Ex-funcionários da Rede de Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) estão cobrando a Prefeitura de Fortaleza por direitos trabalhistas atrasados há mais de um mês. A demanda surge após a demissão de colaboradores dos cinco equipamentos na cidade, nos bairros Mondubim, Jangurussu, José Walter, Barra do Ceará e Pici, no último dia 30 de junho.
Cerca de 300 profissionais foram demitidos no final do primeiro semestre, entre o encerramento do contrato de gestão do Instituto Cuca (IC), até então responsável pela gestão dos equipamentos, e a entrada do Instituto Juventude pela Vida (Ivida), atualmente à frente dos espaços.
Segundo os ex-funcionários, pouco antes do encerramento do contrato, a direção do IC alegou dificuldades financeiras, e que por falta de verba, não teria como arcar com os direitos trabalhistas dos colaboradores. Havia também a promessa de recontratações dos profissionais demitidos após à entrada do Ivida, o que, segundo relatos, não aconteceu com a maioria.
“Foi feita uma reunião informando que as contas não estavam fechando, que não tinha dinheiro para seguir em frente e que o nosso contrato iria terminar no dia 28/06 e quando chegasse essa data todo mundo ia ser desligado e não ia ter verba para ser pago ninguém”, conta Alice Machado, ex-funcionária da Rede Cuca.
Em relato ao O POVO, a ex-gestora de Recursos Humanos da Rede conta que foram quitados apenas os salários dos funcionários, restando pendentes os pagamentos de multas rescisórias e outros direitos trabalhistas.
Com a ausência do dinheiro, diversos profissionais têm enfrentado dificuldades para equilibrar as contas cotidianas, como água, luz, alimentação, entre outras. O receio dos trabalhadores é de que, com os juros que incidem sobre o atraso, o pagamento dos direitos trabalhistas se torne insuficiente para quitar as dívidas.
A ingrata surpresa de não receber o que lhe é de direito também compromete por vezes o planejamento de toda uma vida. Um ex-funcionário, que trabalhava no Cuca há mais de 10 anos e optou por não se identificar, conta que estava juntando dinheiro para comprar o próprio carro, mas precisou adiar a conquista devido à demissão.
“Eu tenho um sonho que é comprar o meu transporte. Necessito disso. Meu sonho tá indo embora. E por uma resposta que não sai. Meu filho há pouco tempo casou e não consegui dar o presente dele de casamento. Sabe o que é isso para um pai?”, lamenta.
O caso foi levado até a Procuradoria Geral do Município de Fortaleza, que tem mediado as negociações entre os trabalhadores e a Secretaria da Juventude (Sejuv), responsável pelo acompanhamento da administração do Cuca.
Entretanto, os profissionais alegam dificuldades na comunicação também com a PGM, que estipulou um prazo inicial de 10 dias para sentar à mesa com Sejuv e a comissão representante dos profissionais, o que, mais de duas semanas após o contato inicial, ainda não aconteceu.
O temor dos profissionais agora é de que a negociação se arraste por ainda mais tempo, a fim de enfraquecer o grupo, e que a gestão tente parcelar ou até mesmo remover parte dos direitos devidos.
“A gente tem escutado conversas de que há possibilidade de que eles queiram parcelar por até um ano o que nos devem, de que queiram que a gente abra mão dos 40% de multa de ressarcimento…”, pontua um dos líderes do movimento, que optou por não se identificar.
Em nota, a Secretaria Municipal da Juventude informou que o não pagamento das rescisões dos ex-funcionários do Instituto Cuca é de responsabilidade do próprio instituto, que teria gastado "os valores referentes às garantias trabalhistas em outras áreas, e não repassou para a conta com este fim específico".
De acordo com o informe, a gestão do prefeito Evandro Leitão recebeu da gestão de José Sarto, em janeiro deste ano, dívida de cerca de R$ 5 milhões, referente aos direitos trabalhistas.
"A gestão de Evandro Leitão pagou mensalmente os direitos dos funcionários referentes a 2025 - até o fim do contrato com o Instituto. A despeito da irregularidade do próprio Instituto, dia 22 de julho, foi realizada reunião com representantes do Instituto Cuca e da Procuradoria-Geral do Município (PGM). Na ocasião, foram iniciadas as tratativas para resolver as pendências financeiras", completa.