A nova secretária da Saúde de Fortaleza, Riane Azevedo, apresentou ontem, 21, as primeiras diretrizes de sua gestão. Entre os principais desafios apontados estão a redução das filas de espera por exames. Segundo ela, cerca de 35 mil pessoas aguardam atualmente por tomografias computadorizadas.
Riane deu a informação em evento onde foi oficializada como titular da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), posto que assume após Socorro Martins pedir exoneração do cargo, por questões particulares. Esteve presente no momento, que ocorreu na sede do órgão, o prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).
Gestora foi apresentada aos servidores da pasta e conversou em seguida com a imprensa. Durante evento a nova secretária afirmou estar tomando conhecimento da atual situação geral da instituição.
"A gente vai trabalhar em tripé. São três coisas: questão estrutural, de como estão os 164 equipamentos (...) Além disso, a gente vai ver também a questão da assistência, da qualidade, como está de profissionais, os equipamentos, toda essa situação que está relacionada à assistência do paciente. E fora isso, as questões dos medicamentos, que também é uma questão prioritária", explicou a nova gestora.
Citando os desafios da pasta, Azevedo informou que somente um tomógrafo funciona atualmente. “Na verdade, temos três, mas dois estão quebrados e devem voltar a funcionar ainda esta semana. Cada tomógrafo realiza cerca de 2 mil exames por mês. Temos uma fila de cerca de 35 mil pessoas”, disse.
Por trás dos números, a situação de quem precisa realizar o procedimento torna o cenário ainda mais grave. Elani Ribeiro, 36, faz parte dos milhares que estão na fila. No caso dela, aguarda por uma tomografia de pelve, bacia e abdômen inferior desde julho de 2023, há quase dois anos.
"Tudo teve início quando eu comecei a sentir dores no meu quadril. E também tive tuberculose", lembra, dizendo que sentiu sintomas em 2021. No período, precisou passar por uma bateria de exames e procedimentos, enfrentando junto ao medo dos resultados a agonia de esperar por retorno hospitalar.
"Eu fiz uma (tomografia) agora, eu acho que estava com um ano que eu estava esperando. Aí sai da fila de espera agora, uma (tomografia) que foi a do meu pulmão. Nessa espera, deu um probleminha a mais, apareceu um nodulosinho também. Se eu tivesse feito essa tomografia antes, eu poderia ter tratado para a coisa não piorar, né? Como muita pessoa têm chance (de fazer o procedimento) e por conta da espera acaba não dando certo. Muitas pessoas até, às vezes, morrem esperando", destaca.
Elani, que já é diagnosticada com artrite e fibromialgia, está ainda com o quadro de saúde sendo investigado e espera na fila também por consultas com especialistas, além da realização de ressonâncias e de exames. Enquanto não tem respostas e nem é atendida, segue com dores e sem conseguir trabalhar.
"Eu não sei o que é que tem por dentro (do meu quadril), se tá com algum problema, o que é que eu preciso, se eu vou precisar passar pro tratamento, se eu preciso passar por cirurgia, porque já tá com oito meses que eu tô sem tratamento (pra artrite), as dores estão aumentando, então fica bem difícil", diz.
"E quando a gente vai no posto perguntar como é que está a situação da fila de espera, eles só mandam a gente aguardar. Eu fui diretamente na Secretaria de Saúde, mostrei tudo meu que estava na fila de espera (...) E eles não falaram nada (...) Eu preciso fazer essa tomografia", completa.
O POVO procurou, na noite dessa quarta, a Secretaria Municipal de Saúde para saber em que passo está a situação da paciente. No entanto, até o fechamento desta matéria não houve retorno da pasta.
Com a repórter Gabriela Almeida
Durante momento de apresentação, o prefeito Evandro Leitão (PT) falou com a imprensa e contou que, logo que Socorro Martins pediu exoneração, ele prontamente convidou Riane Azevedo para assumir a Saúde do Município, diante do que observou da gestão dela no comando do Instituto Dr. José Frota (IJF).
"Em quatro meses e meio, nós já estamos tendo bons resultados no IJF. E nós a convidamos para que ela pudesse assumir os destinos da saúde do município de Fortaleza, no que ela prontamente aceitou. Nós também convidamos o então superintendente adjunto do IJF, o Dr. João Gilberto, para que fosse efetivado como superintendente-geral daquele equipamento", explicou na ocasião.
Evandro disse que já se reuniu com Riane, para alinhamento e montagem de estratégias de ação. O foco da gestão será a atenção primária na Capital, sem esquecer o atendimento secundário e terciário.
"E quando a gente fala em atenção primária, a gente não pode esquecer dos postos de saúde que nós temos, dos 134 postos, dos Caps que nós temos, mas também sem deixar de lado a questão da atenção secundária e terciária do nosso município, onde nós temos também uma rede de hospitais, alguns em reforma, como o Hospital Nossa Senhora da Conceição, lá no Conjunto do Ceará. Também temos uma reforma no IJF e como também as UPAs e policlínicas", explicou.
Além da infraestrutura, a gestão também deve focar no abastecimento de medicamentos. A Capital passa por uma crise de abastecimento de remédios distribuídos nas unidades básicas de saúde desde o fim de 2024. Em março, a Prefeitura afirmou que o estoque seria normalizado até abril.
Segundo o prefeito Evandro Leitão (PT), a Prefeitura atualmente estuda implementar uma Central Única de Medicamentos, para unificar todo o processo de aquisição e distribuição de medicamentos, hoje dividido entre diferentes setores. O objetivo é tornar a distribuição mais eficiente.
“A ideia é que, dentro de aproximadamente um ano, o município de Fortaleza esteja realizando a compra e a distribuição de todos os seus medicamentos de forma unificada”, explica Evandro.
Atualmente, o processo é fragmentado entre três diferentes frentes: o Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), que abastece os postos de saúde e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps); as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e policlínicas, que fazem a própria compra dos medicamentos; e a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), responsável pelos insumos dos hospitais municipais.
O prefeito defende que a unificação vai trazer mais controle à distribuição: “Mas, para isso, precisamos primeiro estabilizar toda a rede em relação aos medicamentos. A partir dessa estabilização, poderemos implementar gradualmente esse projeto”.
Segundo a nova titular da SMS, Riane Azevedo, atualmente 137 tipos de medicamentos estão disponíveis à população na rede municipal. “Quatro ou cinco medicamentos ainda não estão disponíveis nas prateleiras. Atualmente, temos um estoque considerado normal para abastecer a rede por um período de 60 a 90 dias”, disse Evandro, complementando que o desafio agora é manter esse nível de fornecimento.
Marcelo Bloc e Lara Vieira