Logo O POVO+
Índice de crianças de 10 a 13 anos online no Ceará salta de 55% para 84% em 10 anos
CIDADES

Índice de crianças de 10 a 13 anos online no Ceará salta de 55% para 84% em 10 anos

Quase metade das crianças de 10 a 13 anos no Estado tem celular para uso próprio; Ceara é o quarto estado no país onde idosos menos acessam a internet
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Imagem de apoio ilustrativo: 49% das crianças cearenses entre 10 e 13 anos têm ceular próprio (Foto: Caminhos da Reportagem/TV Brasil)
Foto: Caminhos da Reportagem/TV Brasil Imagem de apoio ilustrativo: 49% das crianças cearenses entre 10 e 13 anos têm ceular próprio

A inserção das crianças ao uso de ferramentas online tem acontecido cada vez mais cedo no Ceará. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nessa quinta-feira, 24, indicam que o percentual de cearenses entre 10 e 13 anos que acessam a internet saltou de 55,9% em 2016 para 84,4% no ano passado.

LEIA TAMBÉM: Tartaruga ameaçada de extinção é resgatada pela terceira vez em Aquiraz

A informação faz parte da PNAD Contínua: Características de Tecnologia da Informação e Comunicação (PNAD TIC) 2024, que analisa a conexão à internet, serviços de streaming, sinal de streaming, rádio e outras ferramentas em todo o Brasil.

Tanta conexão tem causado preocupação nos pais, que precisam redobrar a atenção sobre o que os filhos estão acompanhando online. Esse foi o caso de Marina de Almeida, 43, que deu o primeiro celular para o filho, Pedro Victor, 13, ainda durante a pandemia da Covid-19.

A confeiteira conta que durante o isolamento, a escola passou a enviar as atividades por grupos de Whatsapp, o que motivou a concessão do primeiro aparelho a Victor. Apesar de ter o próprio celular, todo o uso de Victor é constantemente monitorado, com uso das contas da mãe para jogos e outras atividades online, além da proibição do uso de redes sociais.“A gente utiliza a minha conta do Google para ter acesso ao histórico, ao que está sendo visto, também para colocar chaves de segurança… Os jogos a gente limita aos que não têm violência. [...] Ele não tem rede social também para evitar essa questão de ficar conversando com estranhos”, conta Marina.

Além do conteúdo, o tempo de tela exige acompanhamento constante. No caso de Victor, Marina conta  investir em atividades que ele gosta, como idas ao cinema, banhos de piscina e churrascos em família para tirar o filho da frente do celular.

Para doutora em comunicação Brenda Guedes, essa atração para fora das telas é responsabilidade também do Estado, que deve atuar com investimentos em locais para o convívio infantil e garantia da segurança pública.

"Se a gente vai dizer 'não pode ficar nas telas tanto tempo' precisa haver para onde enviar as crianças. Essas medidas têm que ser aplicadas tanto na qualificação dos equipamentos quanto na segurança experimentada ao estar fora de casa. Muitas vezes o estar na tela para uma deterinada família, tem haver com uma medida de segurança para aquela criança", pontua a co-fundadora da a rede de pesquisa em comunicação, infâncias e adolescências (Recria).

De acordo com a pesquisa, esse crescimento pode estar relacionado ao aumento também do número de jovens com celulares nas mãos. Atualmente, 49,4% dos cearenses entre 10 e 13 anos possuem um telefone para uso pessoal, 16 pontos percentuais a mais que em 2016, quando o levantamento começou.

Segundo Guedes, as crianças estão sendo inseridas cada vez mais cedo no uso da internet não só para login em redes sociais ou plataformas de jogos, mas também para usufruto de direitos fundamentais, como por exemplo, o acesso à educação.

"A gente tem uma série de políticas que estão incentivando a inclusão digital, e isso por motivos que são importantes, como acesso a experiências de cidadania digital. Para usufruir de uma série de direitos as pessoas precisam de uma conectividade. [...] E quando a gente fala de internet, a gente não fala exclusivamente de redes sociais", explica.

Os dados ainda mostram um déficit em comparação com a faixa etária seguinte, de 14 a 19 anos, onde 83,9% dos cearenses têm celular para uso pessoal. A nível nacional, a disparidade é de 56,5% para 86,7%, respectivamente.

Esta foi a primeira edição onde os pequenos foram ultrapassados pelos usuários entre 50 e 59 anos, que marcaram 84,8%. As crianças agora são o segundo grupo menos conectado no Estado, à frente apenas dos idosos, com 59,3% de seu público online.

Ceará é o 4° estado no país onde idosos menos acessam a internet, diz IBGE

A Pnad TIC também demonstrou que, apesar de fortemente disseminado entre os jovens, o acesso à internet ainda é um desafio para os idosos no Ceará. Segundo a pesquisa, apenas 59,3% dos cearenses a partir dos 60 anos frequentam ambientes online, quarto menor índice entre todos os estados do país.

Dentre as 27 unidades da federação analisadas, apenas Maranhão, Paraíba e Piauí tiveram resultados menores que a Terra da Luz, onde respectivamente 58,7%, 58,8% e 59% dos idosos afirmaram ter acessado a internet nos três meses anteriores ao levantamento.

Questões financeiras, falta de disponibilidade nos locais que os idosos frequentam e ausência de tempo estão entre os motivos listados, entretanto, o principal desafio ainda é não saber mexer em aplicativos e sites online.

Esse era o caso de dona Jane Maria, 63, que pouco familiarizada com os recursos, precisava da ajuda da filha até para pedir um carro por aplicativo. A aposentada conta que chegava a se sentir refém da tecnologia, o que por diversas vezes restringia o uso.

“De repente eu ficava dependente. Precisava de um uber e ligava para a minha filha ‘ei minha filha dá para pedir um uber para eu ir para a igreja?’”, conta a ex-professora.

O receio de Jane com a internet foi solucionado apenas este ano, mais especificamente no último mês de maio, quando ela participou da Jornada da Capacitação Digital, curso que ensina idosos a acessarem a internet de forma simples e segura.

Promovida pela Secretaria dos Direitos Humanos do Estado do Ceará (Sedih) em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), a capacitação visou tornar os alunos mais independentes e facilitar atividades do dia a dia, como pagamentos online e uso de redes sociais.

De acordo com a coordenadora de políticas públicas para a pessoa idosa da Sedih, Vyna Leite, uma das maiores preocupações dos participantes era a prevenção contra golpes online, aplicados via aplicativos de mensagem ou falsos sites de órgãos oficiais.

“O maior desejo deles sempre foi mexer em aplicativos. Eu tenho celular, tenho Whatsapp, mas não sei mexer. [...] Então se chega uma mensagem com a foto de uma pessoa da família, ele tem que olhar se a pessoa é realmente da família. Às vezes é só a foto, mas o número é diferente. O que propomos no curso é que eles prestem atenção nessas mínimas coisas”, explica Leite.

Apesar de ainda baixo, o percentual de idosos acessando a internet no Estado cresceu 7,1 pontos percentuais em comparação à 2023, quando o índice era de 52,2%. De acordo com Leite, a Sedih também procura novas parcerias para que os cursos possam chegar à outras regiões do Estado além da Capital.

LEIA TAMBÉM: Maranguape é a cidade com maior índice de homicídios no País, aponta pesquisa

O que você achou desse conteúdo?