A Prefeitura de Fortaleza tem se movimentado para decidir qual será o futuro da Ponte Metálica, popularmente conhecida como Ponte Velha, equipamento histórico na comunidade do Poço da Draga. Entre os possíveis desdobramentos da discussão está a demolição da estrutura, que já foi tema de consulta ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
LEIA TAMBÉM: Fortaleza recebe o 2º Festival Agosto da Juventude com programação gratuita
A informação foi confirmada pelo Iphan ao O POVO durante esta quarta-feira, 6. De acordo com a pasta federal, a procura foi feita pela Secretaria Regional 12, responsável pela região da Praia de Iracema, onde a ponte está localizada. Antes de procurar o Iphan, a pasta solicitou que a Defesa Civil de Fortaleza fizesse uma vistoria no local, concretizada no dia 8 de maio.
De acordo com o Instituto, a ponte não possui nenhum tipo de proteção que inviabilize um projeto de demolição. Entretanto, o órgão faz ressalva sobre a importância histórica da estrutura para a cidade, e pondera que outros caminhos podem ser tomados.
“O Iphan reconhece a importância da ponte para a história da cidade e que deveriam ser verificadas outras alternativas como a consolidação estrutural e/ou manutenção como ruína histórica. Para tanto, é possível uma série de ações nos mais diferentes níveis da federação, incluindo estados e municípios”, disse a pasta, em nota.
Além do Iphan, a Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU-CE) também foi procurada pela Prefeitura, esta durante o mês de junho. Com a SPU, a gestão busca autorização para a demolição da ponte, já que a mesma se encontra em uma praia, terrenos pertencentes ao Governo Federal. O POVO demandou a SPU a respeito de atualizações sobre o pedido de autorização da prefeitura, mas não houve retorno.
A procura foi informada ao Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico-Cultural (COMPHIC) durante reunião realizada no dia 11 de julho. A proposta gerou surpresa entre os participantes, até então leigos à pauta, incluindo a titular da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), Helena Barboza, que informou buscar maiores esclarecimentos, conforme registrado em ata.
O documento aponta que a proposta não foi bem recebida pela direção do Conselho, que afirmou entender os problemas atuais da ponte, mas discordou que a solução seja demoli-la.
Apesar do registro em ata e da confirmação dos órgãos federais, a Prefeitura nega qualquer pretensão de demolir a Ponte Velha. Em nota enviada ao O POVO, a gestão informou que as consultas realizadas compõem estudo preliminar sobre o que pode ser feito com o equipamento.
O executivo municipal também reinterou a preocupação destacada pelo Comphic, e afirma que o projeto para a ponte, seja de finitude ou revitalização, será discutido com os moradores da região.
Apesar de não ser tombado, a estrutura é importante registro da história da cidade, já que foi o primeiro porto de Fortaleza, inaugurado em 1906. O equipamento também possui forte ligação com a comunidade do Poço da Draga, que tradicionalmente o utilizada para a prática de esportes e atividades de lazer.
“As consultas realizadas a instituições como o Iphan se dão dentro do estudo preliminar para basear a gestão quanto às diversas opções de intervenções estruturais que estão em análise para o equipamento. Além disso, reforçam o compromisso e preocupação da gestão com a segurança do espaço atualmente, que apresenta desgaste estrutural e, a despeito dos avisos de interdição, seguem sendo utilizados por parte da população”, complementa.
A situação da Ponte do Poço da Draga é bastante delicada. Interditada em agosto de 2023, após um pedaço de concreto da cobertura cair na cabeça de um motorista de aplicativo, a ponte aguarda há dois anos por uma definição, ao passo em que sua já comprometida estrutura se degrada ainda mais.
O local foi alvo de vistoria da Defesa Civil no último dia 8 de maio, que apontou avanço da degradação por corrosão marinha em todos os componentes metálicos, ruptura de pavimento e passarela com risco de queda, ausência parcial de pilares de sustentação em vários trechos, infiltrações, oxidação e ferrugem, além de sinais de colapso iminente e instabilidade grave.
A preocupação maior está no uso irregular da ponte pelos visitantes da Praia de Iracema, que mesmo com risco de desabamento, continuam frequentando o espaço. A existência de placas e avisos sobre a interdição do local não é suficiente para afastar os banhistas, que sobem ao local para prática de saltos ao mar, pesca e apreciação da vista.
Confira imagens da movimentação na ponte, mesmo sob interdição:
A plataforma ainda é símbolo da resistência de uma das mais antigas comunidades de Fortaleza, originada em um contexto de fixação do porto, que atraiu pescadores, marisqueiros, trabalhadores portuários e fugitivos da seca vindos do interior do Estado.
A violação tem sido facilitada pela ausência de guardas municipais na ponte, conforme constatado pelo O POVO em visita recente ao equipamento.