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Violência contra crianças: 31% admitem bater para disciplinar no Nordeste
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Violência contra crianças: 31% admitem bater para disciplinar no Nordeste

Quase metade afirma gritar ou brigar com a criança (48%) e dizer coisas como "espera para ver o que vai acontecer" ou "você vai ficar sem celular" (47%) com frequência
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VIOLÊNCIA pode causar estresse tóxico e impactos negativos no desenvolvimento (Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO)
Foto: Lorena Louise/Especial para O POVO VIOLÊNCIA pode causar estresse tóxico e impactos negativos no desenvolvimento

Dar palmadas, beliscões ou apertos ainda fazem parte dos métodos de disciplinar crianças de 29% dos brasileiros, segundo pesquisa encomendada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e realizada pelo Datafolha. No Nordeste, o percentual de pessoas que admitem bater “sempre ou de vez em quando” sobe para 31%.

A pesquisa “Panorama da Primeira Infância: o que o Brasil sabe, vive e pensa sobre os primeiros seis anos de vida” aplicou um questionário para 2.206 pessoas por todo o Brasil, sendo 822 responsáveis diretos por crianças de até seis anos — período da primeira infância. Os dados foram adiantados de forma exclusiva para a Rede Jornalistas Pela Primeira Infância. Pesquisa não dispõe de dados por estado. 

Em um dos quatro módulos, a pesquisa perguntou aos brasileiros sobre métodos disciplinares. Apesar de apenas 20% da população geral e 17% dos responsáveis por bebês e crianças acharem bater um jeito eficaz de lidar com a indisciplina, a porcentagem dos participantes que de fato utilizam esse método é maior.

Os métodos mais utilizados, segundo relato dos participantes da pesquisa, é “conversar e explicar o erro” e “acalmar a criança e retirá-la do lugar/situação”, com 95% e 94% dos adultos nordestinos afirmando usar sempre ou de vez em quando.

Quase metade afirma gritar ou brigar com a criança (48%) e dizer coisas como “espera para ver o que vai acontecer” ou “você vai ficar sem celular” (47%) com frequência na região Nordeste. A porcentagem também é maior do que a média brasileira (43%).

A percepção sobre o impacto da violência física no desenvolvimento das crianças também foi questionada para responsáveis por bebês e crianças pequenas e para aqueles que responderam usar esse método com frequência.

Cerca de 40% de quem admite bater acredita que a violência física vai trazer “maior respeito pela autoridade e ensinar a criança a obedecer”. Ao mesmo tempo, 33% desse grupo percebe que o método leva a “comportamentos agressivos”.

O maior percentual daqueles que acreditam que violência física gera maior respeito pela autoridade está entre os homens com escolaridade até o ensino fundamental. Entre os responsáveis, 47% das mulheres acreditam que a violência física resulta em comportamentos agressivos nas crianças.

Esse índice cai para 36% entre os homens. Enquanto 31% delas declararam que a violência gera dificuldade de relacionamento, somente 21% dos homens concordam com isso.

Violência gera danos no desenvolvimento

“Nenhuma forma de violência contra criança é inofensiva. Isso é um fato”, diz Paula Perim, diretora de Sensibilização da Sociedade da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Na apresentação dos dados, a diretora ressaltou a barreira cultural que ainda precisa ser transposta no Brasil quanto à violência contra crianças.

“As pessoas dizem que isso é por amor. Políticas públicas e a legislação, como a Lei Menino Bernardo (antes conhecida como Lei da Palmada), ajudam a chamar atenção para a discussão. Acho que é mais conseguindo explicar o impacto e repetindo [que há resultados], a mudança cultural só vai acontecer com repetição”, afirma.

A CEO da Fundação, Mariana Luz, também lembrou do conceito de estresse tóxico e como ter contato com estressores por um longo período de tempo pode influenciar o desenvolvimento global da criança. “É justamente essa violência repetida por períodos prolongados e com muita intensidade”, explica.

Pesquisa mostra desconhecimento sobre primeira infância

A pesquisa revelou ainda que mais da metade da população brasileira (84%) não considera os anos iniciais como fundamentais para o desenvolvimento humano.

Para 41% dos entrevistados, o maior pico do desenvolvimento físico, emocional e de aprendizagem ocorre na idade adulta, a partir dos 18 anos. Outros 25% acreditam que é na adolescência, entre 12 e 17 anos. Apenas 15% citaram a primeira infância.

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