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Vacinação: adesão abaixo da meta expõe crianças a pelo menos 15 doenças preveníveis no Ceará
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Vacinação: adesão abaixo da meta expõe crianças a pelo menos 15 doenças preveníveis no Ceará

Cobertura vacinal está sendo gradativamente recuperada, mas ainda há dificuldade de atingir meta de vacinar 95% do público alvo
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Foto: Samuel Setubal NA VACINAÇÃO contra a poliomielite a "gotinha" foi substituída por dose injetável

A crise nas coberturas vacinais pode fazer com que doenças imunopreveníveis já controladas, como poliomielite e coqueluche, voltem a apresentar riscos para crianças brasileiras.

O Anuário VacinaBR 2025, relatório do Instituto Questão de Ciência (IQC) que compila dados sobre vacinação no Brasil, mostra que as metas de imunização da maioria das vacinas destinadas a crianças de até um ano não vêm sendo atingidas nos últimos 10 anos.

LEIA | Vacinação contra a gripe cresce 63% em Fortaleza após ampliação da imunização

No Ceará, vacinas que previnem pelo menos 15 doenças não atingiram a meta de cobertura preconizada pelo Plano Nacional de Imunização (PNI) em 2023. Os dados mostram que a dificuldade de atingir 95% da população alvo vem sendo registrada desde antes da pandemia.

A pesquisa, feita com apoio da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e parceria do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostra que a cobertura está sendo gradativamente recuperada, apesar de ainda existir preocupação com grande parte dos imunizantes.

Vacinas dadas em recém-nascidos, como a BCG, que previne a tuberculose, e o imunizante que protege bebês de menos de 30 dias contra a Hepatite B, recuperaram a cobertura de mais de 100% do grupo alvo ainda em 2022.

Já as vacinas que protegem contra pneumonia, sarampo, difteria, meningite, entre outras doenças, precisam de mais de uma dose nos primeiros meses de vida para atingir a meta estabelecida no plano. O abandono do esquema vacinal — ou seja, receber apenas a primeira dose e não voltar para o restante — ainda é um problema e faz com que as crianças fiquem com a proteção incompleta.

Por exemplo, apenas 88,4% dos bebês de três meses tomaram o imunizante contra a meningite meningocócica no Ceará em 2023, quando a meta era 95%. A segunda dose foi dada a 85,9% dos bebês de cinco meses. A última vez que o esquema completo atingiu a meta foi em 2020.

A coordenadora de Imunização da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Ana Karine Borges, explica que o movimento nacional para incentivar a vacinação foi retomado em 2023 e, em 2024, já mostrou resultados, com o aumento da cobertura de diversos imunizantes.

“Em 2023, a gente ainda tem o processo de muita desinformação, muita fake news ocorrendo, ainda em decorrência do período da pandemia. A gente observou realmente a dificuldade. Foi o primeiro ano em que o Ministério da Saúde e o governo estadual e municipal voltaram a fortalecer esse programa”, disse.

Doenças imunopreveníveis por meio de vacinas com adesão abaixo da meta no Ceará

  • Pneumonias graves causadas pelos sorotipos de Streptococcus pneumoniae
  • Sarampo
  • Caxumba
  • Rubéola
  • Difteria
  • Tétano
  • Coqueluche
  • Febre Amarela
  • Haemophilus influenzae tipo b (Hib)
  • Hepatite A
  • Hepatite B
  • Meningite meningocócica
  • Poliomielite
  • Varicela
  • HPV

Seguir idades ideais para vacinação é importante

Existe uma idade específica para tomar cada dose dos imunizantes. Conforme Ana Karine Borges, isso é estabelecido “entendendo que a vacinação sendo administrada nessa idade tem uma resposta imunológica bem mais eficaz e segura”.

No entanto, em qualquer momento da vida a carteira de vacinação pode ser atualizada. “Vacina não é só para criança, é para o adolescente, adulto e idoso também”, afirma. Para tomar os imunizantes faltantes, é preciso ir a uma Unidade Básica de Saúde com documento de identificação.

Estratégias para aumentar cobertura

Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza, afirma que a imunização não pode mais ser pensada apenas como um trabalho das pastas de Saúde dos municípios.

Mobilização da população, disseminação de conhecimento sobre a vacina, a gestão dos imunizantes e dos dados de imunização são eixos essenciais para aumentar a cobertura.

“O trabalho da vacinação hoje tem de ser integrado às áreas de educação, saúde, assistência social e comunicação. São essas quatro áreas que têm de ser acionadas no município para que a imunização seja completa, plena e universal”, diz.

Para Ana Karine Borges, uma das estratégias que ajudou na ampliação da cobertura vacinal em 2024 foi a parceria com os municípios para planejamento. “Hoje cada município tem seu plano de vacinação que é atualizado a cada quatro meses”, afirma. O auxílio serve para as cidades conseguirem desenhar políticas conforme a realidade local.

Instituir ações de imunização dentro das escolas, em equipamentos como Vapt Vupts e empresas foram importantes para alcançar o público alvo fora dos postos de saúde, segundo a coordenadora. Além disso, investir em campanhas para aumentar a informação correta e clara sobre as vacinas é uma prioridade.

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