O baixo número de doadores resulta por vezes em mortes de pacientes ainda na espera pelo transplante. De acordo com a ABTO, só em 2024, cinco pacientes pediátricos morreram no Ceará enquanto aguardavam na fila por um coração.
"Para se ter ideia, a faixa etária dos últimos anos dos nossos anos é de 18 a 65 anos. É um percentual pequeno de doadores abaixo de 18 anos. Isso já é um fator. E claro, a gente não quer que as crianças morram vítimas de acidentes ou AVC. Esse número de doadores no Brasil de uma maneira geral é baixo", pontua a orientadora da Central de Transplantes da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Eliana Regia.
A hesitação dos parentes das vítimas de morte encefálica ainda figura como o principal motivo para a falta de órgãos para doação em todo o Ceará. Segundo o RBT, 41% das famílias entrevistadas em 2024 optaram por não ceder os órgãos de seus entes falecidos.
Entre os motivos da recusa estão questões culturais e religiosas, instabilidade emocional no momento do luto, bem como a vontade de "preservar o corpo inteiro". Segundo o presidente do conselho consultivo da ABTO, Huygens García, a melhor forma de vencer esse estigma ainda é informar a amigos e familiares o desejo de ser doador em vida.
"Se todo cidadão, cearense e do Brasil, afirmar em vida 'eu sou doador de órgãos', se porventura mais na frente ele tiver um acidente ou uma morte cerebral, a família em quase totalidade dos casos autoriza a doação. Não precisa ir no cartório, registrar, nada. O mais importante é você dizer 'eu sou doador de órgãos'. A gente vê na prática que quando isso acontece a família autoriza",
pontua o cirurgião.