Paredes mofadas, com sinais de infiltração, e acúmulo de prontuários e materiais de atendimento. As condições precárias de trabalho denunciadas por profissionais do Centro de Referência Especializado para a População em Situação Rua (Centro Pop) Benfica, no bairro Damas, em Fortaleza, revelam que os desafios para o atendimento às pessoas em situação de rua na Capital vão além da criação de programas.
Os danos estruturais no equipamento, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), perduram há pelo menos dois anos e acarretam no afastamento de funcionários por problemas de saúde, segundo denúncias enviadas ao O POVO.
"Nós como profissionais somos muito silenciados dentro do serviço. Essas são as condições de trabalho dos profissionais da assistência. Um absurdo. A gente vive adoecendo, porque ficamos inalando esse mofo diariamente", afirma um dos funcionários, que terá sua identidade preservada.
Em novembro de 2024, uma outra unidade localizada no Centro de Fortaleza foi desativada por falta de pagamento do aluguel do imóvel. Após recomendação do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) para desocupação do local, os móveis que haviam sido retirados do local, voltaram para o equipamento menos de 24 horas depois, após o órgão recuar da decisão.
Reforçando a importância do equipamento para a população, a promotora destacou que a decisão sobre o recuo em relação a desocupação, que previa a aglutinação e remanejamentos dos serviços para Unidade do Centro POP Benfica, considerou a consequente precarização da ausência de estrutura necessária para atendimento da nova demanda.
Em meio ao processo de despejo, profissionais do Centro Pop Benfica relatam que materiais e prontuários chegaram a ser realocados para a unidade e alguns permanecem lá até hoje, abarrotando o espaço.
Em nota, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) informou que a nova gestão realizou um diagnóstico estrutural em todos os equipamentos municipais de Assistência Social e identificou deficiências existentes por falta de manutenção nos anos anteriores.
Uma visita técnica de engenheiros estava marcada para a segunda-feira passada, 28, para diagnóstico estrutural e início de reparos. Ontem, O POVO questionou se a visita técnica foi realizada, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
Atualmente, o município mantém uma rede de 14 equipamentos municipais de Assistência Social para população em situação de rua.
Ao todo, a Rede de Assistência conta com duas casas de acolhimento (50 vagas cada), duas Pousadas Sociais para hospedagem noturna (240 vagas ao todo), dois Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua, três Espaços de Higiene Cidadã (400 atendimentos diários), um Centro de Convivência, uma Casa de Passagem (50 vagas), dois Refeitórios Sociais e distribuição de refeições por busca ativa (1.200 almoços diariamente) e, ainda, 300 vagas de aluguel social. Existem, também, seis Consultórios na Rua para atendimento em Saúde.