Imagens feitas por drones teriam flagrado o momento em que policiais militares teriam recebido propinas de traficantes na região da Grande Messejana, em Fortaleza. Os registros estão entre as provas utilizadas para a deflagração da operação Kleptonomos, que ontem, 29, cumpriu ordens judiciais contra 16 PMs.
O POVO teve acesso a documentos que mostram que, em novembro de 2022, a Coordenadoria de Inteligência (Coin) da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) recebeu denúncias anônimas dando conta de um esquema de corrupção policial na comunidade do Por do Sol, localizada no bairro Coaçu.
Em seguida, também foi constatado que as condutas criminosas se davam ainda no Residencial dos Escritores, localizado na Paupina. A Coin repassou as informações ao Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público Estadual (MPCE), que conduziu as investigações.
Entre as várias situações relatadas estava uma em que traficantes diziam que PMs estavam exigindo 600 reais de "cota", ou seja, propina para permitir o tráfico de drogas na região. Os criminosos, porém, reclamaram do valor, o que fez com que, conforme a denúncia, os policiais efetuassem disparos de arma de fogo contra eles. Uma pessoa teria sido atingida na perna.
Já em um outro episódio, traficantes disseram ter pagado R$ 150 a uma composição policial. "Os cana mandou deixar a cota fácil, ele vai o balão do outro lado lá, deixar fácil pra ele não dodar dentro da comunidade" (Sic), chegou a dizer um dos criminosos. "Foi sal a cota dos vermes saiu fora", consta em outro momento, indicando que a propina foi paga.
Em dezembro de 2022, equipes da Coin e da Assessoria de Inteligência da PM-CE utilizaram um drone para monitorar possíveis ações criminosas praticadas por agentes de segurança na região. Dentre as imagens feitas, há o registro do momento em que um homem encosta rapidamente na porta do motorista de uma viatura. Mais adiante, esse homem foi flagrado entregando, rapidamente, objetos a pessoas e, em seguida, contando cédulas de dinheiro, o que, para o MPCE, configura indícios de que ele era traficante.
"Frise-se, ainda, que, por ocasião dos áudios repassados pelo informante, é possível verificar que os traficantes afirmam que naquele dia duas viaturas passaram para receber 'cota', sendo que a última passou para receber a propina por volta das 10h30min, informação esta que se coaduna com as filmagens mencionadas acima", escreveu o Gaeco em um dos relatórios referentes à investigação.
A partir do cruzamento dos dados do sistema de rastreamento das viaturas com a escala dos policiais, foi possível identificar os agentes de segurança que estariam envolvidos com as práticas criminosas. Além disso, outros elementos de prova foram utilizados pelo MPCE para identificar os ilícitos que teriam sido praticados pelos agentes de segurança, a exemplo de interceptações ambientais nas viaturas policiais e a quebra do sigilo telemático.