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Fecundidade: Ceará tem 3ª maior proporção de mulheres que não tiveram filhos, diz Censo
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Fecundidade: Ceará tem 3ª maior proporção de mulheres que não tiveram filhos, diz Censo

Mulheres brancas e com mais escolaridade têm filhos mais velhas. Evangélicas têm taxa de fecundidade maior
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No Censo 2010, 12,4% das mulheres tinham passado pela idade fértil sem ter filhos no Ceará. O valor registrado em 2022 aumentou 5,1 pontos percentuais (Foto: Freepik)
Foto: Freepik No Censo 2010, 12,4% das mulheres tinham passado pela idade fértil sem ter filhos no Ceará. O valor registrado em 2022 aumentou 5,1 pontos percentuais

O Ceará tem 17,5% das mulheres de 50 a 59 anos — que chegaram ao fim da idade fértil — sem ter filhos. Essa é a terceira maior proporção do Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro (21%) e de São Paulo (17,9%).

Os dados são do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 27.

Além da proporção ser a maior do Nordeste, ela foi a que mais aumentou de 2010 para 2022. No Censo 2010, 12,4% das mulheres tinham passado pela idade fértil sem ter filhos no Ceará. O valor registrado em 2022 aumentou 5,1 pontos percentuais.

10 estados com maiores percentuais de mulheres que não tiveram filhos (50 a 59 anos)

  • Rio de Janeiro: 21%

  • São Paulo: 17,9%

  • Ceará: 17,5%

  • Distrito Federal: 17,3%

  • Pernambuco: 17%

  • Minas Gerais: 16,1%

  • Bahia: 15,8%

  • Espírito Santo: 15,7%

  • Paraíba: 15,4%

  • Amazonas: 15,1%


A tendência de crescimento dessa proporção foi observada em todas as unidades da federação. Aumentou também a idade média em que mulheres têm filhos. No Ceará, em 2010, a média era 27,1 anos. Já em 2022, subiu para 28,3.

Conforme o IBGE, os dados analisados evidenciam o envelhecimento da curva de fecundidade entre 2010 e 2022, com o deslocamento da maior proporção de filhos tidos de mulheres mais jovens para aquelas com idades mais avançadas.

Nesse período, o número médio de filhos por mulher diminuiu. Se no Censo anterior cada mulher cearense tinha, em média, 3,8 filhos, em 2022 esse valor é de 2,5.

A taxa de fecundidade total, uma projeção que relaciona o número de nascimentos ocorridos em um grupo de idade de mães com o total de mulheres daquele grupo etário, também apresentou redução.

No Brasil, a taxa foi de 1,9 de filhos por mulher em 2010 para 1,55 em 2022. A redução desse indicador vem ocorrendo desde 1960, quando a taxa de filhos por mulher era 6,28. As cearenses têm taxa de fecundidade de 1,51.

Escolaridade, cor e religião influenciam na fecundidade

A cor ou raça, o nível de escolaridade e a religião são fatores que influenciam a fecundidade das mulheres brasileiras.

No Ceará, a idade média das mulheres brancas que têm filhos é de 29,2 anos — maior que a média de idade das mulheres pardas e pretas e da média geral do Estado.

Chega a 31,5 anos a média etária das mulheres com ensino superior completo que têm filhos no Estado. São quatro anos a mais do que a média daquelas que não têm instrução ou fundamental incompleto.

Entre as mulheres de diferentes religiões, as evangélicas têm a maior taxa de fecundidade, com projeção de 1,74 filhos por mulher no Brasil. As católicas têm a segunda maior taxa, de 1,49, seguidas das mulheres sem religião, com 1,47.

O demógrafo Júlio Racchumi Romero explica que múltiplos fatores influenciaram a redução da taxa de fecundidade com o passar dos anos, como a urbanização e o acesso a métodos contraceptivos.

No entanto, a elevação do nível de escolaridade das mulheres é tido por estudiosos como um dos principais elementos para a mudança nos números.

“A mulher mais escolarizada não vai ter apenas a possibilidade de uma melhor inserção no mercado de trabalho, ela também vai ter mudanças sociais, de valores, de perspectivas, a ampliação de uma visão dela como cidadã”, explica o também professor do Departamento de Estudos Interdisciplinares da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Além disso, o especialista afirma que mulheres que desejam ter filhos enfrentam dilemas sobre jornadas exaustivas e equilíbrio entre trabalho fora e dentro de casa.

“Se a gente quer que as mulheres desejem ter filhos e também desejem trabalhar, a gente precisa dar as condições para que elas possam manter isso de uma forma harmônica”, diz.

Creches adequadas, horas especiais no trabalho para mães e uma divisão de tarefas domésticas e de cuidado mais igualitárias podem influenciar na decisão de mulheres sobre ter ou não filhos.

Outros tipos de maternar

Vanda Costa, 66, nunca teve filhos biológicos. Não foi exatamente uma escolha. Segundo ela, a trajetória de vida fez com que a maternidade não viesse dessa forma.

“Na minha época, ser mãe solteira era muito complicado. Era bem diferente de hoje. Os valores de hoje são outros, os objetivos também. Sempre me detive muito nessa questão da importância do filho na vida da mãe, e ter um filho sozinha eu não tinha coragem”, conta.

A vida aconteceu, o casamento “não teve aquele sucesso”, mas a convivência em família proporcionou outro tipo de maternidade. Vanda cuidou dos sobrinhos, dos primos e dos avós. Para ela, a oportunidade foi “uma bênção”.

“Viver esse amor é muito interessante, é muito gratificante”, diz. A experiência de não ser mãe também deu lugar a outras vivências.

“Não é que o filho seja um peso, mas você termina sempre botando ele na prioridade. Hoje vivo uma vida mais em casa, mais familiar. Mas não tive nenhuma restrição de gozar dos prazeres da vida. Conheci pessoas, mantenho um fluxo de amizades de mais de 40 anos. Eu sou uma pessoa feliz”.

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