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Crianças que moram temporariamente com famílias acolhedoras celebram a Páscoa
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Crianças que moram temporariamente com famílias acolhedoras celebram a Páscoa

Crianças, adolescentes e tutores do Serviço Família Acolhedora celebraram a Páscoa com brincadeiras, confraternização e troca de experiências
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Festa de Páscoa para crianças e adolescentes do Serviço Família Acolhedora (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Festa de Páscoa para crianças e adolescentes do Serviço Família Acolhedora

Crianças, adolescentes e tutores do Serviço Família Acolhedora participaram de uma comemoração de Páscoa nessa sexta-feira, 25. Realizado no shopping Riomar Papicu , o evento promoveu momentos de brincadeira para os acolhidos. A ocasião também foi uma oportunidade de confraternização e troca de experiências entre as famílias.

O Serviço Família Acolhedora é uma medida prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para proteger crianças e adolescentes afastados da família por questões como abandono, negligência ou violência. Em vez de irem para abrigos, são acolhidos temporariamente por famílias voluntárias capacitadas.

Fortaleza tem atualmente 118 crianças em acolhimentos institucionais, todas passando por processo judicial para determinar o retorno à família de origem ou a adoção. A decisão leva em conta o motivo da separação, a presença de familiares aptos e a segurança do retorno.

Quando são acolhidos temporariamente por uma família, as crianças e adolescentes passam a viver integralmente com os responsáveis, que assumem o cuidado diário, incluindo educação, saúde e demais necessidades básicas.

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Em Fortaleza, a iniciativa é coordenada pela Secretaria Municipal dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS). Atualmente, 20 famílias participam da iniciativa, acolhendo 22 crianças e adolescentes que antes viviam em abrigos municipais. "Quando uma criança é acolhida em um ambiente familiar, isso facilita o processo de adoção no futuro. Conversei com um dos acolhidos, que hoje tem 15 anos, e ele me disse algo muito marcante: 'Eu voltei a sonhar.' Trata-se de uma transformação de vida dessas crianças”, comenta a vice-prefeita e secretária municipal de Direitos Humanos, Gabriella Aguiar.

Desde 2018, 63 famílias já acolheram jovens que viviam em abrigos de Fortaleza, somando 75 beneficiados. Algumas dessas famílias participaram da iniciativa mais de uma vez. Todas as famílias recebem orientação psicológica para acolher as crianças. O período de acolhimento é de até um ano e meio, podendo ser estendido conforme a necessidade de cada caso.

Uma das presentes na confraternização de Páscoa foi Kleibe Alves, 50. A assistente social foi a primeira a integrar o Família Acolhedora no Ceará. Hoje, está com sua quarta criança acolhida.

Para ela, a ação é um ato de amor. “É pentear o cabelo com carinho, mas dar bronca quando precisa. A família acolhedora é isso: acolher com atenção, mas também com responsabilidade.”

Kleibe relata que o preparo emocional é essencial, pois cada acolhida tem seus desafios. "Você sabe o que deve ser feito, mas não sabe como vai se sentir”. Ela lembra como explicava à criança: “Sou sua tia, mas também sou como sua mãe pra resolver qualquer problema que aparecer.”

Ao longo dos anos, Kleibe acolheu desde bebês até uma criança de 7 anos. Mesmo com a dor das separações, ela guarda boas lembranças. Sua primeira criança, hoje com quase 14 anos, ainda a visita e mantém contato. "Ela era de rua. Hoje, estuda em colégio bom, tem uma família. É gratificante ver a importância que tivemos na vida dessas crianças."

Kleibe, que cuida de uma menina de seis anos, se prepara para um momento importante: a criança está em processo de ser adotada por uma nova família.

Futura família adotiva agradece pelo cuidado à criança durante o acolhimento

Iara e Larissa Nogueira iniciaram o processo de adoção no ano passado e, em abril deste ano, foi informado sobre uma criança compatível com seu perfil. Elas explicam que a segunda boa surpresa foi saber que ela estava sob os cuidados de uma família acolhedora.

“É um alívio saber que ela está levando uma vida próxima da de uma criança “normal”, não em uma instituição. Ela vai à escola, tem amigos, vai ao shopping, à praia, viaja nos fins de semana. Ela está muito feliz, muito bem cuidada”, conta Iara.

Até o momento, as duas se encontraram em três ocasiões com a menina, sendo a quarta durante o encontro desta sexta-feira. Elas destacam que, mesmo após obterem a guarda, querem manter o contato da filha com Kleibe.

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Lar para três

Neida Bezerra, de 62 anos, é dona de casa e conheceu o Família Acolhedora pela televisão. Ela teve a experiência de cuidar de uma criança por dois anos e, agora, assume um novo e prazeroso desafio: acolher três irmãos, de sete, oito e nove anos.

“Muita gente critica, mas eu acho maravilhoso. Uma vez alguém me disse: ‘Dona Neida, a senhora é muito corajosa. Três meninos que não são da senhora.’ E eu respondi: ‘Por enquanto, são meus.’”
Para ela, a experiência é profundamente gratificante. “Eu dou amor como se fosse para um neto. É para o bem da criança, claro, mas também faz muito bem pra gente.”

Neida diz que, mesmo após mais um adeus, pretende continuar acolhendo crianças e adolescentes enquanto tiver saúde. “É uma missão de amor”, ela enfatiza.

Como ser uma família acolhedora

Para participar do Família Acolhedora, é necessário não ter intenção de adoção, morar em Fortaleza há pelo menos um ano, ter mais de 21 anos, não responder a processo judicial e contar com a concordância de todos da casa. Também é exigida disponibilidade para capacitações e acompanhamento técnico para oferecer melhor amparo aos acolhidos.

As famílias acolhedoras recebem um subsídio financeiro por criança ou adolescente acolhido e isenção de IPTU.

Os interessados em participar do programa Família Acolhedora podem se cadastrar por meio deste formulário on-line. Dúvidas pelo e-mail familia.acolhedora@sdhds.fortaleza.ce.gov.br ou pelos telefones (85) 2028-0505 e (85) 99676-4419.

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