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Fortaleza tem o maior número de famílias em situação de rua do Nordeste
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Fortaleza tem o maior número de famílias em situação de rua do Nordeste

Índice considera apenas os grupos registrados no Cadastro Único (CadÚnico); em relação aos estados, Ceará tem o segundo maior índice da região nordestina
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Pessoas morando em situação de rua nos viadutos de Fortaleza. Viaduto da BR 116 com Borges de Melo (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Pessoas morando em situação de rua nos viadutos de Fortaleza. Viaduto da BR 116 com Borges de Melo

Morando debaixo de barracos improvisados na rua ou ao relento de espaços como praças e viadutos. Em Fortaleza, essa era a realidade de 9.657 famílias em fevereiro recente. Índice, que considera apenas os grupos registrados no Cadastro Único (CadÚnico), é o maior registrado entre as cidades do Nordeste.

Número foi extraído da Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (Sagi), unidade técnico-administrativa do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). 

Conforme dados, no ranking da região nordestina o município cearense tem o maior quantitativo, seguido por: Salvador (BA), com 9.215, Recife (PE), com 3.626, São Luis (MA), com 1.967, e Maceió (AL), com 1.761.

Já no recorte das cidades brasileiras, Fortaleza aparece em quarta colocação, ficando atrás de São Paulo (90.425), Rio de Janeiro (21.630) e Belo Horizonte (14.3843) — todas sudestinas.

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Índices podem ser ainda maiores, uma vez que correspondem apenas aquelas famílias que estão cadastradas no CadÚnico, instrumento do Governo Federal que permite que pessoas em situação de rua sejam amparadas e inseridas em programas sociais, usufruindo de políticas como o Bolsa Família.

Ferramenta passa atualmente por um amplo processo de correção e qualificação dos registros dos grupos familiares inscritos. De acordo com informações divulgadas pelo MDS, em dezembro de 2022 menos de 60% da base de dados do órgão estava tratada, indicador que no momento já se aproxima de 90%. 

Procurada pelo O POVO, a Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) informou que identifica o contingente de pessoas em situação de rua pela base de dados do Cadastro Único, pontuando que em março de 2025, registrou 10.071 pessoas nestas condições em Fortaleza.

Situação de rua em Fortaleza: maioria são homens pardos ou pretos

Dessas, 8.213 se autodeclaram pardas ou pretas. A maioria são homens (8.574) e se encontram em extrema vulnerabilidade socioeconômica. Muitas dessas pessoas não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e 2.591 das famílias sobrevivem com recurso provenientes da coleta de recicláveis. 

As Regionais 12, 2 e 4 estão entre as que mais registram indivíduos em situação de rua, conforme Prefeitura. Em relação aos motivos que levaram grupos a rua, Prefeitura aponta que entre as principais causas estão conflitos familiares, uso de substâncias ou ainda perda de moradia ou de emprego.

Ainda de acordo com a SDHDS, atualmente Fortaleza mantém uma rede de 14 equipamentos municipais de Assistência Social para população em situação de rua.

Entre eles estão duas casas de acolhimento, com 50 vagas cada, duas Pousadas Sociais para hospedagem noturna, com 240 vagas ao todo, dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP), três Espaços de Higiene Cidadã, um Centro de Convivência, uma Casa de Passagem com 50 vagas, dois Refeitórios Sociais e distribuição de refeições por busca ativa, além de 300 vagas de aluguel social. 

"A SDHDS reforça que o atendimento nos equipamentos é realizado por demanda e que o número de vagas é rotativo. Nos dois Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros Pop Benfica e Centro), é feito o atendimento socioassistencial, jurídico e psicológico. Os equipamentos auxiliam na emissão de documentos e no cadastramento em programas sociais, como Bolsa Família, Aluguel Social, entre outros serviços", destaca pasta. 

Ceará é o segundo estado da região com o maior índice

Em números gerais, conforme dados do Cadastro Único, o Brasil tinha 320.386 famílias vivendo em situação de rua em fevereiro de 2025, sendo que 12.167 delas se encontravam no Ceará.

Estado é o segundo do Nordeste com o maior índice de grupos do tipo vivendo nessa condição, ficando atrás apenas da Bahia, que contabilizava 14.705. Maranhão fica em terceiro lugar com 3.245; Rio Grande do Norte em quarto com 2.613; e Alagoas em quinto, com 2.249 famílias vivendo em situação de rua.

Já quando se olha para as cidades do Ceará, depois de Fortaleza, que tem 9.657 famílias vivendo nessa condição, contabilizam os maiores números: Caucaia, com 436; Maracanaú, com 312; Sobral, com 240; Juazeiro do Norte, com 195; Maranguape, com 139; Crato, com 109; e Pacatuba, com 85. 

