“Somos um povo do mar”, reflete a gestora comercial Marília Nobre, de 37 anos, ao falar sobre a prática de canoagem em Fortaleza. A atividade náutica alia esporte, cultura e lazer, e vem se destacando como uma opção para quem deseja aproveitar as férias para conhecer a Cidade por meio de seu principal seu cartão-postal: o litoral.
Diretora comercial na Vibe Va'a Club e praticante de canoagem desde 2021, Marília Nobre afirma que a prática de canoagem manifesta a conexão que a capital cearense tem com o mar.
“Estamos na Década do Oceano A Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030) é uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar a população em todo o mundo sobre a importância dos oceanos e mobilizar atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares. , então é muito importante a gente unir esforços. Nós temos uma cultura muito forte do mar, social e econômica. Muitas famílias vivem da economia do mar”, ressalta.
Arquiteta e atual presidente da Federação de Va'a e Parava'a do Ceará (Feva'ace), Ligia Felismino reflete que a prática da canoa convida as pessoas a viverem o oceano de maneira ativa, segura e prazerosa.
“A canoagem é uma excelente alternativa de lazer para as férias, especialmente em uma cidade como Fortaleza, com clima quente o ano inteiro e um litoral belíssimo. A atividade proporciona contato direto com a natureza, promove bem-estar físico e mental, e pode ser praticada em grupo, o que a torna ainda mais prazerosa”, afirma.
Praticante de canoagem havaiana há quatro anos e uma das fundadoras da Feva'ace, a assistente social Ariane Soares da Silva relembra com emoção a primeira vez que sentou no banco de uma canoa.
“Eu nunca esqueço, foi um momento mágico na minha vida. À convite de uma amiga, nós fomos em um passeio no Mara Hope (navio encalhado no mar de Fortaleza). Fui por curiosidade e a canoa me capturou, costumo dizer”, rememora.
A assistente social faz questão de ressaltar a importância histórica da canoa, milenarmente utilizada por povos do mar, como os polinésios, para prática da pesca e o transporte de mercadorias. Atualmente, ela ressalta a utilização desse equipamento em atividades de lazer, esporte e performance.
“Para mim, a canoa é essa reconexão com a minha espiritualidade. Quando eu sento no banco da canoa, eu tô praticando esporte, mas eu também tô meditando. A canoa ensina muito sobre os nossos limites, nossa disciplina, nossas potências. Ali, a gente aprende muito sobre nós. É um esporte que implica muito em autoconhecimento”, conta.
O estilo de vida da canoagem também ecoa no investimento em projetos sociais, um deles é o A(Mar) Rosa. A iniciativa voluntária atende gratuitamente “mulheres sobreviventes do câncer de mama, que já estão curadas ou que estão em tratamento”, explica Marília Nobre. As aulas acontecem nas segundas, quartas e sexta-feiras, a partir das 6h30, na praia do Náutico.
“Existe todo um um estudo que mostra que a prática da canoagem beneficia muito as mulheres a conseguirem ter de volta os plenos movimentos, porque muitas vezes elas fazem o esvaziamento das axilas e isso trava um pouco mais o movimento. A canoa havaiana consegue devolver para essas mulheres a possibilidade de praticar um esporte e se sentirem incluídas. É mágico”, relata.
Além disso, mensalmente o clube oferece aulas para os participantes do projeto Remar, que atende pessoas com deficiências físicas e neurológicas, destacando o caráter democrático e seguro da prática.
“Quanto mais a gente falar de recuperação através do esporte, mais pessoas terão suas vidas transformadas”, pontua Marília.
Praticante de canoagem há 10 anos, o empresário Aluísio Arcela, 47, representante da Imua Ceará Va'a, conta como o esporte promove o entendimento da importância do respeito ao meio ambiente.
“A gente trabalha respeitando as normas da Marinha e o ambiente dos pescadores. A gente tem canais de acesso. O Labomar faz o estudo para a gente não degradar o espaço marinho, a área de proteção ambiental. As pessoas dizem: 'ali é cheio de pedra'. Não é pedra, são corais. Então, a gente trabalha dentro das limitações, porque se não a prática ia estar crescendo desenfreadamente”, explica.
Segundo Ligia Felismino, ainda não há um mapeamento oficial consolidado sobre o número de praticantes de canoagem na Capital, “mas a Federação tem registros internos com números superiores a 400 atletas inscritos”.
A presidente da Feva'ace, presidente da Feva'ace, destaca que o crescimento da prática de canoagem movimenta a economia local, gerando oportunidades de trabalho para instrutores, guias, aluguel de equipamentos, manutenção de embarcações e até para pequenos comércios da orla.
“Para os turistas, é uma forma única de conhecer a cidade a partir de outro ângulo, remando pela orla, explorando paisagens naturais e sentindo a energia da cidade de forma diferente”, acrescenta.
De acordo com ela, apesar da popularização do esporte, crescimento do número de escolas que oferecem as aulas e destaque de atletas cearenses em competições, Fortaleza ainda carece de uma infraestrutura pública ideal para a promoção de esportes aquáticos.
“Algumas praias contam com rampas e acessos improvisados, mas faltam pontos de apoio adequados, sinalização e estrutura pensada especificamente para canoagem. Essa é uma pauta que a Federação vem levando às autoridades”, pontua.
Felismino explica ainda que também não há um mapeamento oficial de rotas ou pontos turísticos exploráveis por meio da canoagem em Fortaleza.
“A Federação e grupos locais vêm trabalhando em rotas seguras e atrativas. Algumas das mais populares incluem trechos da Praia de Iracema até o Mucuripe com avistamento de golfinhos, tartarugas e raias, bem como as rotas dos navios naufragados aqui na orla como o Mara Hope”, detalha.
Marília Nobre destaca o caráter democrático da atividade, já que não exige um preparo físico prévio para iniciantes. O período de férias é propício para experimentar, pela flexibilidade de horário dos interessados.
“Não precisa ter experiência nenhuma, você não precisa ser um atleta, você pode ser uma pessoa sedentária que está querendo mudar de vida, querendo conhecer alguma coisa para melhorar a sua saúde”, explica.
O POVO procurou a Secretaria de Esporte e Lazer (Secel) e a Secretaria Municipal do Turismo (Setfor) para apurar quais ações a Prefeitura desenvolve para fomentar o esporte na Capital, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.
Vibe Va'a Club
Imua Ceará Va'a
Kayakeria