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Festival Bora promove turismo sustentável e cultural no Rio Ceará
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Festival Bora promove turismo sustentável e cultural no Rio Ceará

Festival Bora oferece passeio de barco pelo Rio Ceará, promovendo turismo comunitário e mostrando a resistência cultural e ambiental das margens do rio em Fortaleza
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PASSEIO de barco no rio Ceará (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS PASSEIO de barco no rio Ceará

Embora conhecida por suas praias, Fortaleza também guarda, entre o mar e seus rios, tesouros que o tempo e a pressa quase escondem. Em meio à rotina urbana, cursos d’água como o Rio Ceará correm discretos, mas carregados de memória.

É pelas suas margens, especialmente na Barra do Ceará, que comunidades ribeirinhas mantêm viva uma relação ancestral com a natureza, onde pesca, cultura e resistência se misturam ao cotidiano.

É nesse cenário que o Festival Bora, nova iniciativa cultural da Cidade, propõe um retorno simbólico e afetivo: um passeio de barco pelo Rio Ceará. A atividade integra um projeto de turismo comunitário, conectando visitantes à natureza, ao território e às vozes de quem habita suas margens.

O roteiro do passeio tem ponto de partida no Albertu's Restaurantes e segue pelo antigo Porto do Mucuripe.

Durante cerca de uma hora de navegação, os visitantes passam por áreas de manguezal que resistem à urbanização acelerada e pelas ruínas da antiga Ponte Metálica, construção que remete ao início da urbanização de Fortaleza. É uma viagem que não se faz apenas com os olhos, mas também com escuta, respeito e abertura para aprender com quem vive e cuida dessas margens.

“Esse rio é um pai pra gente”, afirma, emocionada, Noemi Maia da Silva, moradora da região, cozinheira, pescadora e guia do passeio. “Nós tiramos nosso sustento daqui. Aprendemos a mariscar, pescar, cozinhar. Minha família inteira cresceu no entorno do rio. O que ele significa pra mim? Tudo”.

A bordo de embarcações conduzidas por guias e moradores locais, os visitantes escutam relatos como o de Noemi, que costuram saberes ancestrais e práticas atuais, revelando como o turismo pode existir em diálogo com a memória, o território e o cuidado ambiental.

“Esse passeio ensina a preservar, ensina a olhar o rio com respeito. A gente quer que mais pessoas aprendam sobre o valor disso aqui, porque ainda tem muito peixe, muito siri, mas a poluição já tem deixado marcas profundas”, alerta.

Um olhar novo para a própria Cidade

Muitas das pessoas que participam do passeio vivem em Fortaleza, mas, como a enfermeira Letícia Stephanie Silva, nunca haviam tido a chance de navegar pelo rio. Para ela, a experiência foi um reencontro com sua infância e com um território muitas vezes invisibilizado.

“É a primeira vez que vejo minha área sendo valorizada pela cultura da Cidade. Sempre o foco é a Beira-Mar, o Meireles. Mas aqui também é Fortaleza. E é lindo”, conta. “Hoje, eu senti uma paz única. Já quero fazer meu aniversário aqui”, brinca, entre risos com as amigas que a acompanharam.

Conexão e pertencimento

O passeio também proporciona uma oportunidade rara de conexão entre gerações. A educadora do Centro Social do Bom Jardim, Jaqueline Marques, levou sua filha Ceci, de apenas 6 anos, para realizar um desejo antigo: andar de barco.

“Desde a barriga ela já é conectada com o rio”, comenta. “A gente vive perto do mar, mas sempre teve curiosidade de entrar no rio, entender o que tem do outro lado. Hoje foi esse encontro. Ela ficou perguntando se ia ter caranguejo, jacaré... Foi uma troca viva”.

Jaqueline destaca como o passeio reforça a importância da educação ambiental desde a infância e muda a visão sobre a Cidade. "Muda a forma como nos relacionamos com o ambiente. A gente passa a valorizar mais, a querer cuidar mais. Isso é educação ambiental, é cidadania”, pontua a educadora social. 

Uma Fortaleza além do cartão-postal

À margem do turismo tradicional, o Rio Ceará segue correndo como se a Cidade não o enxergasse. Enquanto a orla central de Fortaleza recebe investimentos e visibilidade, o rio, que já foi protagonista de momentos marcantes da história local, permanece quase invisível no imaginário urbano.

A proposta do passeio promovido pelo Festival Bora é justamente reaproximar a Cidade de um de seus rios mais simbólicos. Ao navegar por trechos ainda preservados, o visitante entra em contato com o passado e o presente de um território que resiste à margem da urbanização acelerada.

Se você, leitor, seguir adiante nesta reportagem, encontrará as imagens capturadas pela repórter fotográfica Fernanda Barros durante o passeio.

As fotos registram a diversidade da paisagem, os detalhes dos manguezais, as texturas das ruínas e os momentos de interação entre visitantes e meio ambiente. Fernanda transforma o visível em sentimento, suas imagens convidam à reflexão sobre a poesia, a resistência e a beleza que muitas vezes estão ocultas à primeira vista.

Veja as fotos:

 

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