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CV teria recebido R$ 1,5 milhão para interferir nas eleições de Santa Quitéria
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CV teria recebido R$ 1,5 milhão para interferir nas eleições de Santa Quitéria

| INVESTIGAÇÃO | Valor foi entregue por servidores a homem apontado como chefe da facção na Região Norte do CE
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OPERAÇÃO da Polícia Civil do RJ contou com apoio do MP do Rio e do Ceará  (Foto: Divulgação/MPRJ)
Foto: Divulgação/MPRJ OPERAÇÃO da Polícia Civil do RJ contou com apoio do MP do Rio e do Ceará

Integrantes da facção criminosa Comando Vermelho (CV) teriam recebido R$ 1,5 milhão para interferir nas eleições municipais de 2024 em Santa Quitéria, município do Sertão de Crateús. É o que afirmaram, em entrevista coletiva realizada ontem, 3, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE).

Em entrevista coletiva, os promotores fizeram um balanço da operação deflagrada no último sábado, 31, na Favela da Rocinha, localizada no Rio de Janeiro (RJ), que visava prender integrantes do CV cearense escondidos na comunidade. Conforme o MPCE, as investigações identificaram que, em julho de 2024, servidores de Santa Quitéria conduziram um carro modelo Mitsubishi Eclipse até a Rocinha. Teria sido através desse automóvel que o montante milionário em dinheiro foi entregue a Anastácio Paiva Pereira, o "Doze" ou "Paulinho Maluco", de 36 anos, apontado como chefe do CV em diversos municípios da Região Norte do Estado.

Após receber a quantia, Anastácio teria determinado que seus subordinados atuassem nas eleições de forma a beneficiar José Braga Barrozo, o Braguinha (PSB), que acabou elegendo-se. "A interferência no processo eleitoral de Santa Quitéria se deu mediante constrangimento dos candidatos adversários", afirmou o subprocurador-geral de Justiça Plácido Rios. "Inclusive, se ameaçavam as pessoas que fixavam imagens publicitárias dos candidatos adversários, se reprimia qualquer ato de livre manifestação eleitoral, como carreatas, passeatas, manifestação de reuniões, se tinha ameaças de morte a pessoas, chegaram a atirar em casa, em muros de casas de Santa Quitéria, se chegou a ameaçar os servidores da Justiça Eleitoral, a tocar fogo, a destruir o cartório eleitoral".

Por causa das acusações de envolvimento com faccionados, Braguinha teve o seu mandato cassado pela Justiça Eleitoral. Ele chegou a ser preso no começo do ano, mas, posteriormente, obteve a liberdade. Braguinha nega a acusação e recorre das decisões judiciais. Em primeira instância, a Justiça determinou que uma nova eleição fosse realizada em Santa Quitéria. Após a cassação da chapa de Braguinha, o filho dele, o presidente da Câmara Municipal Joel Barroso (PSB), assumiu o cargo.

Ao todo, as polícias do Rio e do Ceará buscavam cumprir 29 mandados de prisão na operação na Rocinha. Somente um homem, porém, foi preso — ele não teve a identidade divulgada. Nessa terça, o MPCE divulgou vídeo feito por um drone que mostra cerca de 400 pessoas fugindo em direção à zona de mata no momento em que a operação começou a ser deflagrada. Apesar da fuga, a operação resultou na apreensão de quatro fuzis, um revólver, duas pistolas, assim como foram apreendidos 204 quilos de droga, entre cocaína e maconha. O MPCE estimou que o prejuízo causado ao CV foi de R$ 500 mil.

O principal alvo da operação na Rocinha era justamente Anastácio, que é apontado como integrante do "Conselho Permanente" do CV do Ceará e fornecedor de armas e drogas para diversos municípios do Estado Ele ainda é investigado por ordenar homicídios e por expulsar moradores de suas casas. Ipu, Guaraciaba do Norte, Santa Quitéria, Fortaleza, Caucaia, Sobral, Nova Russas e Croatá são alguns dos municípios nos quais Anastácio teria influência, conforme o inquérito nº 458-109/2021, da Delegacia Municipal de Guaraciaba do Norte. Ele também apareceu em 2024, na operação Concórdia, enviado quantia em dinheiro via pix a um vereador de Monsenhor Tabosa para que este transportasse drogas ao município.

Anastácio é considerado foragido da Justiça cearense desde 2020. Em 21 de setembro de 2018, ele, que cumpria pena de 15 anos e 2 meses pela prática de dois roubos em Santa Quitéria, obteve a progressão para o regime aberto. Conforme um parecer do MP ao qual O POVO teve acesso, desde 6 de outubro de 2020, ele não compareceu mais para cumprir as medidas do regime aberto que lhe foram impostas. Atualmente, ao menos, existem cinco mandados de prisão em aberto contra ele. Anastácio também está na lista de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). (Com informações de Mirla Nobre)

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