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Orla da Beira Mar tem mais de cinquenta Carnaúbas mortas
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Orla da Beira Mar tem mais de cinquenta Carnaúbas mortas

Situação foi notada por moradores e vendedores do entorno. UrbFor irá realizar a remoção de plantas mortas
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O trecho compreende pouco mais de 1,6 km da orla (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS O trecho compreende pouco mais de 1,6 km da orla

Considerada uma das orlas mais bonitas do Brasil, a Beira Mar, localizada na área litorânea de Fortaleza, se encontra com mais de cinquenta Carnaúbas (Copernicia prunífera) mortas em seu espaço paisagístico. O trecho compreende pouco mais de 1,6 km da orla.

A obra de requalificação completou três anos em maio último. Em ordem aleatória, algumas plantas sem folhas podem ser observadas no início do trecho entre as avenidas Beira Mar e Rui Barbosa. Algumas árvores possuem o tronco seco e descascando.

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A Carnaúba, também conhecida como Copernicia prunifera, uma espécie de palmeira da família Arecaceae, endêmica do semiárido da Região Nordeste.

É árvore símbolo do Ceará e Piauí, sendo conhecida como “árvore da vida”.

Botânico explica possível causa de doença em carnaúbas

O botânico e técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), Leonardo de Sousa Rodrigues, explica que inúmeras doenças podem afetar as Palmeiras, sejam elas nativas ou exóticas.

“Ainda se tem poucos estudos sobre o que afeta essa espécie na nossa região. Porém, cada vez mais se observa algumas doenças que estão afetando alguma espécie do grupo, sendo a Carnaúba a mais vulnerável”.

O botânico cita a “Doença de Bronzeamento Letal”, que vem afetando algumas espécies correlatas à Carnaúba do gênero Sabal, em locais como Estados Unidos e Caribe. Há uma preocupação da doença chegar ao Brasil.

“A doença é transmitida por um inseto que se alimenta da seiva e acaba contaminando partes do meristema apical da palmeira, que é fundamental para o crescimento das folhas. Acaba virando um efeito em escala, pois destrói o meristema e a planta perde a capacidade de formar novas folhas e fazer o processo de fotossíntese”, explica.

Leonardo ressalta que apenas uma análise do tecido vegetal da planta traria informações mais precisas: “Podem ser situações correlatas, um fungo ou bactéria específicos”.

A razão para a mortandade não ter afetado todas as plantas, segundo o botânico, é que algumas espécies podem ser mais suscetíveis ao patógeno e sofrer diretamente com os efeitos. “Ou pelo fato que não deu tempo do patógeno atingir os outros indivíduos".

De acordo com ele, dentro de uma população existem aquelas que são mais resistentes do ponto de vista genético a determinadas doenças. “E as que não são acabam ficando na linha de frente dos efeitos dessa enfermidade”, conclui.

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Trabalhando no local há quatro anos, o vendedor Francisco Edilson afirma que as folhas secas são arrancadas com uma espécie de foice. “O problema mesmo é eles [prefeitura] só regam uma hora da tarde”.

Ele acredita que a situação das plantas poderia ser melhor. “Você vê aquele prédio lá atrás cheio de palmeiras, tudo bonito, né?".

De acordo com o vendedor, a manutenção é feita pelo menos duas ou três vezes na semana.

A aposentada Socorro Cruz mora há oito anos na orla e caminha quase diariamente pelo local. Ela conta que havia percebido que algumas plantas não se desenvolveram.

“Eu acho que elas não vingaram com a força, sabe? Realmente se tivessem todas viçosas aí a paisagem seria bem melhor. Fica uma estética prejudicada", declara.

Ela acredita que a prefeitura já deveria ter tomado uma providência. “Já deveria ter trocado ou então retirado. Na verdade, se você não tem o solo [adequado], [precisa] observar e estudar o que foi que fez não florescer [as plantas]", finaliza.

Paisagista explica sobre arborização urbana

O paisagista Fabrício Pereira explica que projetos de arborização urbana envolvem o transplante de uma vegetação de grande porte de um local a outro.

“Quando ela chega no novo local, há um processo de adaptação. Uma mesma espécie, em um mesmo espaço público, pode sofrer impactos diferentes. Para isso, pode haver uma reposição das plantas que ‘não vingaram’”.

Conforme Fabrício, existem plantas originalmente mais compatíveis à beira da praia. “Algumas não têm um valor estético tão interessante, por isso elas não são utilizadas. Outras não têm uma uma função, como por exemplo, sombreamento, então também não são utilizadas", explica.

"Nem sempre uma planta que resiste melhor à região costeira é a melhor escolha à função que ela se determina neste espaço", adiciona.

Remoção de plantas será feita, afirma UrbFor

Em nota, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (UrbFor) informa que está ciente da situação dos coqueiros e carnaúbas localizados na Avenida Beira-Mar.

Segundo a pasta, equipes técnicas atuam diariamente na área realizando a manutenção paisagística da orla, com serviços como limpeza, retirada de palhas secas e conservação dos canteiros.

A remoção dos tocos e exemplares mortos está sendo realizada de forma planejada, acompanhada do replantio, a fim de evitar a formação de espaços vazios na paisagem.

“É importante destacar que, neste ano, houve registro de apenas uma queda espontânea de coqueiro, que foi prontamente removido com segurança”.

O órgão também informou que o paisagismo da orla foi implantado durante a gestão anterior e não foi executado pela UrbFor. Sendo as espécies utilizadas foram transplantadas já em estágio adulto, o que torna o processo de adaptação mais sensível.

“Mesmo com irrigação frequente e os devidos cuidados técnicos, o transplante de árvores adultas envolve, naturalmente, uma taxa de mortalidade mais elevada, em razão do estresse causado pela mudança de local”, finaliza a pasta.

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