Restando um mês para para o último bloco de julgamentos da Chacina da Grande Messejana, o movimento Mães do Curió, encabeçado pelas mães das 18 vítimas do massacre, reforçaram o pedido de justiça bradado durante os últimos dez anos.
Em entrevista coletiva realizada ontem, 15, na sede da Defensoria Pública do Ceará (DPCE), em Fortaleza, as matriarcas negaram que haja um sentimento de vingança contra a Polícia Militar do Ceará (PMCE), mas exigiram a responsabilização dos envolvidos.
Ao todo, três blocos de julgamentos já foram realizados, findando na condenação de seis acusados e 14 absolvições. Após os resultados obtidos nos últimos dois anos, as famílias das vítimas ressaltaram a importância dos júris para o debate sobre violência policial no Estado, negando também qualquer felicidade ou frustração diante dos resultados.
"Nosso sentimento não foi de alívio, muito menos de alegria. Teve as condenações, mas não ficamos alegres com isso. As absolvições menos ainda. Mas, tivemos uma cadeia de resultados gigantescos. Nosso objetivo não era só as condenações, era vir à tona todo esse lado podre que a gente sabe que tem. É exatamente esse lado que a gente tem que tirar fora", pontuou Suderli de Lima, mãe de Jardel Lima dos Santos, morto aos 17 anos na chacina.
Dez anos após os assassinatos, o movimento afirma conduzir ações para mitigar o estigma de violência na Grande Messejana. Entre estas ações estão corais para jovens do Curió, a fim de mantê-los em atividade e evitar que sejam cooptados pelas organizações criminosas.
O objetivo agora é, além de preservar a memória dos que se foram, garantir o futuro dos que ainda vivem na comunidade, e evitar que outras famílias possam compartilhar a experiência que as Mães do Curió não tiveram a oportunidade de viver com seus filhos.
"O que as mães e familiares do Curió querem é justiça. E uma polícia saudável para entrar nas nossas periferias e deixar os nossos filhos puderem seguir suas vidas… e a gente um dia poder ser avó. Eu não posso ser avó do meu filho. Essas mães não poderão ser avós dos seus filhos. A gente não poderá ir para uma colação de grau, uma formatura dos nossos filhos. Isso é cruel", lamenta Edna Carla, mãe de Álef Sousa Cavalcante, morto também aos 17 anos.
Os próximos julgamentos ocorrerão nos dias 25 de agosto e 22 de setembro deste ano. No primeiro, sete réus responderão às acusações de omissão, enquanto em setembro, serão julgados os possíveis orquestradores da retaliação no Curió.