentos para pagar ainda. Então, as coisas estão bem difíceis, o rendimento que o elétrico dá, o analógico nem se compara", pontua o permissionário Maurício.
No mesmo evento do Poço da Draga, onde protesto foi realizado, o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT) conversou com O POVO sobre o assunto. Na ocasião, ele disse que a empresa Jet Brasil Patinetes não terá exclusividade no serviço e frisou que suspensão é para regulamentar serviços.
"Não é porque chegou uma empresa que ela vai ter exclusividade pra somente ela (atuar). Nenhuma dessas empresas estavam regulamentadas. Eu pedi pra fazer uma reunião com a AMC para regulamentar (serviço). (Veículos não vão) poder andar, por exemplo, em local de pedestre", frisou.
Procurada pelo O POVO, a AMC e a Regional 2 informaram que "o aluguel de patinetes e motonetas elétricas passa por estudo que estabelece critérios de segurança para o uso dos equipamentos, sobretudo para evitar acidentes como os presenciados em outras grandes cidades do Brasil".
"A medida tem como objetivo regularizar o serviço na capital, o que nunca foi feito. A Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) trabalha um decreto específico que disciplinará o uso desses modais no sentido de ordenar o espaço público e a convivência harmônica entre os usuários", destacam em nota.
Conforme AMC, não há um levantamento que mostre o número de acidentes causados por veículos desse tipo na orla da Praia de Iracema.
"O órgão trabalha para finalizar o decreto o mais rápido possível, para que os permissionários e as empresas possam adequar os serviços às regras estabelecidas", frisou.