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Falta de repasse adequado coloca 600 pacientes com câncer na fila de espera em Fortaleza
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Falta de repasse adequado coloca 600 pacientes com câncer na fila de espera em Fortaleza

Por corte de verbas da Prefeitura, Crio opera no limite e pacientes aguardam até dois meses para iniciar tratamento oncológico
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CRIO enfrenta problemas com repasse de recursos insuficiente  (Foto: divulgação)
Foto: divulgação CRIO enfrenta problemas com repasse de recursos insuficiente

Instituições que prestam atendimento oncológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Fortaleza vivem um cenário preocupante. Com um teto financeiro insuficiente para atender à demanda crescente de pacientes diagnosticados com câncer, a fila de espera por tratamentos essenciais como quimioterapia, radioterapia e hormonoterapia já atinge a marca de 600 pessoas na Capital.

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Segundo o Centro Regional Integrado de Oncologia (Crio), o problema está associado à defasagem no repasse de recursos feito pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. É o que explica o diretor comercial do Crio, Francisco Kubrusly. “O recurso que recebemos hoje não dá para tratar todos os pacientes. A estrutura existe, o corpo clínico está pronto, mas o dinheiro não cobre o volume da demanda”, disse.

Repasse caiu e não foi reajustado

A situação atual, segundo Francisco, é resultado direto de um corte realizado no início da gestão do ex-prefeito de Fortaleza, José Sarto. O teto de repasse mensal, que era de R$ 3,5 milhões, foi reduzido para R$ 2,7 milhões e está congelado há quase oito anos, apesar do aumento nos casos de câncer.

A direção do centro oncológico estima que seriam necessários, no mínimo, R$ 800 mil a mais por mês para dar conta da atual demanda. “Pedimos o retorno ao valor original do teto. Só assim poderemos atender com dignidade os pacientes de Fortaleza”, reforça Francisco.

Fila de espera: pacientes enfrentam até dois meses sem tratamento

Atualmente, o Crio recebe cerca de 250 novos pacientes oncológicos por mês, apenas da Capital. Com os recursos atuais, a instituição só consegue atender aproximadamente 150 novos casos mensais. Em torno de 100 pessoas por mês entra na fila de espera e precisa aguardar entre 45 a 60 dias para iniciar o tratamento.

“O câncer não espera. O que eu não trato hoje, pode não ser possível tratar amanhã”, reforçou o diretor. O centro já conta com mais de 20 mil pacientes em acompanhamento, considerando atendimentos de outras cidades e do Estado. No entanto, a situação afeta diretamente os usuários vinculados à Prefeitura de Fortaleza.

Pacientes acionam MP e Defensoria Pública

Diante da demora no início do tratamento, muitos pacientes têm recorrido ao Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e à Defensoria Pública. “Já fomos oficiados pelo MP solicitando esclarecimentos. Nosso setor jurídico respondeu com todos os dados e relatórios solicitados”, diz Francisco.

Em nota, o MP, por meio da 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, confirmou que enviou ofício à SMS na quarta-feira passada, 9, cobrando esclarecimentos sobre a falta de recursos e possíveis providências. A pasta tem cinco dias úteis para responder. O processo pode ser acompanhado pelo número 01.2025.00018940-0.

Prefeitura informa que o tratamento de quimioterapia já foi autorizado e deve iniciar nos próximos dias

O Crio também diz que busca diálogo constante com a Prefeitura para solucionar o impasse. “Já tentamos diversas vezes, mas a resposta que recebemos é sempre a mesma: que não há recursos no momento. Enquanto isso, vidas estão sendo colocadas em risco”, disse o diretor.

Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), reconheceu a alta demanda, mas alegou que R$ 133 milhões foram destinados à oncologia em 2025, sendo R$ 22 milhões repassados ao Crio apenas neste ano, incluindo o pagamento de dívidas herdadas de gestões anteriores. A pasta informou que os pacientes em fila estão sendo acompanhados e que o início da quimioterapia deve ocorrer nos próximos dias.

Para tentar reduzir a sobrecarga no sistema, a Prefeitura anunciou medidas emergenciais, como a intervenção temporária na Santa Casa de Misericórdia. A unidade receberá R$ 84 milhões em recursos federais, com a reabertura de 274 leitos, sendo 29 deles específicos para cirurgia oncológica, além da instalação de um novo acelerador linear para ampliar a oferta de radioterapia na Capital.

Além disso, a SMS destacou que Fortaleza aderiu ao programa federal "Agora Tem Especialistas", que prevê o credenciamento de clínicas e hospitais privados e filantrópicos para ampliar a oferta de exames, consultas e cirurgias oncológicas.

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