Não é incomum avistar cães e gatos perambulando pelas vias da Capital. Os animais são abandonados por antigos tutores ou criados por pessoas em situação de rua. Outros já nasceram sem lar. O POVO foi a vários bairros de Fortaleza para analisar a situação.
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Alunos do Porto Iracema das Artes, no bairro Praia de Iracema, e pessoas que transitam no entorno do local, já sofreram ataques de cachorros de rua. Os animais também atacam os gatos que ficam no local.
Os cães são de pessoas em situação de rua. Alguns ficam presos às grades, enquanto outros transitam pela via e entre os carros.
Uma vítima que não quis se identificar relata que estava se deslocando entre o Dragão do Mar e o Hub Porto do Dragão, quando foi atacada: “Cinco cães vieram correndo furiosos e me atacaram, fiquei paralisada gritando e pedindo socorro, até que um rapaz veio me socorrer. Passei muitos dias com uma sensação de medo que me impediu de dirigir, de trabalhar dentro de uma normalidade de funcionamento mental”.
No bairro Barra do Ceará, a concentração de animais abandonados parece pior. Entre cadeiras e mesas das barracas de praia, cães e gatos circulam livremente, correndo risco de atropelamento nas vias e de maus-tratos pelas mãos humanas.
O garçom Aurélio Viana, conta que nos dois anos que trabalha em uma das barracas, sempre houve o abandono de cachorros no local.
“A gente bota água e comida. Quando eles veem que a gente tá fechando, começam a latir. Eles acompanham a gente, ficam pela porta [de casa]”. Além do cuidado com a alimentação dos cães, Aurélio conta que a proprietária do local também compra injeções para evitar que as fêmeas engravidem.
“De vez em quando, aparecem aqueles agentes com aquelas coleiras antipulgas. Eles deixam algumas reservas e a gente coloca”.
O garçom comenta que há um bom tempo não tem uma ação da prefeitura: “Eu acho que faz um bom tempo que não tem mais esse apoio aos cachorros (...) Se não for a proprietária comprando injeção para dar [para a cachorra], fica um monte de cachorro aqui no cio”.
A proprietária da barraca de praia e comerciante, Maria Silvana de Souza, conta que os animais são abandonados e acolhidos por ela e sua equipe: “Já foram muitos, mas [alguns] sofreram acidentes e até morreram”.
Ela garante que os animais não atacam ninguém. “O pessoal fica aí insultando eles, aí quando eles se sentem ameaçados vão querer se defender. Eles [os cachorros] eram pra ter mais apoio”, lamenta.
A comerciante Elma Cândido, proprietária de outra barraca de praia, comenta que as pessoas vêm passear com os cachorros e aproveitam para abandonar os animais: “Dão um balão nos bichinhos e vão embora”.
Elma faz um apelo: “Eu queria muito pedir ajuda para castrar as fêmeas, são muitos gatos e cachorros. [Pedir] ajuda com alimentação também, porque ele não vive só de praça. [Eles] precisam comer, beber água e de cuidado”.
Ao O POVO, o protetor animal e titular da Secretaria Municipal de Proteção Animal (SPMA), Apollo Vicz, explica que o plano de ação atual é a castração e vacinação dos animais em situação de rua.
"Todas as políticas públicas que nós temos voltadas à causa animal, até hoje elas são destinadas unicamente para animais tutorados. Nós nunca tivemos um cuidado especial para aqueles que vivem nas ruas. O desafio maior é acabar com a ignorância das pessoas".
Segundo Apollo, a SPMA deu início a um Estudo Técnico Preliminar (ETP), para o novo contrato com o programa pet móvel. “Esse contrato não abraça os animais em situação de rua”.
Apollo afirma que, no novo contrato, uma cirurgia de castração menos invasiva e um pós-operatório mais prolongado serão ofertados. “[Assim] a gente não fica dependendo só dos protetores independentes, até porque eles já estão superlotados”.
“A gente tá levando palestras educacionais com legislação e direito animal, posse responsável, epidemiologia, com foco em doenças zoonóticas, para que as pessoas entendam que um animal é algo muito sério”, explica.
Outro ponto que o protetor animal destaca é o período curto de campanha da vacinação antirrábica, que acontece sempre no final do ano, entre os meses de outubro e novembro. “A gente tem que fazer a vacinação o ano inteiro (...) no último evento do Parada Pet, mais de 20 animais que sofreram maus-tratos foram adotados”.
Um censo para quantificar a situação dos animais abandonados na Capital deve ser feito, segundo Apollo, mas não há prazo para início do levantamento.
A relação deverá conter a quantidade de abrigos em Fortaleza e animais residentes nos mesmos, quantitativo dos animais em situação de rua, quantos deles são castrados e não, esquema vacinal, etc.
O professor de clínica médica de cães e gatos da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Bruno Queiroz Pinheiro, explica que as principais causas de ataques de cães são dor, medo e defesa de território.
“Animais que são submetidos a maus-tratos e socialização inadequada, ou então criados em ambientes muito restritos, têm uma maior tendência a apresentar comportamentos agressivos”.
Confira abaixo os sinais que um animal pode estar prestes a atacar:
O recomendo é evitar contato visual com o animal, porém ficar sempre em alerta.
Em caso de ataques, Breno afirma que o recomendado é lavar o local imediatamente com água corrente e sabão neutro. “A gente tem que tentar reduzir infecções. Depois disso é necessário procurar o atendimento médico o mais rápido possível, mesmo quando o ferimento pareça pequeno”.
Por não saber o histórico vacinal do animal, existe o risco de transmissão de zoonoses. “Muitas vezes o médico pode indicar aplicação de soro, vacina antirrábica e antitetânica”.
Breno pontua que campanhas de conscientização podem ajudar a prevenir os ataques e reduzir a população animal em situação de rua.
“A gente tem que falar sobre isso e da guarda responsável. Animais preferencialmente em guias, nada de passear com eles soltos”.
“Também é necessário buscar sempre que possível um controle populacional desses animais errantes, com programas de castração e adoção assistida (...) É muito interessante que seja feito o oferecimento de espaços públicos adequados para aqueles animais que têm tutor e possam passear, e aqueles que não têm, possam se abrigar”, conclui.