Estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram protestos ontem, 19, para exigir mais segurança. As manifestações ocorreram nos campi de Porangabuçu, que levou centenas de alunos às ruas, e do Pici. Entre as principais reivindicações estão o aumento do policiamento dentro da universidade e nas áreas do entorno.
Os atos ocorrem após o caso de um estudante do curso de Farmácia ser esfaqueado no joelho ao reagir a um assalto, na última sexta-feira, 16. O crime aconteceu na rua Pastor Rodolfo Teófilo, próximo ao Campus de Porangabuçu. O jovem foi levado ao Instituto Dr. José Frota (IJF), onde recebeu atendimento.
Os estudantes do Porangabuçu destacaram inclusive que, na manhã desta segunda-feira, 19, outro aluno teria sido assaltado no campus. O POVO não obteve mais detalhes da nova ocorrência.
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No campus Porangabuçu, participaram da manifestação estudantes de cursos da área da Saúde, como Farmácia, Fisioterapia, Enfermagem, Odontologia e Medicina. O grupo seguiu até a avenida José Bastos, onde ocupou a faixa de ônibus até a altura do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceara (Hemoce).
A via foi bloqueada por cerca de cinco minutos. Durante o trajeto, os alunos dialogaram com a população sobre os casos de violência na região.
Berenice Dourado, estudante de Farmácia da UFC, afirma que os problemas de segurança no campus são antigos. “O que ouvimos são promessas vagas, como um possível reforço no policiamento. Mas, na prática, mesmo no horário do almoço, quando acontece a maioria dos assaltos, há poucos policiais na área, e eles não conseguem cobrir toda a região”.
Segundo ela, a sensação de insegurança à noite é ainda mais intensa. “Muitos evitam ficar no campus nesse horário, com medo do que pode acontecer, já que as ruas ficam mais desertas e mal iluminadas.”
Já no campus Pici, embora o ato tenha sido mais contido, os estudantes também reivindicavam mais segurança dentro e nos arredores da unidade. Entre as principais demandas estão o aumento do policiamento, especialmente nas paradas de ônibus, e um maior controle do acesso aos visitantes nas dependências da UFC.
Segundo os estudantes, momentos antes do início do ato, uma aluna foi também assaltada em uma parada de ônibus na avenida Mister Hull, próxima a uma das entradas da Universidade. O suspeito teria levado o celular da vítima após ameaçá-la com uma faca.
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Na quinta-feira, 15, outro caso de violência foi registrado no Pici. Um homem tentou roubar a arma de um vigilante, não conseguiu e roubou uma moto. O suspeito foi capturado na mesma tarde pela Polícia Militar do Ceará (PMCE). Houve troca de tiros e ele saiu ferido.
“É uma problemática que coloca em risco a segurança e a saúde de alunos e funcionários. Estudantes já foram assaltados por criminosos armados com facas. Na última sexta, ocorreu um esfaqueamento. Vão esperar que um estudante seja atingido por uma arma de fogo?”, critica Leandro.
As reclamações de insegurança nos campi se intensificaram desde 2024. De acordo com um levantamento elaborado por universitários do curso de Geografia da UFC, entre agosto de 2024 e abril de 2025 foram registrados 54 assaltos nos campi Pici e Benfica.
Segundo os estudantes, a maioria dos crimes tem sido cometida por infratores já conhecidos por eles, que os reconhecem pelas características físicas e pela atuação. O levantamento mostra que 14 assaltos foram cometidos pela mesma dupla (casal) de criminosos; outros 21, por um grupo de adolescentes.
Além disso, seis dos crimes ocorridos no Benfica foram atribuídos a um casal que coagia e roubava alunos por meio de transferência pix. No dia 11 de abril, um dos suspeitos foi preso em flagrante e autuado pelos crimes de roubo a pessoa e extorsão. Já a mulher foi liberada por falta de indícios de envolvimento no crime.
"Em maio, já tivemos outras ocorrências de roubos e até um tiroteio dentro do Campus do Pici. O casal que costuma roubar a gente voltou a agir nas paradas de ônibus. A resposta da polícia é que só podemos ligar se o roubo estiver acontecendo no momento", comenta Leandro Rodrigues, de 26 anos, estudante de Geografia.
Procurada pelo O POVO, a Universidade Federal do Ceará (UFC) informou que está em diálogo com o Comando Geral da Polícia Militar. “Cujo comandante passou a agir pessoalmente, após determinação da Casa Civil do Governo do Estado. A PM se comprometeu a reforçar a segurança no entorno dos três campi da UFC em Fortaleza e já conseguiu efetuar a prisão de alguns praticantes desses crimes”, disse.
Segundo a Reitoria, foi solicitado ao Governo do Estado a instalação de duas bases da Polícia Militar no campus Porangabuçu, e há tratativas com a Prefeitura Municipal de Fortaleza para colocar um posto da Guarda Municipal na mesma região.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, através de nota que casos de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVP) recém-ocorridos nos bairros Pici e Benfica, na região dos campi da UFC, estão sendo investigados pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE).
Mas o órgão reforça a importância de que seja registrado o Boletim de Ocorrência (BO) pelas vítimas. O documento pode ser feito presencialmente em qualquer delegacia ou através da Delegacia Eletrônica (Deletron), no site https://www.delegaciaeletronica.ce.gov.br, a qualquer hora do dia ou da noite. A Deletron atende todo o Ceará.
Na sexta-feira, 16, o homem acusado de roubar a arma de um vigilante no campus Pici, e em seguida também roubar uma motocicleta, foi capturado pouco depois do crime, no bairro Bela Vista. Ele chegou a disparar contra os PMs, que revidaram. O homem, de 35 anos, foi baleado e levado preso para atendimento numa unidade de saúde, onde segue sob escolta policial.
Ele foi autuado em flagrante pelos crimes de tentativa de latrocínio, tentativa de homicídio contra os PMs e roubo de veículo e colocado à disposição da Justiça.
A Polícia Militar do Ceará (PMCE), ainda segundo a nota da SSPDS, realiza o patrulhamento do bairro Benfica com viaturas do Policiamento Ostensivo Geral (POG), da Força Tática (FT) e Motopatrulhamento (MP) do 6º Batalhão Policial Militar (6º BPM). O bairro Pici é coberto pelo 18º BPM. O CPRaio e o CPChoque também atuam nas duas regiões dos campi.