Número de famílias em situação de rua nos estados do Nordeste

  • Bahia: 14.705
  • Ceará: 12.167
  • Pernambuco: 6.612
  • Maranhão: 3.245
  • Rio Grande do Norte: 2.613
  • Alagoas: 2.248
  • Paraíba: 1.752
  • Sergipe: 1.429
  • Piauí: 1.650

Cidades do Ceará com o maior número de famílias em situação de rua

  • Fortaleza: 9.657
  • Caucaia: 436
  • Maracanaú: 312
  • Sobral: 240
  • Juazeiro do Norte: 195
  • Maranguape: 139
  • Crato: 109
  • Pacatuba: 85
  • Aracati: 70
  • Cascavel: 59

Procurada pelo O POVO, a Secretaria da Proteção Social (SPS) informou que "executa diversos projetos, em parceria com as prefeituras municipais, voltados à população em situação de rua". Dentre eles estão o assessoramento, a capacitação e o cofinanciamento dos Centro Pops municipais.

"A SPS administra dois Centros de Referência Sobre Drogas, em Fortaleza, com equipe multidisciplinar voltada à prevenção, orientação, apoio e escuta qualificada; além da Estação Móvel, veículo equipado para os atendimentos em territórios da Capital, e do interior", destaca.

"Em Fortaleza, a SPS conta com a Estação do Cuidado, também com equipe multidisciplinar, além de um espaço para higiene pessoal, atividades artísticas e culturais. Todas as ações são desenvolvidas buscando ajudar a população a superar a situação de rua, com apoio psicossocial, oferta de Educação de Jovens e Adultos, e de qualificação profissional", completa órgão.

Já o MDS informou, em nota, que investe "de forma contínua no fortalecimento do acolhimento e da proteção de adultos e famílias em situação de vulnerabilidade, contribuindo para a promoção da inclusão social e o enfrentamento das desigualdades".

Órgão frisa que tem utilizado recursos para fortalecer os Centros POP, que oferecem uma série de serviços à população em situação de rua.

"Além disso, parte do montante é direcionada ao funcionamento do Serviço de Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI). Esse serviço é voltado para apoiar famílias e pessoas em situação de risco social ou que tiveram direitos violados. Ele oferece orientação, acompanhamento e suporte para superar essas situações, promovendo direitos e fortalecendo os vínculos familiares e sociais", destaca órgão. 

 

FORTALEZA-CE, BRASIL, 10.03.2025: Pessoas morando em situação de rua nos viadutos de Fortaleza. Viaduto da Br 116 com Borges de melo. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)
FORTALEZA-CE, BRASIL, 10.03.2025: Pessoas morando em situação de rua nos viadutos de Fortaleza. Viaduto da Br 116 com Borges de melo. (foto: Fabio Lima/ OPOVO)

Prefeitura anuncia programa para pessoas em situação de rua

A Prefeitura de Fortaleza está desenvolvendo um programa voltado para população em situação de rua em Fortaleza. Intitulado Programa Integrado para Superação da Situação de Rua, o projeto ainda está em fase de elaboração e tem como frentes: moradia, saúde, educação, assistência social, segurança alimentar, qualificação profissional, cultura e meio ambiente.

Ações de curto, médio e longo prazo

No curto prazo, a Prefeitura pretende lançar o Pacto Social pela Superação da Situação de Rua e criar um comitê integrado para coordenar as ações. Entre as primeiras medidas previstas estão o mapeamento de locais com grande concentração de pessoas em situação de rua, a ampliação da rede de acolhimento, o reforço nos serviços de saúde mental e a facilitação do acesso à documentação civil.

Também está prevista a abertura de novas salas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) voltadas para esse público, com apoio de políticas de incentivo como o benefício Pé-de-Meia. Em paralelo, o Município planeja ampliar a oferta de moradias por meio do Programa de Locação Social e implantar novas unidades de atendimento, como o Centro Pop na Regional 2.

Outro ponto importante é a apresentação de projetos de lei à Câmara Municipal que reservem parte das vagas em contratos e unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida para pessoas em situação de rua. A meta é destinar 5% dessas moradias, superando os 3% estabelecidos pelo Governo Federal.

As ações estruturantes também envolvem metas de médio e longo prazo, como a realização do 3º Censo da População em Situação de Rua, a descentralização de serviços e a criação de espaços voltados ao desenvolvimento cultural e profissional dessas pessoas. Estão previstas, por exemplo, a construção da Casa dos Artistas e a implantação de hortas urbanas e cooperativas produtivas com foco nesse público.

Primeira reunião do Pacto pela Superação da Situação de Rua na cidade

A Prefeitura destaca ainda que a construção do programa é participativa. Na primeira reunião do pacto, realizada na quarta-feira passada, 23, representantes de diversas organizações sociais puderam apresentar sugestões e demandas.

Segundo a vice-prefeita e secretária de Direitos Humanos, Gabriella Aguiar, o compromisso é incorporar essas contribuições ao planejamento e realizar fóruns temáticos para ouvir diretamente quem vive essa realidade.

População em situação de rua em Fortaleza

Dados recentes do Cadastro Único indicam que mais de 10 mil pessoas vivem em situação de rua em Fortaleza, sendo a maioria homens, negros e em extrema vulnerabilidade socioeconômica.

Muitas não têm acesso a serviços básicos, como educação e saúde, e grande parte sobrevive da coleta de recicláveis. Existe maior concentração dessa população em algumas áreas da cidade, como as Regionais 12, 2 e 4.

O levantamento aponta que os principais motivos que levaram essas pessoas às ruas são conflitos familiares, uso de substâncias, perda de moradia ou emprego.

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